As noites são longas, nas noites de vento sul.Senti uma imensa vontade de rezar, embora sentada na casa de banho, a minha alma estava ajoelhada aos pés de Sto. Antonio. Fechei os olhos, deixei que a música também se misturasse comigo, lavasse a minha alma dos medos das culpas, me fizesse recordar sempre que eu era melhor do que pensava, mais forte do que julgava ser. Eu não me mexi. A minha cabeça dava voltas, sem perceber o que estava a acontecer. No colégio! Um som interrompeu o meu pensamento - um som agudo, longo, como se fosse uma flauta gigantesca. O meu coração deu um salto.
Veio outro som.E mais outro. Olhei para trás: e ele estava lá. Não via o seu rosto, porque o lugar era escuro - mas sabia que ele estava lá.
Levantei-me, e ele imterroupeu-me: Luisa! - disse com a voz cheia de emoção. - Fica onde estás. Eu obedeci. Que o grande pai me inspire - continuei. - Que o meu medo seja a minha oração desta noite. Na solidão da madrugada, eu rezava. Seria um agradecimento, ou uma súplica? - pensei, ao chegar à minha cama. Por acaso, as perguntas não surgiam todas da mesma forma, durante a noite? E se as perguntas não fossem mais do que a única forma de oração que nos é dada. Continuando a pensar no acaso, decidi ir até à varanda, olhei Sintra com a beleza da noite. Ainda estava muito escuro, o despertador marcava três horas da madrugada, em algumas casas ainda havia luzes acesas. De noite, o acaso tem de fazer frente a uma data de suplicantes: cada lâmpada acesa, uma inquietação, uma fractura, uma ponte que ficou suspensa; cada luz, uma memória sem páz, pensei, enquanto ia andando pela casa e o medo me atormentava. Ao chegar ao fím da sala, sentei-me na cadeira, e abri a janela da varanda, a brisa da noite passara, os rumores, os cheiros, tudo estava imóvel. Sentia-me como num teatro antes do ínicio do concerto, a orquestra já estava no seu lugar, o maestro estava firme em cima do meu armário: olhares, mente, coração, músculos, tudo estava à espera de poder explodir na harmonia do som.
Ainda era madrugada quando se ouviu o latir de um cão que ficava nas encostas de Fitares, e pouco depois um clarão aspergiu a abóbada escura do céu.
Não importa, por quê, por quem estou aqui?, como dissera alguém, - já que tudo se reproduz inexoravelmente, desde os bolores até aos elefantes?
Seria, portanto, filha da inexorabilidade?.
sábado, março 01, 2008
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1 comentário:
Provavelmente. Ou talvez não!!!! Sintra decide. Quem sabe??? ATM
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