quarta-feira, dezembro 17, 2008

PARADOXO


Duas noites passadas, acordei com o tiquetaque da chuva nas janelas: durante a noite, levantara-se uma ventania tremenda, a temperatura baixara e o vento soprava com bastante força. Cobrindo o céu de uma luz invernal. A chuva molhava os vidros, querendo molhar meu rosto adormecido de sonhos de moça perdida mas, também trazendo a saudade de tudo o que vivi.
Assim continuava a noite...as lembranças que nos fazem chorar ou sorrir e as emoções que nos dão vida.
Assim continuei pela noite fora, onde procurei encontrar um tema que praticamente não figura em nunhum dos meus textos. No meu pensamento eu chamo-lhe (o paradoxo do amor) ou ( a dor do desencontro). Em linhas gerais é o seguinte.
Toda a relação íntima em que podemos abrir-nos e conseguir o encontro e a entrega das coisas mais gratificantes que podemos viver. Nela procuramos contacto, amor e intimidade, porque são estas as situações que mais nos enriquecem, que nos fazem sentir vivos, as que nos enchem de força e de vontade.
O paradoxo começa quando nos damos conta de que, ao mesmo tempo, estas relações são precisamente as que nos provocam maior sofrimento e maior dor, muítissimo nais do que qualquer outra.
Quando nos abrimos à intimidade, ao amor, ao encontro, expomo-nos também a sofrer e a sentir dor.
A força que naturalmente nos impele a deixar-nos levar pelas nossas emoções e a gerar o encontro enfrenta a tendência natural de cuidar de nós para não sofrer; porque intuímos, com certeza, que se nos abrimos com uma peassoa isso concederá ao outro a possibilidade de nos ferir.
Todos temos uma personalidade, uma couraça que não quer assumir o risco de ser magoada e, portanto se fecha. Este é o trabalho que propomos: observar a nossa maneira especial de estar no mundo, termos consciência dos nossos papéis em que ficámos atolados.
O paradoxo continua porque não hà melhor oportunidade do que esta relação íntima potencialmente destrutiva para voltar a encontrar-nos e para desfazer as nossas máscaras habituais.
Assim, acabamos muitas vezes por resolver este paradoxo evitando o sofrimento, impedindo-nos o amor e privando-nos do encontro íntimo.
Na nossa intenção de dizer não à dor, dizemos não ao amor. E, o que é pior, dizemos que não a nós mesmos. O problema apresenta-se quando nos identificamos com a nossa couraça e nos sentimos seguros assim. Protegemo-nos dos nossos sentimentos incómodos aprendendo a não sentir, a desligar-nos das nossas necessidades, e as defesas tornam-se uma identidade que nos separa do que sentimos e nos impede de amar. Assim amanheceu!!!.E pensei. Quando um coração se parte, que barulho faz? Será o mesmo rumor abafado de uma esponja ensopada que cai ao chão, ou um silvo de um foguete molhado pela chuva? Eu sentia-me uma ave migratória, era hora de voltar ao ninho.