quarta-feira, dezembro 28, 2005

SONETO DE AMOR


Pelo teu amor, seria a poetisa das alegrias.
Das minhas, das tuas, das alegrias gerais.
Não compreendo porque sofro em teu amor.
Ainda mais do que eu, minha insana poesia.

Os grandes amorosos não são menos ilógicos.
O que talvez explique a minha rude tristeza.
Precisamente em mim que só tenho motivo.
Para alegrar-me, antes de tudo, nesse amor.


Não há dúvida que o amor é desnorteante.
Nenhuma dúvida, pois se a vida corre bem.
E acima dos pequenos males teu amor esplode.

Por que essa tristeza? por que essa inquietação.
Essa coisa imprecisa que só faz estragar.
Justamente o teu amor a minha vida?

terça-feira, dezembro 27, 2005

AMANDO SONHANDO


Acordei de madrugada, quando senti o braço dele a rodear meu peito, abraçando-me por trás. Fiquei quieta como estava, sentindo o prazer do seu corpo apertando o meu, e os leves beijos que me dava. Pensava que eu dormia. Senti também o seu doce perfume do seu corpo a inebriar, e ouvi o sussuro de sua voz como um sopro de brisa em meu ouvido, e até hoje não sei se era mesmo a sua, ou as vozes dos coros celestes soprando as palavras em meu coração. Mas o que sei, é que jamais esquecerei o que ouvia do meu amor, enquanto pensava que eu dormia. Disse:

Dorme meu amor porque velo por ti.

Descansa, porque quem tem a alma como a tua, precisa recuperar as forças para que os gritos do amor sejam ouvidos longe...

Não sabes que cuido de ti enquanto dormes, mas saberás um dia que há em meu coração o mais lindo sentimento, que faz com que as nossas almas sejam irmãs. É a minha alma que cuida da tua... Não podes calcular o quanto o amor tem embriagado de beleza a minha alma quando contemplo a face deste amor. Não sabes quanto carinho sinto por ti, que tem mostrado a mim sem palavras, que o amor é muito maior que o decantado pelos lábios, ou acenado pelas mãos. Embora meus lábios testemunhem, e as minhas mãos confirmem os gestos...

Eu fingi que acordava e virei para o meu amor, e ele fingiu que dormia. Então eu o abracei, acariciei os seus cabelos, e disse também sussurrando:

Dorme meu amor, agora eu cuido de ti. E sempre o farei, porque o amor é mais forte que o tempo. Esqueci de dizer que te amo, e esperarei que acordes para que o diga com todos os gestos, todas as palavras, e todas as expressões que puder encontrar. Descansa, querido, porque eu sou o teu descanso...Sou eu quem 0 procurou por toda a eternidade, e agora 0 encontro descansando como deves descansar. Ficarei acordada até que acordes, e direi ao teu ouvido, o que enche o meu coração...

As palavras não saiam mais porque a emoção traiu a minha fala. Olhei novamente o meu amor, e uma lágrima em cada olho, traiu também sua interpretação. Mas eu fingi que não vi, para não quebrar o encanto do descanso da nossa noite.

Ouvi, passarinhos lá fora. Abrindo a janela, reparei que acabei de sair dum sonho, mas os pássaros cantavam para mim. Por momentos fui feliz.

sexta-feira, dezembro 23, 2005

BOMBARRAL

Anos 50... A menina já nascera diferente, resultado talvez de alteração genética que a ciência ainda não explica, ou, quem é que sabe? Um enigma que somente pela fé se pode decifrar. Espírito de luz de volta ao planeta, energia um dia desfeita e agora refeita sem perda da grandeza de gerações passadas. Pequenina, já indaga sobre os seres do Universo. E extrapola: se olha uma estrela, vê galáxias.Na areia da ampulheta, vê desertos, o desfilar de camelos no ondulado das areias, oásis, Tâmaras ao sol, beduínos...O comum é incabível na sua pequenina mente privilegiada.

A vida transcorre sem pressa, o tempo flui preguiçoso, quaze só presente, sem antes, sem depois, entre descobertas, o cão e as matrafonas, a tristeza existindo. Cão gordo à sombra das figueiras, ouvindo silencioso as histórias da menina, sempre divagando, perguntando, mas os olhos do cão são dois faróis baixíssimos, se perdem entre as palavras e o sono irresistível...São tantas as perguntas sem respostas...Vê a lagarta virando borboleta, a nuvem se tornando chuva...E vê um dia a mãe enregelada partindo para sempre...Quer explicações. Mas vive agora apenas com o cão e a matrafona na casa imensa entre a quinta e as árvores do pomar. E sorrindo, mastiga as pétalas das flores silvestres, que ela chama cicuta.
Lentamente, o tempo ganha algum passado, o cão gordo já não dorme à sombra das figueiras, na quinta agora crescem margaridas brancas, mas a menina perscruta o céu entre as galáxias, procura , no deserto, entre camelos, no oásis, nas estrelas, junto aos forasteiros...O cão não está em canto nenhum.

E o vento da madrugada traz muito frio...É Natal seu coração continua chorando, continua sem abrigo. Mas muita gente, precisam das mãos duma menina pra alisar os pêlos, contar histórias como as que o cão gordo ouvia.

As mesmas leis regem o suceder das estações, da noite e do dia, do calor e do frio, da tempestade e da bonança...Também os seres vivos, cães e humanos incluídos. Um determinismo de que ninguem escapa.A Natureza se transforma. Sempre. O processo é eterno. O cão se transformou em margaridas... Por momentos o coração da menina não chorou. É Natal a alegria da menina vai voltar, promete.

terça-feira, dezembro 20, 2005

Poeta

Ah se eu fosse poeta!
Falar de amargura? Pra quê?
Nada vai modificar meu estado de espírito.
A vida é vã como a sombra.
Na parede de meu quarto.
Choro em meu íntimo.
O amor que não tive, e queria ter.
Anseios de insofridas esperas.
De meus sonhos-quimeras.
Meu subconsciente me serve.
A angústia em bandeja de prata...
Mas eu prefiro a fantasia.
A dor sem motivo, me castiga...

Ah se eu fosse poeta!
Poeta cria seu mundo.
Como quer, ama quem quizer.
Porque constrói o seu refúgio.
Lá, no meio das nuvens.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Estar enamorado e amar

Que difícil é falar disto!...


No outro dia, coordenando um grupo, contava-lhes o que tínhamos dito nas nossas conversas sobre a ideia de amar em termos de que o outro seja importante para mim, e sobre a sensação física de estar com alguém que amo. Depois pedi a cada um que dissesse o que pensava sobre o amor.
Uma das respostas de que gostei foi a de uma colega de vinte e cinco anos que disse: Quando amamos, vemos além daquilo que se vê. No amor, os cânones estéticos perdem valor.

Rita disse que o verdadeiro amor existe quando amamos pelo que sabemos que aquela pessoa poderá chegar a ser, não somente por aquilo que ela é. Creio que estar enamorado e amar são estados que vão e vêm numa relação. No ínicio, em geral, há um período de paixão em que se mistura muito o que eu imagino, o que projecto naquela pessoa. Então, coloco o meu homem ou a minha mulher ideal nesse ser humano que tenho à minha frente.

O enamorar-se é uma relação comigo mesma, embora escolha determinada pessoa para projectar o que sinto. E então poderíamos perguntar-nos: porque escolho aquela pessoa? Que se passa quando, depois de algum tempo, o outro começa a mostrar como é e isso não coincide com o meu ideal?

Aí começam os meus conflitos. Ele não é como eu tinha julgado. A alternativa que aqui se apresenta é ver se posso amar esta pessoa que estou a ver ou se fico agarrada ao meu homem ideal.

O amor pode começar com resolução deste dilema, quando o vejo e me dou conta de que o amo tal como ele é. Até posso chegar a amar as coisas de que gosto nele, porque são dele e o aceito como ele é.

Creio que as relações passam por momentos de enamoramento, momentos de amor, momentos de ódio...Na realidade, amor e ódio estão muito próximos. Nunca odiamos tanto alguém como aquele a quem amamos. Como me disse o meu filho no outro dia no meio de um ataque de fúria: ( Amodeio-te) quis dizer...Odeio-te, mas escapou-lhe o amor.

É saudável aceitar que isto seja assim. Vamos navegando na relação, que verdadeiramente se mantém se nos mostrarmos, se formos conscientes do que se passa connosco, se não o negarmos ou não agimos como se nada se passasse.

Conciência é a grande palavra. Sejamos concientes daquilo que se está a passar connosco, entreguemo-nos a isso. Assim se cuida e se constrói o vínculo.
O recurso é sempre o mesmo: conciência, centrar-nos. Só se eu estiver dentro de mim é que poderei gerir sítuações difíceis.

Assim, sem necessidade de que haja conflito, posso olhar para mim, estar conectada e ser eu mesma. Se eu não me mostrar, ninguém poderá amarme.
Em todo o caso, amarão o meu disfarce, como alguém diz, e isso não me serve.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Nos teus...caminhos

Tenho em mim um mar de nuvens mas, o sol esse, Deus meu! está sempre lá a desenhar-me o Ver...ando nos caminhos com ele, à chuva, no vento. Nos meus e nos teus, mais nos teus que nos meus, porque te olho, para aprender a cor com que se pinta o mar...
As palavras não me dizem nada. Já não! desfazem-se no silêncio caídas, sózinhas no vazio das letras sem sentido, delas, os meus já não se desenham, nelas desenformam-se deformadas em nuvens-de-pó de giz colorido nas chuvas-de-estio, em vapores de solidão desabraçada, nas noites de mocho- cego, macho enfeitiçado. As palavras não me dizem correm sem mim, no poema que não fiz. É dia de poetas, estou surda, invento vazios, cinzentos e as palavras aqui e eu sem mim. Neste deserto.