Tenho horas em que não te falo. Não é porque esteja triste contigo. É apenas, não tenho nada a dizer ou simplesmente tenho mas não quero dizer nada. E se estou quieta, não fiques a pensar o porquê ou a sentires-te incomodado na minha quaze não presença.
Não questiones o que sinto apenas porque a minha voz se cala, ou o meu corpo estendido sem se mexer.
Nem sempre me é fácil. Os dias nem sempre me trazem fardo leve. Se ficar quieta, vou para longe. Imagino tudo igual mas de forma diferente.Eu sei, não perceber...Preciso, sabes? Deixar a imaginação voar fugir um pouco da realidade, esquecer, eu digo cá dentro, no fundo onde faz eco. Fingir que, faz de conta que. Deixa-me estar quieta. Dá-me a mão, fica assim, pertinho de mim sem ser preciso nada. Eu sei, são só duas mãos entrelaçadas. Mas são muito. E outras horas são tudo. Ou abraça-me para que cá por dentro se renove a esperança de que algumas coisas acabem bem, mesmo na vida real. Deixa que os braços se entrelacem em abraços apertados.
É que sabes? Tenho momentos em que sou muitas. Carrego a criança que dorme, preciso viver como a mulher que hoje sou e tenho o espírito da idosa que um dia serei.
Não me leves a mal. A vida nunca é fácil.
terça-feira, março 25, 2008
segunda-feira, março 24, 2008
GRITO
O grito não sai, está preso aqui dentro como se fosse agarrado por algo interior e mais forte do que eu mesma.
Não me consigo mexer, já não sinto dor. O meu coração já não está ferido, não sente nada, não tem nada.O abismo é só um ponto de fuga. Já não sinto nada daquilo que se está a passar á minha volta, tudo parece apenas tudo e nada parece apenas nada.
O meu coração aumenta de ritmo, bate cada vez mais rápido e mais forte, parece que vai saltar, mesmo parecendo que não o tenho. A minha cabeça pensa em várias coisas ao mesmo tempo, mas não pensa em nada. Sem muito pensar, levo-me para longe do agora e para tempos que eu própria já tinha esquecido. Lembro-me de tudo o que passei de mau, lembro-me de como eu gostava que as coisas corressem de forma diferente. Já estou no presente, regresso agora, volto aos tempos de hoje, afasto-me do meu corpo e observo-me como se fosse outro alguém que desconheço. Pergunto-me quem sou... Desconheço-me por completo.
Volto ao passado em que um dia fui feliz - Ainda me lembro dele. As lembranças, ai, são boas. África.
Sorrisos, alegria, mimos, constante coragem, emoção. Volto ao presente, lágrimas, tristeza, medo, dor, revolta. O meu futuro é incerto...Pergunto-me se existirá um futuro, as diferenças são tantas, parece que estou a viver o contrário do que era naquele passado tão feliz. Pergunto-me agora se aquilo realmente existiu, não quero que as certezas que tenho sejam realmente verdade. A palavra justiça não me faz sentido algum, sinto que ela não me deu significado ou motivos de existência para eu a ter em consideração. O passado para mim é um fantasma bom, o presente, um fantasma mau. Volto a interrogar-me em relação ao futuro, nada sei sobre ele...Incertezas, revoltas, sentidos pouco sentidos, confusa e realista, dor sem dor. A vida é uma escada...A minha escada é cansativa, será que um dia irei cair desta escada? Ou, finalmente, a vou subir de uma vez por todas.
Não me consigo mexer, já não sinto dor. O meu coração já não está ferido, não sente nada, não tem nada.O abismo é só um ponto de fuga. Já não sinto nada daquilo que se está a passar á minha volta, tudo parece apenas tudo e nada parece apenas nada.
O meu coração aumenta de ritmo, bate cada vez mais rápido e mais forte, parece que vai saltar, mesmo parecendo que não o tenho. A minha cabeça pensa em várias coisas ao mesmo tempo, mas não pensa em nada. Sem muito pensar, levo-me para longe do agora e para tempos que eu própria já tinha esquecido. Lembro-me de tudo o que passei de mau, lembro-me de como eu gostava que as coisas corressem de forma diferente. Já estou no presente, regresso agora, volto aos tempos de hoje, afasto-me do meu corpo e observo-me como se fosse outro alguém que desconheço. Pergunto-me quem sou... Desconheço-me por completo.
Volto ao passado em que um dia fui feliz - Ainda me lembro dele. As lembranças, ai, são boas. África.
Sorrisos, alegria, mimos, constante coragem, emoção. Volto ao presente, lágrimas, tristeza, medo, dor, revolta. O meu futuro é incerto...Pergunto-me se existirá um futuro, as diferenças são tantas, parece que estou a viver o contrário do que era naquele passado tão feliz. Pergunto-me agora se aquilo realmente existiu, não quero que as certezas que tenho sejam realmente verdade. A palavra justiça não me faz sentido algum, sinto que ela não me deu significado ou motivos de existência para eu a ter em consideração. O passado para mim é um fantasma bom, o presente, um fantasma mau. Volto a interrogar-me em relação ao futuro, nada sei sobre ele...Incertezas, revoltas, sentidos pouco sentidos, confusa e realista, dor sem dor. A vida é uma escada...A minha escada é cansativa, será que um dia irei cair desta escada? Ou, finalmente, a vou subir de uma vez por todas.
segunda-feira, março 17, 2008
TRISTEZA
Pedaços de água no olhar.
De sonhos desfeitos em nada.
Cabelos em desalinho.
Onde brilham em torvelinho.
Pérolas de pranto ao luar.
Olhos tristes de quem sofreu.
Na vida, tormentos mil.
Silêncios a quem doeu.
Um amor que já morreu.
Ainda por começar.
Embalada nos braços fortes.
De uma recordação.
Vai tropeçando em pedaços.
vazios de um coração
Sonha, mulher menina, triste.
Limpa as lágrimas, sorri.
Também eu vivi morrendo.
E morri, vivendo em ti.
De sonhos desfeitos em nada.
Cabelos em desalinho.
Onde brilham em torvelinho.
Pérolas de pranto ao luar.
Olhos tristes de quem sofreu.
Na vida, tormentos mil.
Silêncios a quem doeu.
Um amor que já morreu.
Ainda por começar.
Embalada nos braços fortes.
De uma recordação.
Vai tropeçando em pedaços.
vazios de um coração
Sonha, mulher menina, triste.
Limpa as lágrimas, sorri.
Também eu vivi morrendo.
E morri, vivendo em ti.
segunda-feira, março 03, 2008
ESTRELAS
Todavia, em Setembro, já eu tinha reparado que a farda me ficava toda a dançar, decidi ir ao médico. E do médico para o hospital de S.José foi um salto, um vírus instalara-se nos alvéolos, onde se reproduzira alegremente: uma pneumonia sem febre, sem tosse, mas não menos capaz de matar.
O tempo que passei no hospital não foi um período infeliz, havia sempre alguém a tratar de mim e a distrair-me sem nunca me obrigar a sair da cama. Travei amizade com duas senhoras do hospital, quando me visitavam juntamente com o Padre Fausto: estavam muito surpreendidas por nunca ninguém me ir vesitar. No dia em que saí trocamos moradas, promessas de voltarmos a ver-nos.
Era uma segunda semana de Outubro, eu andava pela cerca como em sonhos, a violência dos ruídos e dos movimentos atordoava-me, os meus passos eram frágeis, hesitantes.
No jardim, a minha roseira tinha florido - uma flor pequena, raquítica, já pronta para enfrentar o frio do inverno -, as folhas das árvores começava a amarelecer e na tigela do benfica, cheia de água, boiavam os cadáveres de algumas vespas e de um zângão. Bastara um mês de ausência para que o cheiro a mofo e a humidade invadissem a camarata.
O outono estava diante de mim, e, à minha volta, o vazio.
Já sentia o vento sul a enrrodilhar-se para lá das Serras, ouvia-o descer, prender-me no seu assobio e penetrar até aos ossos do crânio.
Não aguentava passar ali mais um Inverno, tinha de fugir. Parecia-me que tinha vivido vinte anos em dois anos, estava cansada de mais para continuar.
Na verdade, sabia que não seriam opções, mas fugas, sumiços, testos mal pousados em cima de uma panela. Uma parte de mim estaria ali a interpretar a ficção e a outra continuaria a andar pelo mundo, percorrendo as ruas com os passos meio vazios de Évora. Afogar-se-ia em todos os abismos, em todas as escuridões; esperaria com humildade confiante diante de todas as portas abertas, como um cão à espera de um dono que ainda não conhece.
Queria luz, esplendor.
Queria descobrir se a verdade existe, se é ela o eixo à volta do qual tudo gira como um caleidoscópio, ou então morrer.
Ao voltar para dentro, reparei que andava com mais ligeireza, a decisão de fugir fazia-me olhar para tudo com indiferença, quaze com nostalgia.
- Se as folhas caem - dizia eu - , tem de haver uma razão, a Natureza não é estúpida como os homens, e aquilo a que chamas ervas daninhas não sabem o que são; eu é que as julgo e as condeno, mas elas acham que são flores e ervas, tão bonitas e importantes como as outras todas.
Eu não vejo a alma do jardim, gritei um dia, furiosa, não vejo a alma de nada de nada!
Nos últimos dois dias, arrumei meticulosamente num saco algumas roupas e a escova de dentes; por cima de tudo, coloquei a velha Bíblia sem capa que me deram na Igreja.Por cima de mim, brilhavam as estrelas, as mesmas que, há alguns anos, tinham velado pela viagem da minha mãe. Será que as estrelas têm olhos , pensava, será que me vêem como nós as vemos a elas, será que têm um coração misterioso - podem influenciar os nossos actos.
Quando era miúda, antes de ir para a cama, insistia em ir à janela dar as boas noites à minha mãe que, segundo me tinham dito, fora viver lá para cima; se as nuvens, em certas noites, cobriam o céu, desatava a soluçar. Imaginava-a como uma fada de vestido comprido e leve de chiffon colorido, na cabeça trazia um cone luminoso, coberto por estrelinhas, tinha um rosto sereno, levemente divertido, e, em vez de pernas, via-se uma única esteira luminosa: Só assim me podia seguir, esvoaçando de estrela em estrela.
Será por isso que a minha alma se parece com a de um cão?
Será por isso que, desde sempre ando pela estrada da vida à mercê da inquietação feroz dos que não têm dono?
O tempo que passei no hospital não foi um período infeliz, havia sempre alguém a tratar de mim e a distrair-me sem nunca me obrigar a sair da cama. Travei amizade com duas senhoras do hospital, quando me visitavam juntamente com o Padre Fausto: estavam muito surpreendidas por nunca ninguém me ir vesitar. No dia em que saí trocamos moradas, promessas de voltarmos a ver-nos.
Era uma segunda semana de Outubro, eu andava pela cerca como em sonhos, a violência dos ruídos e dos movimentos atordoava-me, os meus passos eram frágeis, hesitantes.
No jardim, a minha roseira tinha florido - uma flor pequena, raquítica, já pronta para enfrentar o frio do inverno -, as folhas das árvores começava a amarelecer e na tigela do benfica, cheia de água, boiavam os cadáveres de algumas vespas e de um zângão. Bastara um mês de ausência para que o cheiro a mofo e a humidade invadissem a camarata.
O outono estava diante de mim, e, à minha volta, o vazio.
Já sentia o vento sul a enrrodilhar-se para lá das Serras, ouvia-o descer, prender-me no seu assobio e penetrar até aos ossos do crânio.
Não aguentava passar ali mais um Inverno, tinha de fugir. Parecia-me que tinha vivido vinte anos em dois anos, estava cansada de mais para continuar.
Na verdade, sabia que não seriam opções, mas fugas, sumiços, testos mal pousados em cima de uma panela. Uma parte de mim estaria ali a interpretar a ficção e a outra continuaria a andar pelo mundo, percorrendo as ruas com os passos meio vazios de Évora. Afogar-se-ia em todos os abismos, em todas as escuridões; esperaria com humildade confiante diante de todas as portas abertas, como um cão à espera de um dono que ainda não conhece.
Queria luz, esplendor.
Queria descobrir se a verdade existe, se é ela o eixo à volta do qual tudo gira como um caleidoscópio, ou então morrer.
Ao voltar para dentro, reparei que andava com mais ligeireza, a decisão de fugir fazia-me olhar para tudo com indiferença, quaze com nostalgia.
- Se as folhas caem - dizia eu - , tem de haver uma razão, a Natureza não é estúpida como os homens, e aquilo a que chamas ervas daninhas não sabem o que são; eu é que as julgo e as condeno, mas elas acham que são flores e ervas, tão bonitas e importantes como as outras todas.
Eu não vejo a alma do jardim, gritei um dia, furiosa, não vejo a alma de nada de nada!
Nos últimos dois dias, arrumei meticulosamente num saco algumas roupas e a escova de dentes; por cima de tudo, coloquei a velha Bíblia sem capa que me deram na Igreja.Por cima de mim, brilhavam as estrelas, as mesmas que, há alguns anos, tinham velado pela viagem da minha mãe. Será que as estrelas têm olhos , pensava, será que me vêem como nós as vemos a elas, será que têm um coração misterioso - podem influenciar os nossos actos.
Quando era miúda, antes de ir para a cama, insistia em ir à janela dar as boas noites à minha mãe que, segundo me tinham dito, fora viver lá para cima; se as nuvens, em certas noites, cobriam o céu, desatava a soluçar. Imaginava-a como uma fada de vestido comprido e leve de chiffon colorido, na cabeça trazia um cone luminoso, coberto por estrelinhas, tinha um rosto sereno, levemente divertido, e, em vez de pernas, via-se uma única esteira luminosa: Só assim me podia seguir, esvoaçando de estrela em estrela.
Será por isso que a minha alma se parece com a de um cão?
Será por isso que, desde sempre ando pela estrada da vida à mercê da inquietação feroz dos que não têm dono?
sábado, março 01, 2008
Oração
As noites são longas, nas noites de vento sul.Senti uma imensa vontade de rezar, embora sentada na casa de banho, a minha alma estava ajoelhada aos pés de Sto. Antonio. Fechei os olhos, deixei que a música também se misturasse comigo, lavasse a minha alma dos medos das culpas, me fizesse recordar sempre que eu era melhor do que pensava, mais forte do que julgava ser. Eu não me mexi. A minha cabeça dava voltas, sem perceber o que estava a acontecer. No colégio! Um som interrompeu o meu pensamento - um som agudo, longo, como se fosse uma flauta gigantesca. O meu coração deu um salto.
Veio outro som.E mais outro. Olhei para trás: e ele estava lá. Não via o seu rosto, porque o lugar era escuro - mas sabia que ele estava lá.
Levantei-me, e ele imterroupeu-me: Luisa! - disse com a voz cheia de emoção. - Fica onde estás. Eu obedeci. Que o grande pai me inspire - continuei. - Que o meu medo seja a minha oração desta noite. Na solidão da madrugada, eu rezava. Seria um agradecimento, ou uma súplica? - pensei, ao chegar à minha cama. Por acaso, as perguntas não surgiam todas da mesma forma, durante a noite? E se as perguntas não fossem mais do que a única forma de oração que nos é dada. Continuando a pensar no acaso, decidi ir até à varanda, olhei Sintra com a beleza da noite. Ainda estava muito escuro, o despertador marcava três horas da madrugada, em algumas casas ainda havia luzes acesas. De noite, o acaso tem de fazer frente a uma data de suplicantes: cada lâmpada acesa, uma inquietação, uma fractura, uma ponte que ficou suspensa; cada luz, uma memória sem páz, pensei, enquanto ia andando pela casa e o medo me atormentava. Ao chegar ao fím da sala, sentei-me na cadeira, e abri a janela da varanda, a brisa da noite passara, os rumores, os cheiros, tudo estava imóvel. Sentia-me como num teatro antes do ínicio do concerto, a orquestra já estava no seu lugar, o maestro estava firme em cima do meu armário: olhares, mente, coração, músculos, tudo estava à espera de poder explodir na harmonia do som.
Ainda era madrugada quando se ouviu o latir de um cão que ficava nas encostas de Fitares, e pouco depois um clarão aspergiu a abóbada escura do céu.
Não importa, por quê, por quem estou aqui?, como dissera alguém, - já que tudo se reproduz inexoravelmente, desde os bolores até aos elefantes?
Seria, portanto, filha da inexorabilidade?.
Veio outro som.E mais outro. Olhei para trás: e ele estava lá. Não via o seu rosto, porque o lugar era escuro - mas sabia que ele estava lá.
Levantei-me, e ele imterroupeu-me: Luisa! - disse com a voz cheia de emoção. - Fica onde estás. Eu obedeci. Que o grande pai me inspire - continuei. - Que o meu medo seja a minha oração desta noite. Na solidão da madrugada, eu rezava. Seria um agradecimento, ou uma súplica? - pensei, ao chegar à minha cama. Por acaso, as perguntas não surgiam todas da mesma forma, durante a noite? E se as perguntas não fossem mais do que a única forma de oração que nos é dada. Continuando a pensar no acaso, decidi ir até à varanda, olhei Sintra com a beleza da noite. Ainda estava muito escuro, o despertador marcava três horas da madrugada, em algumas casas ainda havia luzes acesas. De noite, o acaso tem de fazer frente a uma data de suplicantes: cada lâmpada acesa, uma inquietação, uma fractura, uma ponte que ficou suspensa; cada luz, uma memória sem páz, pensei, enquanto ia andando pela casa e o medo me atormentava. Ao chegar ao fím da sala, sentei-me na cadeira, e abri a janela da varanda, a brisa da noite passara, os rumores, os cheiros, tudo estava imóvel. Sentia-me como num teatro antes do ínicio do concerto, a orquestra já estava no seu lugar, o maestro estava firme em cima do meu armário: olhares, mente, coração, músculos, tudo estava à espera de poder explodir na harmonia do som.
Ainda era madrugada quando se ouviu o latir de um cão que ficava nas encostas de Fitares, e pouco depois um clarão aspergiu a abóbada escura do céu.
Não importa, por quê, por quem estou aqui?, como dissera alguém, - já que tudo se reproduz inexoravelmente, desde os bolores até aos elefantes?
Seria, portanto, filha da inexorabilidade?.
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