quinta-feira, janeiro 15, 2009

A dor




A dor ensina-nos igualmente que somos dependentes dos outros. Quando estamos doentes, vamos ao médico. Quando estamos emocionalmente perturbados, visitamos um amigo ou um terapeuta. Quando a vida nos pressiona, chamamos por Deus. O sofrimento abre-nos um canal, através do qual podemos falar honestamente com outra pessoa, provavelmente pela primeira vez. Poderemos sentir algum alívio sabendo estarmos em sintonia com outros que também sofrem ou que, pelo menos, nos podem oferecer apoio.

Na linguagem religiosa tradicional, a dor leva-nos ao âmago da natureza de Cristo e de Buda. Ultrapassamo-nos, embora continuando a ser quem somos, quando nos juntamos a uma grande visão com a profundidade da alma. Quando sofremos, somos convidados para uma grande reunião com os sofredores de toda a existência e, assim, expandimo-nos e descobrimos toda a dimensão da experiência. O sofrimento pode ensinar a nossa imaginação a libertar-se de uma au-to absorção, para se ligar com o mundo de um modo infinitamente mais importante.

Ver o sofrimento como um mistério, como o tormento de Deus, é compreender o que está no interior da natureza das coisas. Buda ensinou que a dor é causada por uma espécie de desejo,pela vontade própria ou talvez por estreitos apetites. Certamente que imaginamos o fim do sofrimento, como objectivo válido para a medicina ou para a assistência social. O grande físico Paracelso disse que, se não fôssemos tão ignorantes, poderíamos curar todas as doenças, sem excepção. Para dicifrarmos o mistério divino no sofrimento, não será preciso desistirmos, desencorajados, mas sim entendermos que esse sofrimento terá de ser lançado do local mais profundo.

Não sei explicar o sofrimento, mas posso sugerir maneiras modernas e antigas de reflectir sobre ele. Há um grande mistério teológico no modo como a dor redime, em como o sofrimento sentido por uma pessoa ajuda outro e em como alguns são chamados a sofrer e outros a viverem tranquilos. Por fím, pedem-nos que reconheçamos o mistério e abracemos como nosso, tudo aquilo que a vida nos oferece. O sofrimento é afinal redentor da dinvindade que se processa através de nós.

Não tenho a mínima dúvida que em certos momentos da minha vida recebi apoio, consolo e segurança insuspeitos e inexplicáveis da parte de uma qualquer presença espíritual. Não me custa acreditar que tenho um anjo-da-guarda. Se necessário for, só o mero facto de estar viva é prova suficiente para mim.

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