Em meu olhar estão as distâncias sem mistério que há entre as estrelas, e estão as estrelas luzindo na penumbra dos bairros da miséria, com as silhuetas escuras dos meninos vadios esguedelhados ao vento. Em seu olhar estão as neves eternas dos himalaias vencidos, e as rugas maceradas das mães que perderam os filhos na luta entre as pátrias e o movimento ulutante das cidades marítimas onde se falam todas as linguas da terra e o gesto desolado dos homens que voltam ao lar com as mãos vazias e calejadas, e a luz do deserto incandescente e tremula, e os gestos dos pólos, brancos, brancos, e a sombra das pálpebras sobre o rosto das noivas que não noivaram.

E os tesouros dos oceanos desvendados maravilhando com contos-de-fada à hora da ninfa, e os trapos negros das mulheres dos pescadores esvoaçando como bandeiras aflitas correndo pela costa de mãos jogadas pró mar amaldiçoando a tempestade: Todas as cores, todas as formas do mundo se agitam e gritam nos olhos do poeta. Do seu olhar, que é um farol erguido no alto promontório, sai uma estrela voando nas trevas, tocando de esperança o coração dos homens de todas as latitudes. E os dias claros, inundados de vida, perdem o brilho nos olhos do poeta , que escreve poemas de revolta com tinta de sol na noite de angústia que pesa no mundo, e nos seus olhos de água. Dedicada, ao mundo dos meus olhos de água.

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