Outras feridas.
traços de répteis incandescentes pelas dunas, hastes quebradas, excrementos sinalizando com rigor apertados caminhos. Areias de cor indecisa.
São bons estes lugares de cinza, para a solidão insuspeita dos pássaros. Da boca das areias desmonorando-se irrompem fosforosos bichos, adocicados corpos, um rosto de fogo encima o leite vagaroso das nuvens, depois, ouvem-se os nomes dos barcos, e do vento uma voz explode, fende, desfaz a tempestade, teu corpo acalma por cima do misterioso espelho, mão na mão, percorremos todas as águas, conhecemos os domínios húmidos dos monstros marinhos e a loucura dos peixes cegos, que deu nome à nossa amizade e às cidades costeiras. Outras feridas alastram subitamente no fulcro da memória outras noites atravessam-me. Semeiam pelo corpo flores e pânico. Falo com os barcos postos-a-seco, das salivas marinhas cresce uma quilha enfurecida, a escrita é um marulhar incessante, imito a paisagem como se imitasse, ou te escrevesse.
Teu rosto dilui-se nos ossos da página, contamina as cartilagens das sílabas, resta-me o fingimento sibilante das palavras. Caminho pelo interior das dunas, apago o rasto de tinta acetinada, sou terra sem texto onde não encontro água. Só noite e um rumor imperceptível no coração. Mais nada.
quinta-feira, agosto 09, 2007
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