sábado, fevereiro 05, 2005

Feridas

Descobri que trabalhar com a criança dentro de mim é uma forma excelente de curar as mazelas do passado. Não estarei sempre em contacto com o sentimento da criança assustada dentro de mim.Se na minha infância o medo e o conflito tiveram uma presença demasiado constante e se ainda hoje me agrido mentalmente, o que se passa é que ainda trato a criança interior da mesma maneira que me trataram a mim. No entanto, a criança cá dentro não tem para onde ir. Terei que passar as limitações impostas pela sociedade. Preciso de restabelecer a ligação com a criança perdida dentro de mim. Ela precisa de saber que eu me preocupo.

Paro agora um momento e digo a essa criança - Eu preocupo-me . Adoro-te.Adoro-te mesmo muito.. Se calhar tenho dito à pessoa crescida, ao adulto dentro de mim: vou começar agora e digo também à criança que habita em mim.Fecho os olhos e falo com a criança pode levar muito tempo até que ela me oiça, até que ela acredite em mim, que estou a falar a sério. Insisto. Eu quero mesmo falar contigo. Quero ver-te. Quero amar-te. Eventualmente acabarei por estabelecer contacto e poderei ver a criança dentro de mim, senti-la, ouvi-la.

Quando falar com ela, um pedido de desculpa pelo facto de não lhe ter falado todos estes anos ou que estou arrependida de ter ralhado tanto. Digo-lhe que pretendo compensá-la por todo este tempo desperdiçado, de costas viradas uma para a outra. Pergunto-lhe o que posso fazer para a tornar feliz. Indagar os seus medos. Inquiro como a poderei ajudar, sobre o que ela deseja de mim.

Começarei com perguntas simples; as respostas vão chegar. O que posso fazer para que ela fique feliz? O que gostavas de fazer hoje? Por exemplo, posso dizer: Hoje eu queria andar, o que tu queres fazer.Ela pode responder: vamos até à praia. A comunicação ter-se-á iniciado. Tenho que ser consistente. Se arranjar todos os dias um bocado par me ligar com essa pequena criatura dentro de mim, a vida pode melhorar. Preciso de dar esse passo e pedir ajuda a ela para poder ser ajudada. A minha parte adulta, quando escreve a pergunta, pensa que sabe a resposta, mas quando pega na caneta com a mão não -dominante, muitas vezes a resposta que sai é bastante diferente do que eu estava à espera. Não fui uma criança desejada. O valor essencial é estar agora aqui, mas apenas fui um animal de estimação.Tenho que me aceitar mesmo, sem condições e com a máxima abertura, e amar a criança que existe dentro de mim.

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