quarta-feira, fevereiro 22, 2006

ALMA MINHA

Se existe a cor do outro lado da montanha.
Interroguei ao coração da minha alma.
Se irei transpor o horizonte além mar.
Quando eu for nessa viagem sózinha.
Hei-de levar versos em flores, o teu olhar...
Nas asas desse vôo que me acompanha!

Se existe flor do outro lado do infínito.
Interroguei ao meu deserto de esperanças.
Se irei tomar banho com o orvalho das manhãs.
Quando eu partir, comigo as tuas lembranças.
Hão-de ficar como novelos alvos de lã.
A desfiar nas nuvens desse céu bendito!

Se existe vida do outro lado desses vales.
Interroguei ao Criador desse universo.
Se irei ressuscitar sem ter nascido.
Quando ecoar o som destes meus versos.
Hei-de cantar o meu sonho indefínido.
Antes que a voz dentro de mim se cale.

Se existe o amor nos teus olhos!
Se existe perdão nos meus sonhos.
se existe em nós a lei de deus.
Hei-de esperar-te do outro lado!

terça-feira, fevereiro 21, 2006

DEIXA QUE TE OLHE

Deixa que te olhe.
No dia cinza e triste da brisa.
Que se colou espessa nos vidros.
vago reflexo que não alcanço.
Ainda que a alma se expanda.
E te toque.
Deixa que pense.
Mesmo que seja num dia sem sol.
Que o sempre não é somente palavra.

De um dicionário coberto de pó.
E a vida não é veado que foge.
À nossa frente.
Deixa que sinta.
Como sopro leve, lábios conhecidos.
Que sussurre o tempo que já esperei.
A brisa que trazes nos dedos carícia.
E quanto serás eterno em meu corpo.
Que aguarda.

Deixa que a vida me diga de ti hoje e amanhã.
para que exista um sulco de esperança.
Semente plantada em dias de frio.
Na terra que piso.

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

TRISTEZA

A tristeza é um sentimento que nos procura e ocupa muitas vezes. Podemos ficar tristes por palavras ou actos de alguém, pela miséria doutra pessoa, por um desastre ou cataclismo, por uma imensidade de coisas.
Mas algumas vezes ficamos tristes sem saber porquê, sentimo-nos tristes e não conseguimos identificar a origem dessa tristeza. Talvez seja uma data de pequenas coisas somadas, ou algo que nos tocou e não nos recordemos. Hoje estou assim, estou triste, e não sei porquê.

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

CONVERSA

Não sei mesmo o que escrever. Mesmo no meio da semana onde normalmente batemos de cara com as novidades e os acasos, não as encontrei. A mesmice segue lerda por onde minha visão alcansa. Até as nuvens parecem as mesmas. Se já vejo os dias infindáveis da minha janela do emprego, em função da mudança no horário de trabalho, vejo o entardecer cansado e cinzento ao sair da labuta diária.

É como se sózinhos nossos monstros cotidianos nos invadissem a lembrança, não nos deixando esquecer da nossa mediocridade, não permetindo distrações que, na certa amenizariam nossos fardos.

Sou apenas mais uma no autocarro, na rua, na vida; mais um rosto, mais uma que se observa, pelas janelas do autocarro, as cenas das calçadas à direita. Pessoas apressadas olhando o relógio, pessoas desconfiadas, estressadas, homens olhando ávidos o traseiro das meninas que passam, a guerra da vida.

Hoje , mesmo dentro do carro, caminho do emprego pensava no destino. Existe? Não acredito.Talvez seja apenas uma denominação romãntica para o futuro. Mas seja ele qual for, não quero que minha face permaneça preocupada. Ponho diariamente um tijolo de sabedoria em meus princípios, em minha filosofia de vida, em minhas atitudes e pensamentos. E sábios, ao meu ver, são alegres pois conhecem muito das facetas da vida e sabem jogar, angariando todo o néctar de felicidade que ela possa brotar. E isso que eu quero. Não quero dinheiro ou uma vida normal e pacata; não exactamente, mas a sabedoria para que eu possa rir, rir da minha inocência, dos problemas que batem contantemente à minha porta, rir da aparente gravidade da vida, ser um ser colorido no meio de cinza.

Disparo contra o sol, sou forte, sou por acaso; minha metralhadora cheia de mágoas...Sou uma pessoa cansada de correr na direcção contrária, sem podium de chegada ou beijo de amor. Eu mais uma pessoa. Fazendo da angústia uma parceira constante e indesejada.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

VENTO

Disfarçado de vento, o tempo vai seguindo incansável, percorrendo a quilometragem dos segundos e avançando como larva de um vulcão em erupção, indiferente a tudo, queimando, destruindo, preparando a terra para outras gerações, escondendo fósseis, caveiras que um dia fizeram parte do mundo, da vida material, terrena.

Batem-me sensações estranhas às vezes, de total inutilidade, insignificância. Somos tão pequenos. Fazemos parte de uns poucos anos que pertencem aos bilhões já transcorridos e que transcorrerão. O epílogo do nosso nascimento serve apenas para iniciar a primeira frase do texto da nossa vida, que mal chega a completar uma folha de um extenso livro, escondido em uma biblioteca vasta, na estante da eternidade. Alguns livros possuem mais brilho, são mais cuidados, chamam mais atenção. Outros, estão mais bem localizados e são mais acessados pelos leitores curiosos. Outros mais, vivem abertos, escancarados mesmo para quem não os quer ler.

Minha página, tenho a certeza, faz parte de um livro grande, de pessoas provincianas, sem maiores glórias. Um livro sem graça, escrito por momentos de tristeza, estacionado nas partes mais altas e afastadas da biblioteca. Minhas folhas, lá, ganhará poeira. São histórias de inúmeros colecionadores de auroras. Pessoas comuns, sem aventuras, que passaram pelo tempo discretamente. Será um livro de arquivo, sem título nem prefácio.

Minha página ficará amarelada, esquecida. Serão letras vãs. Aos desatentos que, por engano, abrirem o blog na minha página, estes não encontrarão exclamações. Poucos serão os parágrafos; muitas serão as vírgulas. Uma vida sem novidades, de poucos cenários e acasos. Aos mais curiosos, pesquisadores da vida alheia, destacaria o parágrafo em que fala das contemplações, pois para estas cada olho possui a mira. Nele, encontrarão muito verde e azul, em meio cinza e preto que colore as outras linhas.

Como maestro regente, o tempo se encarregará de empurrar o livro em que cabe a minha vida para o fundo da estante. Ficará lá guardado um livro sem sumário nem epitáfios; um livro de comuns, recheados de interrogações em cada frase.

Hoje, desci à terra...

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

REALIDADE

A cada dia tenho mais a certeza que as distorções são cruciais para manter a sanidade mental. Alimentar fantasias, construir mundos utópicos me parecem, por vezes, nos remeter a uma realidade mais próxima da verdade. É mais ou menos como empurrar uma subjectividade exagerada, os sentidos puros à frente da fila, deixando a racionalidade para trás.

Os gregos antigos utilizavam muito este artifício; suas emoções eram fundamentadas em mito. Os gregos aceitam mais facilmente algo semelhante ao sonho do que um cientista, por exemplo. A loucura, a fantasia é essencial aos sábios. Todos eles carregam boas doses de loucura. Talvez seja melhor o desprendimento do que a obrigação de mentir segundo convenções sólidas. As próprias verdades são ilusões em potencial. Pascal tem razão quando afirma que, se todas as noites nos viesse o mesmo sonho, ficaríamos tão ocupados com ele como as coisas que vemos cada dia: Se um trabalhador manual tivesse certeza de sonhar cada noite, doze horas a fio, que é rei, acredito, diz Pascal, que seria tão feliz quanto um rei que todas as noites durante doze horas sonhasse que é um trabalhador manual.

Sendo assim, a cada instante tudo torna-se possível, como um sonho. O próprio homem é propenso a deixar-se enganar, enfeitiçando-se por uma felicidade mentirosa. A fantasia não deixa de funcionar como um refúgio, um escudo para combater a enxurrada de falsas verdades racionalizadas, de conceitos rígidos e limitados. A intuição é mesmo uma indigente neste cotidiano.

Mas tanto o homem racional precisa de intuição, dos sentidos, da arte, como o ser intuitivo necessita da razão para ter certo domínio da vida. Qualidades como a prudência, a regularidade encontram-se no baú da razão e são essenciais para que a vida não se revista de aparências e belezas, e os impulsos não sejam os condutores do futuro.

O homem intuitivo, abstrato tem difículdades em aprender com a experiência, pois é desprovido da razão. Por este motivo também sofre com mais frequência, caindo sempre no mesmo buraco, mas sofre com tamanha irracionalidade que não consegue disfarçar: chora alto, berra, responde aos impulsos. O homem instruído pela experiência se utiliza das máscaras sorridentes, escondendo a dor que corroí, mas que não altera o equilíbrio dos seus traços, do seu caminhar, e assim ele segue, carregando em seu olhar, o chumbo da razão.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

SILÊNCIO

Quando o silêncio teima em querer ficar, as palavras não saiem, não voam, ficam presas. Por mais que queiramos não conseguimos deitar para fora.
Os olhos falam, esses sim exprimem tudo o que vai na alma, no coração...mas as palavras não saiem.
Angustia, repressão, dor...não sai, não quer sair, não tenta...
Uma lágrima corre, e nela estão contidas todas as palavras do olhar, todas as dores do coração.
É através dessa lágrima, que o peso da alma tenta sair, tenta voar para aliviar a angustia que teima em poisar...
O coração está cheio de beleza, mas o corpo está preso pois não pode demonstrar o que sente, o que lhe corre no sangue. Não é livre, não está como quer.
Sabe o que é a felicidade, mas não a alcança, estica-se, mas não consegue.
É ele próprio que se fere, que se magoa...

No silencio de uma lágrima, numa palavra não dita, o coração bate...pequenino, pequenino...cheio de emoção