terça-feira, julho 26, 2005

ROSAS BRANCAS

Apressada, entrei em um Centro Comercial para comprar alguns presentes de última hora para o Natal. Olhei para toda aquela gente ao meu redor e incomodei-me um pouco. Pensei...Ficarei aqui uma eternidade; com tantas coisas para resolver. O Natal já havia se transformado quaze uma doença. Estava a pensar em dormir enquanto durasse o Natal. Aproximei-me o máximo que pude por entre as pessoas que estavam no centro. Ao entrar numa loja de roupas, olhei para o lado...Numa esquina estava uma mulher aproximadamente com 40 anos segurando um lenço cobrindo-lhe o rosto. Não pude conter-me, fiquei olhando para ela fixamente e perguntava-me quem seria aquela mulher que me olhava com tanto apreço. Quando dela me aproximei, ela tocou meus cabelos e os acariciou com muito carinho, Fiquei impaciente? Conhece-me!...
A mulher disse-me baixinho que permanecesse onde estava enquanto ela ia buscar umas coisas que lhe faltavam.
Esperei um tempo , olhando ansiosa - meu coração quase parou de bater a meus pés estava duas rosas brancas.
Emocionada, compreendi o sínal? Minha mãe gostava muito de rosas brancas. Logo dei-me conta de que aquela mulher me era famíliar.
Chorei em silêncio enquanto terminava as minhas compras, com um espírito muito diferente de quando havia começado, não conseguia deixar de pensar naquela mulher.
Mais tarde comprei um ramo de rosas brancas e fui ao cemitério, sei que o corpo de minha mãe já lá não se encontrava, coloquei o ramo numa campa abandonada. Eu chorava e chorava...minha vida tinha mudado desde aquele dia, para sempre.

Gratidão


Uma garotinha de seis anos, loira de olhos amendoados se aproximou da loja de brinquedos da sua rua. E amassou o narizinho contra o vidro da vitrine. Seus olhos amendoados brilhavam quando viu um determinado objecto. Entrou na loja sem ser notada, pegou na caixinha de música que estava à sua frente e, como por magia deu corda e, a caixinha começou a tocar com a bailarina a dançar e, seus olhos sorriam de alegria. O dono da loja ouviu a música e, olhou desconfiado para a garotinha. Que estás aqui a fazer?
Sem hesitar, ela disse!..Só quero ver a caixinha de música a tocar. Desde que morreu minha mãe, nunca mais ninguem cantou para eu dormir.
O homem foi para o interior da loja, colocou a caixinha no sítio e, perguntou? Quando é o teu aniversário? A menina tímida respondeu. Não sei.
Ela saiu feliz saltitando direito a casa. Sua irmã no dia seguinte adentrou na loja, o homem tomou a caixinha, refez o embrulho com extremo carinho, colocou a fita e o devolveu à jovem.
Sua irmã não tinha dinheiro, tinha apenas algumas moedas!... Para poder fazer as suas compras.
No dia do seu aniversário, a menina de olhos amendoados voltou a sorrir! O silêncio e a emoção tomou conta do seu pequeno coração, e duas lágrimas rolaram pela face emocionada enquanto suas mãos tomavam o pequeno embrulho.
Os anos passaram, A menina de olhos amendoados, sempre que pode vai aquela rua, aquela loja. Agradece a Deus e, aquele senhor. Desde então pensa. Verdadeira doação dar-se por inteiro, sem restrições. Gratidão de quem ama não coloca límites para os gestos de ternura.

segunda-feira, julho 25, 2005

FALHAS

Mesmo sabendo que envelheço.
A cada dia, cada ano que passa.
Não esmoreço, nem esqueço o tempo que desliza.
Tudo tem um tempo...Tudo passa.
Renasci...Para o sonho vivido.
Que se fez verdade, num tempo adormecido.
Despertei num amanhã incerto.
Nos braços que não me deste.
Prefiro o relógio da vida.
Que me comanda e marca a verdade

Somos em forma tão diferentes.
Por isso te liberto das correntes.
Que as tuas palavras são a arma.
Dos teus pensamentos, sem bala.
Mesmo quando pensas saber.
De tudo aquilo que magoas, que falas.

Debruço-me sobre o tempo.
Acaricio tuas vontades.
Que me despem da dor e não me dão prazer.
Não quero sentir sombras.
Do nosso amor, que me fez não ser...
Celebrarei sempre, os dias do amor.
Os que foram só nossos.
De que mesmo ainda te amando.
Te amarei sem remorsos.

FEITIÇO

Que meu sorriso mesmo dístante.
Afastem as lágrimas do meu olhar.
A vida me magoou, aprendo a superar.
Procuro meu caminho, um raio de sol.
Eu quero estar lá , meu sonho terminou.
Estou presa na minha solidão.
Juntando pedaços de mim, que caíram no chão.
Não sei, quem sou.
Talvez eu seja uma tola ou santa.
Que acreditei num sonho.
Mas se o tempo - por estranha teimosia.
Se esqueceu de mim, e a dor não passar.
Serei apenas um vulto que foge.
Com uma mão cheia de esperança.


Com um punhado de dor.
E com um bocado do céu.
Esboçarei meu espírito, meu rosto.
Onde outro vulto surgirá.
Sem medo de errar.
Quero abraçar o mundo.
Percorrer minha estrada mal amada.
Hei-de encontrar o caminho perdido.
Recomeçar de novo.
Poder descobrir e acariciar a força que tenho.
Agarrar na mão, mundos distantes.
Poder quebrar o meu feitiço.

quarta-feira, julho 13, 2005

DEUS

Eu aqui sentada o pensamento viaja.
A tarde está linda.
Os pássaros lá fora nos ramos .
Quebram o silêncio, que o tempo separa.
A esperança desliza nas veias.
Alegrias e tristezas habitam o peito.
O sol magestoso se veste de gala.

Além do cantar dos pássaros.
Estou ouvindo algo mais.
Perguntei ao pai:
Como podes saber se preciso de ti.
Tenho a impressão de ouvir a voz do pai dizendo.
Quanto mais vazia a alma, mais barulho ela faz.

A saudade mata o coração.
Ora mergulha no passado.
Ora mergulha no presente.
As estrelas e os pássaros.
Bordam o céu e as suas vestes.
Eu sou o teu Deus.
Domino as estrelas os pássaros e seu canto.
Tu filha minha. Domino teu espírito, teu coração.

Assim . Falou o pai.

segunda-feira, julho 11, 2005

VARANDA

Debruçada na varanda.
O sol seca minha face afogueada.
Vermelha pela ansiedade de te ver.
É tarde.

Fujo, escondo-me de mim mesma.
Tarde linda, céu límpido.
A brisa fresca envolve minha mente.
E arrepia meu corpo e minha alma.
Onde me acarícia docemente.
Lembrando-me. Estou aqui.

Na carícia da Brisa.
Sinto teu toque em meus cabelos.
E de olhos fechados vejo-te.
Conheço tuas mãos tocarem minha face.
Perco-me em pensamentos loucos.
E na beleza da tarde.
Ela ilumina meu sentimento e fortalece o momento.
Deixando brilhar o instante.
Onde marca a sintonia profunda.
Dentro do meu self.

domingo, julho 10, 2005

EXISTIR

Hoje, conheci uma pessoa simpática.Foi bom conversar com ele, por momentos pensei que nossos pensamentos estavam em síntonia. É bom conhecer alguém que conhece nosso espírito logo ás primeiras palavras. É estranho , mas desde há muito tempo que não me sentia tão bem.
Quando deixamos de conversar por medo há um vazio inesperado - o vazio é sempre igual - , mas é justamente nesse vazio que a dor é diferente. Tudo o que não se disse nesse espaço se materializa e se dilata, e continua a dilatar-se. É um vazio sem portas, sem janelas, sem saídas. O que lá fica suspenso fica para sempre, está na nossa cabeça, contigo , à tua volta, envolve-nos e confunde-nos como uma neblina espessa. Olhei o relógio, dezoito horas, está sol e o calor começa abrandar. Fui à janela como procurar algo, no relvado em frente da casa aparecem manchas de relva amarela. Meu olhar parou no horizonte e minhas lembranças voaram como por magia. Tentei desistir dos meus pensamentos, mas não quero fugir à dor. Só a dor faz crescer, dizia, mas a dor deve ser enfrentada cara a cara, quem foge ou se compadece de si próprio está destinado a perder.
Vencer, perder, os termos guerreiros que empregava serviam para descrever uma luta silenciosa, interior. Segundo penso, o coração do homem é como a terra, metade iluminado pelo sol e metade na sombra. Nem mesmo os santos têm luz em todo o lado, como o corpo existe, penso eu, estamos na sombra, somos anfíbios, como as râs, uma parte de nós vive cá em baixo e a outra tende para as alturas. Viver é apenas ter consciência disso, sabê-lo, lutar para que a luz não desapareça, vencida pela sombra. Com estes pensamentos de Domingo, assumo os dias da semana de outra forma, de repente parece haver um caminho de luz à minha frente, já não me parece impossível percorrê-lo. O reino de Deus está dentro de nós, lembra-te? Digo várias vezes esta frase para me impressionar e, tentar viver feliz. O que cresce dentro de mim é apenas uma serena consciência de existir.

sexta-feira, julho 08, 2005

CARTA

Através de um registo encontrado, e escrito em África. Escrevi em nome de minha mãe uma carta, para mim própria. Datada de 1 de Maio, de 1975. Grávida de 9 meses, de meu Filho Paulo. Tinha uma enorme carência afectiva e, precisava de ouvir , ou receber uma carta de minha mãe.


Onde estás tu, meu coração? Aparece que te ponho a salvo.
E agora, coração, onde estás tu? Agora, estás aí, no meio dos caiotes e dos cactos; quando estiveres a ler isto, é muito provável que estejas aqui e que as minhas coisas estejam no sotão. As minhas palavras ter-te-ão posto a salvo? Talves só possas compreender.me quando fores mais crescida, talves possas compreender-me se tiveres feito aquele percurso misterioso que vai da intrasigência à piedade.
Piedade, repara bem, não na pena. Se sentires pena, descerei como os espíritos malignos e dar-te-ei imensas arrelias. Farei o mesmo se, em vez de humilde, fores modesta, se embriegares com palavreados vazios em vez de estares calada. Explodirão lâmpadas, os pratos voarão das prateleiras, as cuecas acabaram em cima do candeeiro, desde madrugada até noite cerrada não te deixarei em paz só um instante.
Não, não é verdade, não farei nada. Se, esteja onde estiver, arranjar maneira de te ver, só ficarei triste, como fico triste sempre que vejo uma vida desperdiçada, uma vida em que o caminho do amor nao conseguiu cumprir-se. Tem cuidado contigo. Sempre que, à medida que fores crescendo, tiveres vontade de converter as coisas erradas em coisas certas, lembra-te de que a primeira revolução a fazer é dentro de nós próprios, a primeira e a mais importante. Lutar por uma ideia sem ter uma ideia de si próprio é uma das coisas mais perigosas que se pode fazer.
Quando te sentires perdida, confusa, pensa nas árvores, lembra-te da forma como crescem. Lembra-te de que uma árvore com muita ramagem e poucas raízes é derrubada à primeira rajada de vento, e de que a linfa custa a correr numa árvore com muitas raízes e pouca ramagem. As raízes e os ramos devem crescer de igual modo, deves estar nas coisas e estar sobre as coisas, só assim poderás dar sombra e abrigo, só assim, na estação apropriada, poderás cobrir-te de flores e de frutos.
E quando à tua frente se abrirem muitas estradas e não souberes a que hás-de escolher, não metas por uma ao acaso, senta-te e espera.
Respira com a mesma profundidade confiante com que respiraste no dia em que vieste ao mundo, e sem deixares que nada te distraia, espera e volta a esperar. Fica quieta, em silêncio, e ouve o teu coração. Quando ele te falar, levanta-te, e vai para onde ele te levar. Eu estarei contigo. Sempre.

quarta-feira, julho 06, 2005

SENTIMENTO

Para não ceder a sentimentos, refugiei-me num mundo muito meu. À noite, na cama escondendo a luz com um pano, escrevia histórias até altas horas. Gostava muito de fantasiar. Durante algum tempo, sonhei que era pirata, vivia no mar da China e era um pirata muito especial, porque não roubava para mim, mas para dar tudo aos pobres. Das fantasias com bandidos passava para as filantrópicas, pensava em licenciar-me em medicina e partir para África, para tratar dos pretinhos. Aos catorze anos, li a biografia de schliemann e percebi que nunca poderia tratar das pessoas, porque a minha única e verdadeira paixão era a arqueologia. De todas as infínitas actividades que imaginei vir a exercer, creio que essa era a única verdadeiramente minha.
Existirá uma fresta por onde possamos libertar-nos do destino que nos é imposto pelo ambiente de origem, de tudo o que os nossos antepassados nos transmitiram pela via do sangue? Talvez. Quem sabe se, a certa altura, alguém não consegue entrever, na sequência claustrofóbica das gerações, um degrau mais alto e com todas as suas forças tentar lá chegar? Quebrar um anel, fazer entrar no quarto um ar diferente, aí teremos o minúsculo segredo do ciclo das vidas. Minúsculo , mas muito fatigante, terrível pela sua incerteza.
Assim, cresci com a sensação de que era algo semelhante a uma macaca que devia ser bem domesticada e não um ser humano, uma pessoa, com as suas alegrias, os seus desânimos, a sua necessidade de ser amada, uma solidão que com o passar dos anos se foi tornando enorme, uma espécie de vácuo onde eu me movia com os gestos lentos e desajeitados de um mergulhador. A solidão também nascia das perguntas, das perguntas que fazia a mim mesma e às quais não sabia responder. Já aos quatro, cinco anos olhava à minha volta e pensava: Porque estou eu aqui? Donde é que vim, de onde vêm todas as coisas que vejo à minha volta, o que há atrás delas, terão estado sempre aqui, mesmo quando eu não estava, estarão sempre? Fazia a mim própria todas as perguntas que fazem as crianças sensíveis quando começam a tomar consciência da complexidade do mundo. Assim foi aumentando a sensação de solidão, para resolver todos os enigmas só podia contar com as minhas forças. Quanto mais o tempo ia passando, mais perguntas fazia acerca de tudo, eram perguntas cada vez maiores, cada vez mais terríveis, ficava aterrorizada só de pensar nelas. Por volta dos seis anos tive o primeiro encontro com a morte.

terça-feira, julho 05, 2005

VENTO

A noite passada, houve muito vento. Era um vento tão violento que acordei várias vezes com o ruído a bater nas persianas. Também velando pelo Fábio, a temperatura não baixava. E pensava. Como as coisas mudam com os anos.
Tenho a impressão de que o uso excessivo da mente produz mais ao menos o mesmo efeito: de toda a realidade que nos rodeia só se consegue captar uma parte restrita. E nessa parte impera muitas vezes a confusão, porque está repleta de palavras, e as palavras na maioria dos casos, em vez de nos conduzirem a algum lugar mais amplo só nos obrigam a uma dança de roda.
A compreensão exige silêncio. Quando era mais jovem, não o sabia, sei-o agora, que ando pela casa muda e solitária como um peixe na sua redoma de cristal. A mente é prisioneira das palavras, o seu ritmo é o ritmo desordenado dos pensamentos; mas o coração respira, é o único orgão que pulsa, e é essa pulsação que nos permite estar em sintonia com pulsações maiores. Há coisas que dóem muito só de pensar nelas. Dizê-las dói ainda muito mais.
Hoje, acordei com um mal estar péssimo! Meu filho cheio de febre pela noite fora. Queria escrever sobre este assunto, mas minha mente não deixava. Quando não escrevo, ando pela casa, mas não encontro paz em nenhum canto. Das poucas coisas que sou capaz de fazer, não há uma única que me permita estar calma, que me permita desviar por um instante os pensamentos das lembranças tristes. Tenho a impressão de que a memória funciona mais ou menos como um congelador. Também as lembranças tristes dormitam durante muito tempo numa das inúmeras cavernas da memória, estão para ali durante anos, durante decénios, durante toda a vida. Depois, um belo dia voltam à superfície, a dor que as tinha acompanhado está de novo presente, tão intensa e pungente como naquele dia, hà muitos anos atrás.
Estou a falar de mim do meu segredo.
Mas para se contar uma história é preciso começar do princípio, e o princípio está na minha juventude, no isolamento um tanto anómalo em que eu tinha crescido e continuava a viver. No meu tempo, a inteligência era um dote bastante negativo para a mulher não devia ser mais que uma égua de criação estática adoradora. A última coisa que se podia desejar era uma mulher que fizesse perguntas, uma mulher curiosa, inquieta.
Por isso, a solidão da minha juventude foi de facto muito grande. Para falar verdade, por volta dos dezoito vinte anos, como era simpática e bastante bem parecida, tinha uma multidão de apaixonados à minha volta. Contudo, mal demonstrava que sabia falar, mal lhes abria o coração e os pensamentos que se agitavam lá dentro, à minha volta formava-se o vazio. Claro que podia calar-me e fingir que era e que não era, mas infelizmente - ou felizmente -, apesar da educação que tive, uma parte de mim ainda estava viva e essa parte recusava mostrar-se falsa.
Mas sou uma simplória, não percebia absolutamente nada do que se passava à minha volta. Havia em mim um profundo sentimento de lealdade e essa lealdade dizia - me que nunca, mas nunca, poderia enganar um homem.Pensava que um dia havia de encontrar um rapaz com quem pudesse falar até altas horas da noite, sem nunca me cansar; falando e falando chegaríamos à conclusão de que víamos as coisas da mesma maneira, que sentiamos o mesmo. Então nasceria o amor, seria um amor baseado na amizade, na estima, não na facilidade da relação amorosa.