quarta-feira, agosto 02, 2006

IDENTIDADE

Há muito tempo, quando consegui alcançar a liberdade de olhar para o meu corpo, de alcançar o meu interior, percebi quem eu era.
Foram momentos de intensas lutas - segundos que me pareceram séculos! A dor, dilacerando o físico, fortalecia o espírito, e a consciência. A luta permanente pareciam-me triste e enfadonha. No entanto, fui compreendendo que sempre, depois de grandes crises, renovava-me.
Que interessante: ao me desfazer de tudo, parecia que tudo possuía, negando, afirmava-me; sofrendo, aprendia a ser feliz, sentindo dor, conseguia caminhar no mais profundo do meu próprio ser.
Não sei por que, nem quando, nem quantas pessoas me ajudaram, nem quantas eu ajudei. Algumas vezes, as relações foram pacíficas; outras vezes, violentas e arbitrárias. Sempre que ficava sózinha conseguia alcansar a minha identidade, e, naqueles segundos, depreendia o quanto precisava de me transformar. Quando voltava ao caminho da existência, saindo do meu interior, sofria as consequências, de ter-me indagado, o dia ficava noite; a noite punha-me medo; os amigos cresciam, criticavam; os inimigos apedrejavam. Que contradição! Tudo parecia-me desmontado, no entanto, eu estava inteira, forte para recomeçar. Confesso: às vezes não queria recomeçar - mas era impossível renunciar à vida.
Tudo pulsava, tudo falava, alguns eu entendia, outros eu negava, neste processo, num extraordinário empenho de equílibrio, caí, levantei-me, amei, fui a força do meu próprio ser.
Na mentalidade do que era e do que sou, transformei-me, o que era escuro ficou claro; o que era morte ficou vida; o que não era, é.

Continuo a ser o que sempre fui: um ser inteligente que busca, na permanência do próprio ser, do Universo, a compreensão do seu ser.

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