terça-feira, fevereiro 14, 2006

VENTO

Disfarçado de vento, o tempo vai seguindo incansável, percorrendo a quilometragem dos segundos e avançando como larva de um vulcão em erupção, indiferente a tudo, queimando, destruindo, preparando a terra para outras gerações, escondendo fósseis, caveiras que um dia fizeram parte do mundo, da vida material, terrena.

Batem-me sensações estranhas às vezes, de total inutilidade, insignificância. Somos tão pequenos. Fazemos parte de uns poucos anos que pertencem aos bilhões já transcorridos e que transcorrerão. O epílogo do nosso nascimento serve apenas para iniciar a primeira frase do texto da nossa vida, que mal chega a completar uma folha de um extenso livro, escondido em uma biblioteca vasta, na estante da eternidade. Alguns livros possuem mais brilho, são mais cuidados, chamam mais atenção. Outros, estão mais bem localizados e são mais acessados pelos leitores curiosos. Outros mais, vivem abertos, escancarados mesmo para quem não os quer ler.

Minha página, tenho a certeza, faz parte de um livro grande, de pessoas provincianas, sem maiores glórias. Um livro sem graça, escrito por momentos de tristeza, estacionado nas partes mais altas e afastadas da biblioteca. Minhas folhas, lá, ganhará poeira. São histórias de inúmeros colecionadores de auroras. Pessoas comuns, sem aventuras, que passaram pelo tempo discretamente. Será um livro de arquivo, sem título nem prefácio.

Minha página ficará amarelada, esquecida. Serão letras vãs. Aos desatentos que, por engano, abrirem o blog na minha página, estes não encontrarão exclamações. Poucos serão os parágrafos; muitas serão as vírgulas. Uma vida sem novidades, de poucos cenários e acasos. Aos mais curiosos, pesquisadores da vida alheia, destacaria o parágrafo em que fala das contemplações, pois para estas cada olho possui a mira. Nele, encontrarão muito verde e azul, em meio cinza e preto que colore as outras linhas.

Como maestro regente, o tempo se encarregará de empurrar o livro em que cabe a minha vida para o fundo da estante. Ficará lá guardado um livro sem sumário nem epitáfios; um livro de comuns, recheados de interrogações em cada frase.

Hoje, desci à terra...

1 comentário:

Anónimo disse...

Ontem, os teus pensamentos filosóficos traduziam melancolia. Hoje parece-me que demonstram desilusão. Atendendo a tantos factores positivos da tua vida, não é facil vislumbrar motivos para tal atitude, mas por certo eles existirão(provavelmente,... apenas no teu imaginário). Relaxa e disfruta a vida na sua plenitude, pois são mais e mais fortes os motivos para rir, que os outros que te apoquentam. Sorri,....hoje é dia dos namorados. AMA.