terça-feira, maio 20, 2008

Caminhando


Sabado. Caminhava a passos lentos pela praia grande em Sintra. E pensava. O amor tem o seu próprio mistério, tentar desvendá-lo é um erro, tentar apressá-lo um crime. Se um dia destes te apetecer voltar para os meus braços e construir um sonho comigo, podes bater à porta porque estarei por aqui, mergulhada numa paz tranquila e nova que me ensinaste sem saber.

O amor é mesmo assim; damos aos outros o nosso melhor sem sequer o saber. E tudo o que damos nunca se perde, nada se perde, apenas se transforma e se guarda numa caixa que só o futuro conhece e desvenda.

Pode haver amor sem entendimento? Claro que pode. Assim como pode haver o maior entendimento sem uma réstia de amor. O que é verdadeiramente difícil é conseguir juntar as duas coisas.

E como é que sei tudo isto? Porque acredito possuir o mapa secreto daqueles que amo. E tenho o teu mapa dentro da minha cabeça e do meu coração.Todos os dias o estudo e todos os dias acompanho as suas mudanças. E mesmo quando, por pudor ou cerimónia, as guardo para mim, estou atenta e vigilante, porque eu sei que tenho um papel na tua vida e sei que tu tens um papel na minha. O meu, já o sei de cor. O teu, nem tu nem eu fazemos ideia, mas um dia, chegaremos lá. Eu pinto o mundo com palavras porque, como todos os sonhadores, gostava que o mundo fosse outro lugar, mais belo e mais fácil, menos sujo e injusto, com menos lixo nas ruas e no coração das pessoas. Pinto o mundo, não como ele é, mas como gosto de imaginar que pode ser.

Foram as pessoas que olharam o mundo e sonharam que ele podia ser diferente que o conseguiram mudar. Partiram em caravelas, inventaram a electricidade, construíram caminhos- de- ferro e aviões, transformaram desertos em jardins, florestas em cidades e foram à lua, mas não conseguiram transformar o homem por dentro, porque só há duas coisas que nunca mudam no coração dos homens: o ódio e o amor. Hoje não consigo fixar os olhos no mar, a luz está demasiado forte e, ao reflectir-se na água, irradia milhões de pontos de luz que cegam o olhar temerário. Se tu estivesses aqui, pintaria como uma louca, o dia inteiro, sem parar, até ao cair da noite. Não sou dona do tempo nem de nenhuma verdade, a não ser daquilo que sinto. Mas o que sinto está cá dentro, só eu o vejo, e mesmo que te explique com todas as palavras do mundo, nunca saberei se me expliquei bem e, caso o tenha feito, se entenderás o que te digo exactamente da forma como te quis dizer, por isso é que às vezes fico calada e espero que o tempo resolva os enigmas mais complexos - ou mais simples - da existência. Todos os olhos que me tentam prender se perdem no meu vazio, porque em nenhum vejo os teus olhos. Assim vou caminhando, e perdendo os meus pensamentos, no infinito mar.

sexta-feira, maio 02, 2008

Fuga


Um guerreiro da luz que confia de mais na sua inteligência acaba por subestimar o poder do adversário.

É preciso não esquecer: há momentos em que a força é mais eficaz que a sagacidade. E quando estamos diante de um certo tipo de violência, não há brilho, argumentos, inteligência ou charme que possam evitar a tragédia.

Por isso, o guerreiro nunca subestima a força bruta: quando ela é irracionalmente agressiva, retira-se do campo de batalha até que o inimigo desgaste a sua energia.

Contudo, é bom deixar bem claro: um guerreiro da luz nunca se acobarda. A fuga pode ser uma excelente arte de defesa, mas não pode ser usada quando o medo é grande.

Na dúvida, o guerreiro prefere enfrentar a derrota e depois curar as suas feridas - porque sabe que, se fugir, está a conferir ao agressor um poder maior do que ele merece.

Ele pode curar o sofrimento físico, mas será eternamente perseguido pela sua fraqueza espíritual. Perante alguns momentos difíceis e dolorosos, o guerreiro encara a situação desvantajosa com heróismo, resignação e coragem. Nós dizemos a verdade dolorosa ao próximo, porque a queremos esconder de nós próprios. Nós mostramos a nossa força, para que ninguem possa ver a nossa fragilidade. Por isso, sempre que estiver a julgar o seu irmão, tenha consciência de que é você quem está no tribunal.

Às vezes, esta consciência pode evitar uma luta que só trará desvantagens. Outras vezes, porém, não existe saída, resta apenas o combate desigual.