terça-feira, novembro 15, 2005

NOITE

Esta noite o tempo mudou, veio a descida de temperatura, eu à janela da varanda olhava o infínito.Começou o vento do Oeste, em poucos minutos varreu todas as nuvens do céu. Antes de começar a escrever, dei um passeio pela casa. O Dingo estava eufórico, queria brincar, saltitava a meu lado com uma bola na boca. Com as minhas poucas forças só consegui lançá-la uma vez, fez um voo muito breve, mas ele ficou contente na mesma, Depois de ter verificado que eram 3h da manhã, fui cumprimentar as fotos antigas, algumas minhas preferidas.
Enquanto olhava as fotos meu olhar parava por momentos. Sempre os mesmos pensamentos?
O amor não se entrega aos preguiçosos, para existir na sua plenitude exige por vezes gestos precisos e fortes. E comecei a compreender?Eu ocultei minha covardia e a minha indolência sob o nobre disfarce da liberdade.
A ideia do destino é algo que surge com a idade. quando se tem vinte anos, geralmente não se pensa nisso, tudo o que acontece é como se fosse fruto da nossa vontade. Sentimo-nos como um operário que, pedra sobre pedra, vai construindo à sua frente o caminho que deverá percorrer. Só muito depois é que repara que o caminho já está construído, que alguém o traçou para nós, e que só nos resta seguir em frente. É uma descoberta que costuma fazer-se por volta dos 50 anos, então começa-se a perceber que as coisas não dependem só de nós. É um momento perigoso, durante o qual não é raro escorregar-se para um fatalismo claustrofóbico. Para se ver o destino em toda a realidade, tenho que deixar passar mais alguns anos. Por volta dos sessenta, quando o caminho atrás de mim é mais comprido do que o que tenho à minha frente, vou ver uma coisa que nunca tenha visto antes: o caminho que percorri não era direito , mas cheio de encruzilhadas, a cada passo havia uma seta que apontava para uma direcção diferente; dali partia para um atalho, de acolá um carreiro cheio de ervas que se perdia nos bosques. Alguns desses desvios tive que os percorrer sem me aperceber, outros nem sequer os vi; não sei se os que não fiz me levariam a um lugar melhor ou pior; não sei, mas sinto pena. Podia fazer uma coisa e não a fiz, voltar para trás em vez de seguir em frente. O jogo da glória, lembra-me? A vida vai avançando mais ou menos da mesma forma.
Ao longo das encruzilhadas do meu caminho encontro outras vidas, conhecê-las ou não, vivê-las a fundo ou desperdiçá-las depende da escolha que faço num segundo; embora o saiba, entre seguir a direito ou fazer um desvio joga-se muitas vezes a nossa existência, a existência de quem está perto de nós.

Até as macacas, quando são criadas num laboratório asséptico e não pela própria mãe, passado um tempo entristecem e deixam-se morrer.

1 comentário:

Anónimo disse...

As 3 da manhã, é a hora ideal para meditar, já que o silencio e a calma envolve tudo à nossa volta. Espero que o tenhas feito e tenhas chegado a conclusões que te levem a uma vida mais segura e mais "madura". Bj