quinta-feira, outubro 13, 2005
SILÊNCIO
Já é tarde, tive de fazer uma pausa. Dei de comer ao Fábio, comi também, arrumei a cozinha. O meu mau estar é desesperante, não gosto de sentir-me assim. A minha couraça inchada não me permite suportar por muito tempo as emoções fortes. Para continuar a escrever, tenho de me distrair, pensar no amor, de retomar fôlego.Quando estou doente, estou mais sensível. Lembranças atacam a minha sensibilidade, tento fugir ocupando minha mente, mas ela mostra-se traiçoeira e não me deixa fugir, onde meu espírito e alma retratam a menina que fui, e a saudade que ficou de minha mãe. Quem sabe, talvez na pequena parte do meu cérebro ainda activa estivesse guardada a nemória de uma época tranquila, e fosse aí que eu me refugiava nestes momentos. Esta pequena lembrança encheu-me de alegria. Nestas alturas agarramo-nos a uma coisa de nada; Lembro quando me sentava no seu colo, e não me cansava de lhe acaiciar a cabeça, de lhe pedir para me contar a história do gato das botas. Vem-me à ideia uma imagem: tinha eu quatro anos, via-a a andar pelo jardim do alto de S.João comigo pela mão, agarrando a minha boneca de trapo preferida. Eu falava com a boneca sem parar. De vez em quando, de um ponto qualquer do relvado, eu ouvia as minhas gargalhadas, uma gargalhada forte, alegre. Se nesse tempo tinha sido feliz, penso eu então, ainda poderei voltar a sê-lo. Para me fazer renascer, é dessa criança que eu tenho medo que ela possa partir. Lembro quando ela estava doente, ajoelhei-me aos pés da cama e comecei a chorar. A mãe partiu, pensava eu, foi fazer uma grande viagem até ao céu. Comia em silêncio, por vezes pegando ao colo minha boneca de trapo, fugia de casa ia até ao jardim. Ficava por muito tempo de pé no relvado, esperando minha mãe, enquanto dizia adeus para as estrelas. Porque não morri. porque não fui atrás dela, porque é que não fiz nada para a deter?Porque eu era uma criança, ficava petrificada com as minhas próprias palavras. Neste momento é urgente esquecer, que não posso dar-me ao luxo de continuar, não quero odiar, parar, meter por um atalho.. Embora tenha guardado muitos segredos durante muitos anos, agora já não é possível fazê-lo. O sîlêncio é mestre
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1 comentário:
Sim, o silencio é o mestre dos mestres. Aceita, porém, a ideia que a partilha de recordações, pode aliviar bastante as nossas magoas. Mas ATENÇÃO!!! É necessario saber quem merece essa partilha. ATMT
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