O dia de ontem foi vivido, e pensado, intensamente; quase como um poema.
Cansada, cheguei da praia Grande -como se tivésse chegado a um sítio perdido na paisagem da imensa noite - pelas intermináveis e monótonas estradas que terminam, subitamente, em Rio de Mouro.
É-me sempre difícil chegar a Rio de Mouro. Aqui passo os meus dias; e, aqui, muitas vezes, volto à procura daquilo que sei ter morrido para sempre.
Quantas vezes me traiu, e amou, esta freguesia? Quantas vezes, com amargura, fugi dela?
O que destrói a terra destrói o corpo, disse alguém. A devastada paisagem fazia parte de um corpo cuja memória me é impossível apagar - corpo onde permanece ainda aceso o mistério da criança que fui.
Levantei-me cedo. Fui à junta médica mais uma vez. Almocei, meu relógio espíritual, mandou-me até ao mar. Sobre as rochas, à beira do Oceano, fez ouvir no povoado silencio de uma clara e serena tarde de Dezembro. O sol ia dissipando a transparente neblina e despindo a agreste paizagem dos veus da gaze que a envolviam. Cortavam o ar milhares de azas; pela terra os insectos zumbiam. As casas, pouco elevadas, brancas, amarelas, côr de rosa e azues, destacavam-se a pouco e pouco, d`entre as brumas, e recortavam-se umas no horizonte, outras no fundo escuro pinhal.
Lembrei-me, nesse instante, de alguém. Olho fixamente o fogo enquanto o passado também arde em mim - como um clarão de luz sobre o mar. Sinto que hà uma estranha eternidade naquilo que amámos e foi destruído.
Ao longe, as gaivotas em voo planado sulcam a salinidade aérea do mar. Encosto a cara ao vidro turvo da janela do carro e deixo passar o tempo. Onde meu olhar sombrio, parado, via a noite que caía com vagar; o mar arremassava-se, violento. Assim estavam meus sentimentos.
sexta-feira, dezembro 07, 2007
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2 comentários:
Sorte....estares sózinha. Comigo e por mais que te pedisse, nunca foi possivel. Ou era tarde, ou doía as costas, ou eram muitos kms. Mesmo que eu conduzisse. Apenas curioso.
que vergonha, um post plagiando um texto do poeta Al Berto, "Jornal de Viagem", publicado em "Um Olhar Portugues", Circulo de Litores, 1991. Mais tarde tambem em "Degredo do Sol".
o minimo que podia fazer era referenciar o autor e dizer que o post, era uma adaptacao de um original dele.
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