Que difícil é falar disto!...
No outro dia, coordenando um grupo, contava-lhes o que tínhamos dito nas nossas conversas sobre a ideia de amar em termos de que o outro seja importante para mim, e sobre a sensação física de estar com alguém que amo. Depois pedi a cada um que dissesse o que pensava sobre o amor.
Uma das respostas de que gostei foi a de uma colega de vinte e cinco anos que disse: Quando amamos, vemos além daquilo que se vê. No amor, os cânones estéticos perdem valor.
Rita disse que o verdadeiro amor existe quando amamos pelo que sabemos que aquela pessoa poderá chegar a ser, não somente por aquilo que ela é. Creio que estar enamorado e amar são estados que vão e vêm numa relação. No ínicio, em geral, há um período de paixão em que se mistura muito o que eu imagino, o que projecto naquela pessoa. Então, coloco o meu homem ou a minha mulher ideal nesse ser humano que tenho à minha frente.
O enamorar-se é uma relação comigo mesma, embora escolha determinada pessoa para projectar o que sinto. E então poderíamos perguntar-nos: porque escolho aquela pessoa? Que se passa quando, depois de algum tempo, o outro começa a mostrar como é e isso não coincide com o meu ideal?
Aí começam os meus conflitos. Ele não é como eu tinha julgado. A alternativa que aqui se apresenta é ver se posso amar esta pessoa que estou a ver ou se fico agarrada ao meu homem ideal.
O amor pode começar com resolução deste dilema, quando o vejo e me dou conta de que o amo tal como ele é. Até posso chegar a amar as coisas de que gosto nele, porque são dele e o aceito como ele é.
Creio que as relações passam por momentos de enamoramento, momentos de amor, momentos de ódio...Na realidade, amor e ódio estão muito próximos. Nunca odiamos tanto alguém como aquele a quem amamos. Como me disse o meu filho no outro dia no meio de um ataque de fúria: ( Amodeio-te) quis dizer...Odeio-te, mas escapou-lhe o amor.
É saudável aceitar que isto seja assim. Vamos navegando na relação, que verdadeiramente se mantém se nos mostrarmos, se formos conscientes do que se passa connosco, se não o negarmos ou não agimos como se nada se passasse.
Conciência é a grande palavra. Sejamos concientes daquilo que se está a passar connosco, entreguemo-nos a isso. Assim se cuida e se constrói o vínculo.
O recurso é sempre o mesmo: conciência, centrar-nos. Só se eu estiver dentro de mim é que poderei gerir sítuações difíceis.
Assim, sem necessidade de que haja conflito, posso olhar para mim, estar conectada e ser eu mesma. Se eu não me mostrar, ninguém poderá amarme.
Em todo o caso, amarão o meu disfarce, como alguém diz, e isso não me serve.
segunda-feira, dezembro 19, 2005
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