sexta-feira, setembro 30, 2005

É noite

E noite, uma noite sem lua. Os únicos clarões no horizonte luzeiros são os da minha alma.
Por entre as dores da minha alma construídas sobre estacas, percorro os trilhos do meu espírito.Fico só, em casa, à luz de um candeeiro que ilumina meu rosto triste. Apesar da noite no exterior exibe os seus argumentos, e após a caminhada do meu espirito, por caminhos tormentosos, e veredas, sob pedras, poeira e terra, este encontro e o calmo ambiente, convida-me, a sentar no frio chão de madeira, a esperar pelo que aconteça. Mas não acontece nada.
Parece que, indiferente à minha presença, deixam-me entregue a mim própria e aos meus desígnios, e sou levada a sair. Os candeeiros da rua fere os meus olhos e obriga a semicerrar ligeiramente as pálpebras, protegendo-os da agressão. Caminho através das ruas de Sintra.
Várias pessoas surgem repentinamente e seguem-me por algum tempo, Riem-se muito e quando paro, escondem-se umas atrás das outras. Alguns, mais atrevidos, gritam algo, apontam, mexem, e logo desaparecem à minha frente numa alegre e despreocupada correria. Com esta panorâmica, meu coração amolece, depois de galgar as ruas de Sintra de lés-a-lés, tive a noção de como A vila é linda, é um caso raro de cuidada simbiose entre o antigo e o moderno em Sintra. Uma preciosidade. Claro que voltei para casa e, nesses momentos pensava que teria que marcar uma entrevista, a sós comigo mesma. Precisava primeiro dum sono reparador...Olho vivo, a maldade está em toda a parte!
Suspirei, e traduzi em forma sublime de verso: O oriente surgido do mar/ Ó minha ilha espiritual/ perfume solto no oceano dos meus sentimentos/ Como se fosse em pleno ar.

quarta-feira, setembro 28, 2005

INÊS


Há temas que nem a calendarização permite evitar. E um deles é precisamente o mito de INÊS de Castro. Pensando nela, chegam até mim ecos de várias emoções.
Não sei porquê. Se considerar o mito no seu signifícado mais verdadeiro - o de história sagrada, de história exemplar, de algo que ocorreu num tempo primordial e que narra acontecimentos que se tomam como modelos, difícilmente podemos aplicá-lo ao caso de Inês - Pedro, que é, antes de mais, uma ocorrência histórica devidamente registada e que depois foi alterada e embelezada pela fantasia: há aqui, pois, mais lenda que mito.
Mas ainda que façamos concessões, ainda que queiramos alargar o sentido da palavra mito para nela integrar a linda " INÊS", posta em sossego, eu pergunto-me - e aqui está a razão desta crónica - pergunto-me, dizia, se, na generalidade, é feita a leitura correcta. Porque enfim, mesmo em sentido lato, um mito, para o ser, tem de transmitir um modelo, tem de dizer-nos alguma coisa; portanto, tem de ser lido. Ora, no caso de INÊS DE CASTRO, parece-me que a leitura mais generalizada é do amor entre dois jovens, amor ardente, até ao fím do mundo; amor destruído por uma decisão tirânica e pelo machado sinistro do carrasco. A imagem essencial que nos surge é da jovem, inocente no seu amor, colhendo flores ou sentada junto da célebre fonte de coimbra. Adicionalmente, acrescenta-se-lhe a cena da súplica perante o rei, mostrando-lhe os filhinhos de tenra idade - cena que, é verdade, tem um pathos de tragédia grega.
No entanto não me parece que esteja aí o elemento essencial, o elemento cuja força e signifícado aproximam este episódio histórico de um verdadeiro mito. E para encontrarmos esse elemento teremos de deslocar o centro da gravidade da história, transferindo-o de Inês, sobre a qual sabemos muito pouco (ignoramos, até, se o seu amor era sincero), para Pedro. Porque, quanto a esse, sabemos bem da extensão e da intensidade do seu amor por Inês; sabemos o que ele fez depois da sua morte. E, com essa deslocação do centro de gravidade, aproximamo-nos daquilo que, atrevo-me a pensar, constitui o elemento verdadeiramente relevante e exemplar.
E que é este: apesar do que nos dizem ( magnifícamente) os poetas, o caso Pedro -Inês não é o de um fresco amor adolescente. Bem pelo contrário: é o caso de um amor maduro, que resistiu àquilo a que tantos amores não resistem: o tempo, o hábito e o desgaste.
Quando Inês morreu, os amantes viviam juntos havia, pelo menos, dez anos; e mais: ela já dera a Pedro quatro filhos ( nunca se fala do primeiro, D Afonso, porque morreu à nascença). Ora, uma mulher que engravidara e dera à luz quatro vezes, mormente em pleno século XIV, sem as vantagens da medicina e da cosmética modernas, não podia, de todo ser ainda uma fresca flor salpicada de orvalho. E, no entanto, Pedro continuava a amá-la. Continuou a amá-la toda a vida, apesar das suas aventuras sexuais.
Para mim, é aqui que reside toda a força do caso. Pedro- Inês e também todo o seu signifícado...mítico. O modelo do mito está aqui.
E - sempre na minha modestíssima opinião - a poesia também.

sexta-feira, setembro 16, 2005

Para Ti


Quando estou triste, é como se o destino me quisesse mostrar que o meu sofrimento é verdadeiro - e o universo sempre conspira a favor dos sonhadores. Respiro fundo. O assunto já não pode ser evitado. Falo para mim mesma de amor. O universo ajuda-me sempre a lutar pelos meus sonhos, por mais idiotas que possam parecer. Porque são os meus sonhos, e só eu sei quanto custa sonhá-los. A névoa - que paira amarela na minha cabeça, não me deixa ver o outro lado da razão. Será que é isto mesmo que eu quero? , pensei.
Porque eu começo a sentir as tempestades que os ventos.do amor trazem consigo. Eu começo já a sentir um furo na parede da represa.
- Amar é perigoso, por isso, só deveria amar quem estivesse por perto. Estou distraída, sim , minha mente voa. Gostaria de estar aqui com alguém que me deixasse o coração em paz, com alguém com quem pudesse viver este momento sem medo de o perder no dia seguinte. Então o tempo passaria mais devagar, poderíamos ficar em silêncio - já que teríamos o resto da vida para conversar.Eu não precisaria de me estar a preocupar com assuntos sérios, decisões difíceis, palavras duras.No meu quarto acendi uma vela.Fechei os olhos e repeti as invocações que aprendera no colégio. Depois comecei a pronunciar palavras sem sentido - enquanto me concentrava na imagem de Nossa senhora de Fátima em cima do meu altar. Aos poucos, o dom da língua do Latim foi tomando conta de mim. Era mais fácil do que eu pensava. Podia parecer uma idiota - murmurar coisas, dizer palavras que não significam nada para o meu raciocínio - mas a Senhora de Fátima estava a falar com a minha alma e a dizer coisas que eu precisava ouvir.
Chorei. Chorei como há muito tempo não o fazia. Quando senti que estava purificada o suficiente, voltei a fechar os olhos e rezei: Nossa Senhora, devolve-me a fé. Que eu também possa ser um instrumento do teu trabalho. Dai-me a oportunidade de aprender através do meu amor. Porque o amor nunca afastou ninguem dos seus sonhos..
Que eu seja companheira e aliada do homem que eu amo. Que ele faça tudo o que tem a fazer - mesmo longe estará sempre a meu lado . Em pensamento beijei-o com força. Ninguém saberia que naquele minuto de beijo estavam anos de busca, de desilusões, de sonhos impossíveis. Naquele minuto de beijo estavam todos os momentos de alegria que vivi.

sábado, setembro 10, 2005

Escolha


No que diz respeito ao amor, ser livre é condição essencial para que se possa fazer a escolha ideal. Mas todos sabemos que a liberdade total é uma das coisas mais difíceis de alcançar na vida.
Existem condicionalismos financeiros, sociais, familiares, traumas pessoais e íntimos. e muitos outros factores que por vezes nos encaminham para a pessoa errada...É bom fazer opções abstraindo de tudo o que nos rodeia. Ser livre significa desprender-se de todas as máscaras, falsas crenças e quebrar totalmente as amarras que nos ligam ao passado, seja ele distante ou recente. A capacidade de dar e receber afecto ajuda a esquecer experiências traumáticas do passado. Tento educar a minha mente, onde surgem novas vibrações que propiciam o desenvolvimento da energia mágica do amor. A vida afectiva depende de inúmeros factores. Os elementos que coduzem à felicidade começam a notar-se logo nos primeiros anos de vida. As experiências da infância determinam de alguma forma a maneira como se passa a encarar o amor. O comportamento dos pais, os medos, a relação com o sexo oposto, a violência, o ambiente escolar, as agressões físicas ou verbais, tudo isso pode marcar para sempre as reacções perante o amor. O primeiro passo que dei na minha vida para esquecer as experiências negativas, foi convencer-me que merecia ser amada.Todo o ser humano, em qualquer nível, em qualquer escala da vida, só tem um objectivo: ser feliz. Para se chegar a tal estágio, deve existir um perfeito equilíbrio interior, passando por muitos sofrimentos, em diversas fases da vida. Esse caminho a ser percorrido faz com que muitas vezes não se consiga atingir esse objectivo, e então desiste-se...quando isso acontece, é porque esse indivíduo não tem consciência plena daquilo que deseja, ou melhor, não tem perseverança na busca desse equilíbrio interior. Porém, uma vez alcançado, torna-se senhor de si. Ele passa a descobrir que toda a procura da verdade não está nas coisas nem nas pessoas. Está dentro de si mesmo, ou seja dentro de nós. Tente acertar numa relação duradoura, a vida é cheia de mudanças. Não arranje companhia que goste de folia. Há pessoas quando não estão perto dos seus amores, amam os amores que estão perto delas.