quinta-feira, agosto 24, 2006

DEUS E EU


Cada dia me fazes andar mais por fé.
Pela confiança em Ti.
Cada vez caminho de forma mais livre, sabendo que nada me pode arrebatar de Ti.
Dia a dia vou aprendendo a conhecer-te.
E o mais maravilhoso de tudo isso, é que a grande maioria das vezes, és tu quem toma a iniciativa de o fazer, de me mostrares.
Quantas vezes eu não te busco como deveria, no tempo que Tu merecias.
Mas mesmo assim, tu estás sempre e sempre presente. Tu és sempre fiel.
Saber que me escolheste, que tudo fizeste para me resgatares para Ti.
Faz-me andar nesta terra alegre...uma alegria que não tem nada a ver com as circunstâncias externas. Se fossem por elas, eu andaria triste.
Mas verdadeiramente posso experimentar que a Tua alegria é a minha força!
Obrigado Pai!
Por me escolheres, por me amares, por fazeres de mim um ser livre.

ANOMALIA

Na anomalia, de volver-me todo o dia.
Como quem quer encontrar.
Lucidez onde é loucura;
Desconstruo o que me fiz.
Quando perdi as fantazias...

Um dia virá quando, enfim.
No mergulho mais profundo.
poderei comungar comigo.
A paz de não ser nada.
De não ter nada.
Do nada.

sexta-feira, agosto 18, 2006

O que é a paixão

Um sentimento muito especial. Contraditório, eterno enquanto dure, forte e frágil. A paixão simplesmente acontece! E nos deixa vulneráveis e indefesos.
Os cientistas a descrevem como uma descarga bioquímica que transporta no interior de nosso ser um misto de adrenalina e outras substâncias secretas, que produzem uma confusão inebriante e nos deixa embriagados de amor.
Sentimos uma sensação maravilhosa, a felicidade fica explícita e nos transpõe, o mundo se transforma num colorido especial e tudo parece possível e alcançável.
As variáveis são enormes, possibilitando ainda alusão a caprichos do inconsciente, que buscam na paixão a realização de um desejo não realizado, uma situação desconhecida, evocada num passado distante e, muitas vezes, negado, não importando como, o sentimento é único.
Com aspectos positivos como durante o torpor da visão de um mundo maravilhoso, a sensação de felicidade nos invade e parece realmente não ter fim.
Se for a pessoa que fará da nossa vida um sonho, é como tirar a sorte grande, buscando a intimidade ideal no desabrochar do verdadeiro amor.
Os aspectos negativos aparecem quando, ao findar da mágica, só nos resta a sensação de um sentimento que não se renova, no momento que temos a exacta medida do resultado zero e da verdade do amor cego, que era muito bonito, mas que, quando se torna real, não consegue vislumbrar nenhum atractivo.
A recuperação muitas vezes, é uma das mais perversas e pode necessitar até de acompanhamento psicológico para salvar o que ficou.
O amor se transforma e precisa de cuidados para que o sentimento seja sempre resgatado e possa manter o relacionamento como uma síntese de desejo e afeição.
A paixão, ao contrário do amor, dura intensamente por um tempo muito curto e a estabelização no amor acontece na medida em que os amantes passam a ter uma visão real da verdade do outro.
A maturidade do envolvimento afectivo consegue suportar a frustração de não conseguir ver no outro aquela perfeição ambulante. A difículdade a ser superada se dá quando este sentimento não consegue se reorganizar e o ajuste de um novo relacionamento terá que contar com a realidade mascarada.
Todos nós queremos viver um grande amor e com uma paixão ainda melhor, nem que seja uma única vez...
Valiosos os relacionamentos que, de uma grande paixão, vão caminhando, lentamente se solidificando, sem a dimensão conquista e nem sentimento furacão, mas sólidos e intensos, que como diluindo a paixão a tornam eterna.
Amor e paixão são sentimentos diferentes se definirmos amor como um interesse sincero por uma outra pessoa e paixão como um forte desejo que pretendemos satisfazer.
O amor autêntico dirige-se à outra pessoa. Se necessário, estamos disponíveis a sacrificar o nosso bem estar para fazer com que o outro seja mais feliz. . Enquanto que a paixão pode ser simplesmente uma satisfação egoísta. Portanto se o que uma pessoa sente é paixão, não deve esperar amor em contrapartida.

Estar bem estar carentes, sentir paixão intensa: o importante é não confundir esses dois sentimentos com amor.

quarta-feira, agosto 16, 2006

MADRUGADA

Já alguma vez se encontraram com a madrugada? É aquele instante em que o sono nos abandona...nesses momentos perco-me entre a realidade e o sonho, num desvaneio louco de nunca me saber dormecida ou acordada... é então que passam por mim, pensamentos curiosos com um sem número de ilusões, retratos, pinturas, que as brumas da mentira desfilam numa tentativa inútil de me acalmar a alma...essa...oscila entre uma paz que não existe e o eterno desconforto da amargura dolorosa mas tranquila...
Lentamente a luz do dia beija-me os olhos desvelados e a partir desse instante, conto com o acaso e o poente no horizonte para me acalentar, manhãs e tardes observando a vida... na noite, lua, estrelas e nuvens fazem-me companhia numa presença solidária desenhando um novo dia para mim.
Nessas ausências, sei que há uma ligação entre o paraíso e a terra, sinto que se encontrar essa ligação, descobrirei o significado de tudo, incluindo a morte... não a encontrar, fará com que tudo pareça insignificante inclusive a vida...Agora consigo olhar as estrelas, são tão delicadas como as flores e igualmente próximas... as colinas são teias de sombras tecidas mansamente no horizonte... no meu pensamento nenhuma folha solta ou isolada tudo se insere num todo, até ao tempo na sua infinidade, não consegue roubar as asas ao pássaro porque o pássaro e as asas caiem juntas... sei que um dia vou encontrar essa ligação e nesse instante, acompanharei o pássaro no seu voo final...

segunda-feira, agosto 14, 2006

Para onde vamos

Eu aqui fechada nos meus pensamentos, envolta em sentimentos, começo a divagar...
Que saudades do tempo que teima em não voltar, que saudades dos dias caminhando à beira mar, que saudades do azul do céu ao entardecer. Fecho os olhos e pelas recordações começo a voar...as noites passadas ao luar, as histórias contadas à lua, as promessas feitas às estrelas, as confidencias feitas ao mar, momentos de encantar. São recordações que hoje teimam em não me abandonar, verão de tardes quentes, povoados de olhares, de palavras sussurradas, de emoções guardadas, de recordações pelo vento levadas. E deixo-me levar. Levar, e o vento com a sua melodia vem ao meu ouvido cantar, eu deixo-me levar e voo para perto do mar, onde os sonhos andam soltos numa história de encantar!...
E penso, para onde nos leva a vida? Que caminhos devemos seguir? que opções devemos tomar? Deveremos ser conduzidos, ou antes não nos deixar levar.
Tantas são as perguntas e tão poucas são as respostas...vivemos muitas vezes numa dúvida indefinida, numa dimensão perdida. Sentimos, ouvimos, lutamos por causas perdidas. Recusamos olhar em volta, vivemos trancados num mundo injusto, e acomodados, levamos a existência agarrados ao ontem, temendo o amanhã! Seria mais fácil abrir o coração, dizer adeus á submição, sonhar com a criação e deixar de temer e sofrer por algo sem razão? Tantas são as escolhas, tantas são as falhas, tantas as injustiças, tantas são as lutas que diarimente temos que travar, e para quê? Preciso de tudo isto para me encontrar? No final, para trás vou olhar e dizer: os sonhos que consegui realizar?
A vida nem sempre é fácil, a estrada nem sempre é a direito, o caminho nem sempre se mostra...mas se ouvirmos o coração, se continuarmos a sonhar, se aprendermos a amar, talvez consigamos, mesmo com duvidas, avançar!

Ás vezes basta tão pouco...Ás vezes basta olhar...Ás vezes basta amar!

segunda-feira, agosto 07, 2006

Sobral do Parelhão

Que dizer sobre as flores amarelas que crescem na berma da estrada e dos arbustos que rompem a terra aqui e ali sem que ninguém os tenha semeado a não ser o vento? Que dizer da água fulgurante que desliza com ruídos pelos balados abrindo sulcos na terra castanha, húmida fértil.
Vivo na pátria exuberante onde os olhos tropeçam a todo o instante com formas excessivas, verdes, vivas, coloridas. Nenhum lugar existe para descansar o olhar. Ao ritmo da oferta ostensiva e intensa da natureza, os pensamentos fervem, borbulham, explodem, As mãos vervilham em vontade de fazer. O coração bate, sufoca, estoura.
A casa é um lugar donde se avistam as estrelas. A sala de estar onde se escutam gargalhadas e vozes. Não me estranhem em todo o meu excesso, é daqui que eu sou. Sabendo que ser daqui, assim intensamente, me retira muitas vezes a paz de me encontar comigo no silencio

sexta-feira, agosto 04, 2006

Sózinha no meu mundo

Ontem encontrei alguns textos no meu antigo caderno, datado de 31 de Abril de 1975. Sim, estava sózinha, embora o meu ventre se encontrasse grávido do meu filho Paulo, com oito meses de gestação- Estava sózinha no meu mundo, sentia-me perdida e abandonada. Meus pensamentos tinham que ser positivos, e sabia que tinha Deus a meu lado. E pensava enquanto rezava...Ser feliz não é ter a vida isenta de perdas e frustações. É ser alegre, mesmo se vier a chorar, é viver intensamente, mesmo no leito de um hospital. É nunca deixar de sonhar, mesmo se tiver pesadelos, é dialogar comigo mesma, ainda que a solidão me cerque. É ser jovem, mesmo que os meus cabelos possam embranquecerem, É contar histórias para os meus filhos, mesmo se eles não compreenderem, é agradecer muito, mesmo se as coisa derem para o errado. É transformar os erros em lições de vida.
Para mim ser feliz, é sentir o sabor da água, a brisa no rosto, o cheiro da terra molhada, é extrair das pequenas coisas, grandes emoções, é encontrar todos os dias motivos para sorrir, mesmo que não existam grandes factos. É rir das minhas próprias tolices, é não desistir de quem se ama, mesmo se houver decepções. É ter amigos para repartir as lágrimas e dividir as alegrias. Como sempre a irmã Maria da Luz, estava sempre por perto .É ser amiga do dia e uma amante da noite. É agradecer a Deus pelo espetáculo da vida...
Ao recordar este pequeno memorando, deu-me vontade de o projectar para o meu blog, na medida que recordar é viver, mas o que me fez postar isto de novo, é que este pequeno rascunho, tem tudo a ver com o que estou a sentir neste preciso momento.
Hoje...Sei que estou extremamente sensível...Agitada, querendo entender-me melhor, a minha vida e tudo o que me rodeia.
E com certeza, a felicidade é um ponto alto desta minha angústia...estou numa fase de buscas...Busco meus sonhos, meus ideais, minhas conquistas, minha felicidade. E tenho aprendido muito a cultivar todas essas buscas nestes últimos meses. Ás vezes sinto-me perdida, as vezes acho-me, as vezes penso que estou a enlouquecer. Acho que no momento sou um poço de emoções descoordenadas. Ás vezes parece que nada disto faz muito sentido.

quarta-feira, agosto 02, 2006

IDENTIDADE

Há muito tempo, quando consegui alcançar a liberdade de olhar para o meu corpo, de alcançar o meu interior, percebi quem eu era.
Foram momentos de intensas lutas - segundos que me pareceram séculos! A dor, dilacerando o físico, fortalecia o espírito, e a consciência. A luta permanente pareciam-me triste e enfadonha. No entanto, fui compreendendo que sempre, depois de grandes crises, renovava-me.
Que interessante: ao me desfazer de tudo, parecia que tudo possuía, negando, afirmava-me; sofrendo, aprendia a ser feliz, sentindo dor, conseguia caminhar no mais profundo do meu próprio ser.
Não sei por que, nem quando, nem quantas pessoas me ajudaram, nem quantas eu ajudei. Algumas vezes, as relações foram pacíficas; outras vezes, violentas e arbitrárias. Sempre que ficava sózinha conseguia alcansar a minha identidade, e, naqueles segundos, depreendia o quanto precisava de me transformar. Quando voltava ao caminho da existência, saindo do meu interior, sofria as consequências, de ter-me indagado, o dia ficava noite; a noite punha-me medo; os amigos cresciam, criticavam; os inimigos apedrejavam. Que contradição! Tudo parecia-me desmontado, no entanto, eu estava inteira, forte para recomeçar. Confesso: às vezes não queria recomeçar - mas era impossível renunciar à vida.
Tudo pulsava, tudo falava, alguns eu entendia, outros eu negava, neste processo, num extraordinário empenho de equílibrio, caí, levantei-me, amei, fui a força do meu próprio ser.
Na mentalidade do que era e do que sou, transformei-me, o que era escuro ficou claro; o que era morte ficou vida; o que não era, é.

Continuo a ser o que sempre fui: um ser inteligente que busca, na permanência do próprio ser, do Universo, a compreensão do seu ser.

terça-feira, agosto 01, 2006

A casa da minha infância

A casa: duas janelas fechadas, equilíbrio de vidros partidos, reflexos de desolação, um molho de ervas a morder a madeira da porta, folhas de cal a desprenderem-se das paredes, rachaduras.
As orquídias morreram ontem, quando eu não estava, há muitos anos. Era ali que eu brincava, na quinta ao lado da casa, num bocadinho de terra debaixo da figueira achacadiça, onde o ar sufocava e morria. brincava ás lojas: pedrinhas embrulhadas em papel de rebuçado, invólucrus de cigarros cheios e paus, frascos de perfume com água dentro; e o tempo corria a esconder-se no bibe azul, aos quadradinhos , da infância.
Fumo de flores secas num fogareiro, as orquídias, o chão ervado, abandono. Não conheço este silêncio, tenho de aprender a brincar outra vez, empurrar a porta e entrar...E de súbito preciso de ti, Maria da luz, na minha memória, no tempo em que o sol andava à nossa roda, e eu já escrevia poemas com os olhos, a olhar a beleza da natureza. Tinhas oito anos e vestias um avental verde, bonito. Eu tinha seis anos e tinha vergonha de andar descalça. A minha irmã estava distraída a lavar roupa no tanque e nós afastámo-nos um pouco, atrás de borboletas que nem sequer víamos, que eu inventava para me seguires. E muito longe depois ficámos cansadas de correr, sentámo-nos a conversar no meio de um silêncio que nunca existiu, e tudo o que dissemos uma à outra, a minha mão na tua, parecia estar certo . Havia árvores nos teus olhos, uma formiga subia pela tua perna, o teu cabelo ardia às vezes quando te punhas de uma maneira que eu não sei explicar. Deixavas cair de propósito a minha mão no teu colo, e rias, quando despíamos a roupa, e iamos mergulhar no riacho. O avental verde confundiu-se com as ervas e não o encontrámos, vestido de bolinhas com botões de castanhas a sumir-se com as borboletas imaginárias, as tuas cuecas debaixo dos meus pés, e a minha irmã lá ao fundo a espetar os olhos em nós, espantada, com deus na boca, a correr na nossa direcção, e eu a fugir para detrás duma árvore a vê-la vestir-te.
Já não sei brincar assim, as orquídias morreram, a casa já não existe. Na minha memória desfilam agora todos os brinquedos da minha vida...mas tu foste, Maria da Luz, o brinquedo mais sério da minha infância.
Guardo para mim, os risos espontâneos e ingénuos, as cores, as brincadeiras, as traquinices, as partilhas, de toda a minha infância...De vez enquando ainda mostro o mesmo sorriso, ainda sinto vontade de me rebolar num campo de margaridas, como tantas vezes fazia...De vez enquando ainda sou aquela criança feliz e sonhadora...De vez enquando...