quarta-feira, junho 29, 2005

Memória

Eu encontrarei alguma paz nesta vida.
As lembranças estão nas minhas veias.
Por vezes deixo-me ficar vazia.
Gasto meu corpo e meu espírito.
Por uma oportunidade.
Temo minha imensidão.
Das ruínas silenciosas.
Para todo o lugar que me viro.
Existem vampiros nas esquinas.
E a tempestade continua me humilhando.
No muro construido da mentira.
Sonho e invento de tudo que não tenho.
Esta infinita tristeza que me deixa caída.
Quando ainda acredito em doces lembranças.
Na imensidão do meu quarto escuro.
Dos braços frios tento voar para longe.
Escapar de vez da minha linha recta.
Não faz nenhuma diferença.
Eu encontrarei alguma paz..
No meu poema de amor.

terça-feira, junho 21, 2005

Sempre

Eu sei como te amo em sonhos e dias.
Meu amor a vida é como o vento.
Corre e vai-se sem despedida.
O tempo me foge das mãos.
Eu me sentaria à beira mar.
E uma longa carta te escreveria.
Se eu tivesse tempo, realizava repartia.
Para dizer meu amor, és a minha vida.

Eu sei quanto te amo.
E sinto meu ar, meu sangue em ti.
Na perseguição de um sonho, só olharia para ti.
O tempo, esse parece que de nós se desvia.
O tempo é fugaz, este esvai-se.
Deixando apenas meu amor por ti.
Minha poesia é lembrança do que fica.
Meu corpo é teu, e tu viverás em mim.

Para sempre.

segunda-feira, junho 20, 2005

28 de Maio /Secção Casa pia

A maior parte das colegas que lá morreram não foi de fome mas de ódio.
Ter ódio diminui. O ódio mina o interior e ataca o sistema imunitário. O ódio acaba sempre por nos triturar por dentro. Foi preciso passar pelo que passei para perceber uma coisa tão simples.
Lembro- me quando tinha cinco anos de idade , fecharam-me na casa da lenha, os ratos por todo o lado , faziam circulo. Um deles quase roeu meu dedo anelar. Lembro dos meus gritos, ainda hoje os oiço na noite.Lembro-me da cara da freira, tinha os olhos amarelos. É a cor do ódio. Um dia não compareceu na camarata. Soube depois que tinha dado entrada no hospital onde ia ter de permanecer durante um tempo. Já não me lembro do que lhe aconteceu, mas dizia-se que tinha pacto com o Diabo.
Como é possível não ter ódio com tudo o que nos fazem sofrer? Como é possível ser maior, melhor e mais nobre que aquelas carrascos sem rosto. Como é possível ultrapassar os sentimentos de vingança e destruição?
Quando constatei que, eu não odiava, era sempre a primeira a perdoar, e tentar compreender o que estaria por tráz dos actos daquela gente, Havia algumas nas quais era visível o ódio, compreendi que elas seriam sempre as primeiras vítimas. Quem me ajudou a confirmar essa ideia foi Deus, o número 23, era assim que eu o imaginava, dando-lhe esse número. Dizia para comigo que ele se tinha enganado na profissão. Que fazia ele no céu? Devia ser carrasco.
Um dia fiz greve de fala. Mantive-me em silêncio profundo, nem uma palavra. Nem um gesto.
Esse sistema quase as enlouquecia , começavam a bater-me com a regua e a gritar, acompanhada de ameaças e insultos. . Por vezes a dor era difícil . Eu fingia que estava morta,
era eu e o silêncio combinado com as trevas.
Só pedia a Deus luz para poder afugentar aqueles bichos assassinos. Quantas vezes repeti para mim mesma: Estás bem Luisa, mas quiseram matar-te.
Tinha nascido para sevir, para executar qualquer tarefa da mais trivial à mais atròz. Nem um único sentimento. Nem uma única dúvida. Recebia ordens e cumpria-as com a firmesa do metal. Torturavam as opositoras ao regime com cuidado de um especialista. A dor já era minha companheira. Lutava para não cortarem meus longos cabelos louros, era a minha única ligação a mim mesma. Um dia na capela, pedia perdão a Deus em voz alta: peço-te que me perdoes, tenho sido má, terrivelmente má. Cuspia na comida delas, e deitava-lhe areia, desejo-lhes uma morte lenta e dolorosa. Mereço arder no inferno por tudo o que lhes faço. Mas Deus não me castigou. Não me recordo ao certo do dia, sei que era de noite, eu dormia por baixo da luz do Senhor. O tecto caíu por cima de duas colegas minhas, e tudo ardeu. Lembro que elas morreram queimadas. De cima duma janela os bombeiros conseguiram entrar, e mandaram-me pela janela para cima dum lençol.Eu chorei como nunca me lembro de o fazer. Apesar da minha pouca idade, eu sabia que a esperança era uma negação? A esperança era uma mentira com as virtudes de um calmante. Para ultrapassá-la, era necessário a gente preparar-se quotidianamente para o pior. Aquelas que não percebiam isso eram invadidas por um violento desespero que lhes causava a morte. Para me conseguir reerguer...Concentro-me e penso únicamento nas pessoas que amo , e nos amigos. E utilizo todas as minhas forças para Deus.

sábado, junho 18, 2005

Águas correntes

Acordei cedo pela manhã, forçada pelo incessante buzinar de um carro, e esfreguei os olhos, sentindo a regidez do corpo. Não tinha dormido bem, tive pesadelos, a acordar depois de cada pesadelo, e recordar-me de ver os ponteiros do relógio em diferentes posições durante a noite, como a confirmar a passagem do tempo.Levantei-me, e olhei para fora da janela e observei um passarito a pálrar e passeando na relva amarela por falta de água, procurava alimento.Eu sempre fui uma pessoa madrugadora saudo sempre a aurora à minha maneira. Em África, levantava-me cedo para observar o nascer do sol. Muitas vezes tinha de me escapulir de mansinho para o fazer, porque não era permitido, mas nunca fui apanhada. Depois fui tomar banho, precisava sentir água na cabeça, tinha dores, mas precisava de me molhar para alegrar a minha manhã, para observar o começo de outro dia, e conclui que provavelmente sim.
Saí de casa, o ar passava-me frio na pele, quaze áspero, e o céu era uma neblina de cores diferentes: Por causa das longas horas no trabalho, e a vida de certa maneira complicada, fica-me pouco tempo para ir ver o meu tejo. Sentar-me nas suas margens e escrever como era hábito...alguma coisa teve de ser abandonada. Existe algo de especial, quaze místico, em passar a aurora no rio, pensei para mim, e hà muito tempo que não o fazia. Dantes, quando trabalhava em Lisboa, ia muito cedo, e fazia-o quaze todos os dias. Estivesse sol e céu limpo, ou frio ou nublado, isso nunca me importava enquanto movia os remos ao ritmo da música dentro da minha cabeça, era lindo o Tejo, visto da Lapa. Passei a manhã a andar por Mem - Martins. Estava com depressão tinha feito as minhas compras, mas não podia ver sinais de regresso. Suprimi um sentimento de tristeza quanto ao voltar para casa, esperando que o meu humor pode-se melhorar.
Passei diante de uma galeria de arte, quaze não a vendo, concentrada nos meus pensamentos, virei.me e voltei para trás. Fiz uma pausa á porta por um segundo, surpreendida por não ter visitado nenhuma há tanto tempo. Pelo menos dois anos, ou talvez mais. Porque é que as tinha evitado?
Quanto mais pensava naquilo, tanto mais gostava, e admirava porque me recordava o meu próprio trabalho. Talvez eu devesse começar a pintar.
É mesmo quaze meio - dia? Dois minutos mais tarde estava no carro, a conduzir para casa, antevendo o dia, muito triste.

Calculo que tenha de fazer algo especial, para passar bem o dia.

sexta-feira, junho 17, 2005

Pomba

Caído do céu, como uma mensagem ou um engano.Um pombo ou uma pomba caiu em frente ao vidro do meu carro em andamento, e caíra no silêncio da minha espessa escuridão interior. Parei o carro, é uma pomba. Tenho a certeza.
Meus olhos conteram as lágrimas, para mim, era um acontecimento vindo do céu. Eu chorava como faço muitas vezes, quaze nem dou por isso. Era uma crise de dor de momento de muitos momentos. Aconteceu algo que eu não poderia ter previsto.
A pomba voava às cegas, batendo no vidro do carro. Quando caíu, aconcheguei-me a ela e, morreu nos meus braços. Por momentos fiquei feliz como uma criança. Falava com a pomba, dizia-lhe que ela tinha sido um sinal do destino, ou de Deus. Ela veio como mensageira para me salvar e pagou com a própria vida. Enquanto guiava o carro meu pensamento parou em frente a uma menina de oito anos de idade, meus olhos fixaram sua pureza, viram coisas que aconteceram com ela. Recalcada pelos acontecimentos, meus olhos se encheram de lágrimas, minha mente parou...nem reparei que vinha em sentido proibido. Chorei convulsivamente - Ó pomba minha, símbolo da paz e da alegria, se estás aqui hoje é porque Deus teve piedade de mim. A pomba chegara sózinha . Era a pomba do acaso. Ficámos juntas durante uns minutos e, suavemente meti-a dentro dum saco plastico, e coloquei-a no lixo. Vim para casa no meu dia-a-dia. Contudo, pensei. Um dia seria livre como ela e nunca mais choraria.
Hoje , perdi o sentido da minha orientação, vi borboletas a sobrevoarem a morte vestida de branco? Era uma imagem dolorosa. Assim se sucederam outras coisas na minha cabeça.

Obrigado Senhor. Por me amares.

quarta-feira, junho 15, 2005

HOMEM

Desde pequenina, que me lembro de ouvir infinitas histórias sobre o homem.
Então muitas começavam assim...

Homem superior/ Homem vulgar.
Aquele que é um homem superior é o que não perdeu a inocência e a candura da sua infância.

O homem superior pretende que todas as suas acções virtuosas passem despercebidas aos homens, mas a cada dia que passa, revelam-se com maior esplendor; contrariamente, o homem vulgar realiza ostensivamente as acções virtuosas, mas elas desvanecem-se rapidamente. A conduta do sábio é como a água: carece de sabor, mas a todos agrada; carece de cor, mas é bela e atraente; carece de forma, mas adapta-se com simplicidade e ordem às mais variadas figuras.

O que o homem superior procura está em si mesmo; o que os homens inferiores procuram está nos outros.

O homem superior tem o espírito tolerante para todos os homens e não é um partidário; o homem inferior é um partidário que não tem espírito tolerante.

O homem superior compreende o que é direito ; o homem inferior compreende o que quer vender

segunda-feira, junho 13, 2005

JOGO

Ao nascermos e vivermos num certo grupo social, estabelecemos com ele um laço indestrutível. Conforme amamos o nosso pai, a nossa mãe, o nosso irmão, amamos a nossa nação, o nosso partido, o nosso povo. São os nossos objectos de amor primários. E amamo-los mesmo quando não estamos concientes. Só nos apercebemos disso quando estamos longe e sentimos saudade. Ou então, quando são ameaçados ou agredidos.
Há outros amores, os que nos fazem partir para a objectividade, mas muitas vezes por egoismo ou porque nem nos apercebemos disso acabamos por jogar sentimentos, e fazer deles cobaias.
Além disso, a sociedade em que nascemos contagia-nos, enche-nos com os seus conceitos, e os seus valores, os seus tabus, A ética, as concepções com as quais observa e entende o mundo. Por esse mesmo motivo o jogo começa a ser aprendido, e um bom aluno começa a saber jogar também.Fá-lo com a linguagem, com o ensinamento dos pais, com a escola, com as mil experiências de todos os dias que partilhamos uns com os outros. É através da comunidade que aprendemos crenças, valores, medos, lugares - comuns, preconceitos e depois, ódios, amores preferências, repugnâncias. Este tumulto de paixões e sentimentos forja a nossa sensibilidade, a nossa moral, o nosso gosto. A partir deste método o jogo duplo começa, e ninguém quer perder.
Muitas vezes acaba por modelar a nossa maneira de pensar e ferir os nossos sentimentos, até que um deles desista.
O jogo começa forte, enraíza-se na base dos nossos sentimentos positivos e negativos, produz simpatias e antipatias imediatas. Basta um gesto, uma palavra, um símbolo, um canto para desencadear em nós reacções violentas de amor ou de ódio, de aceitação ou de desagrado.
A capacidade de avaliar com um minimo de objectividade é, por isso, uma meta difícil de alcançar. Não se obtém com a espontaneidade, deixando-nos andar ao sabor do vento, e do impulso. A dor essa começa a apertar forte, e contorna nosso espírito , obtém-se apenas com o exercício, do sofrimento e da frustação, destacando-nos do mundo, tomando as devidas distâncias das nossas paixões, dos nossos interesses. Até que consigamos ver-nos e julgar-nos do exterior, como se fôssemos estrangeiros. Até que nos tornemos capazes de olhar o mundo sob o ponto de vista dos outros, com os seus próprios olhos. Não pode haver jogos ou objectividades desleais no amor. Muitas vezes o feitiço pode virar-se contra o feiticeiro.

sábado, junho 11, 2005

ILHA

Os pensamentos que escolho são geralmente as ferramentas que utilizo para pintar a tela da minha vida. Sou muito mais que o meu corpo e a minha personalidade. O espírito interior é sempre maravilhoso e cheio de amor, por mais que queira ser diferente, por mais que a minha aparência exterior mude.
Para mim...Todas as teorias do mundo não têm qualquer valor a não ser que resultem em acção, mudança positiva e, finalmente em cura.
Hoje , meu querido blog estou triste, busco refúgio, dentro de mim . Eu sou a minha ilha pessoal, poderia, também, aparecer como uma ilha subjectiva, que só existe dentro de mim própria, onde posso criar a minha própria imaginação, mas com o mesmo significado e poder. Ou então surgir de uma forma de um sistema filosófico, ideológico ou religioso coerente com a natureza de quem busca refúgio. Buda, num caso agudo de percepção psicológica e espíritual, oferecia a si mesmo e a sua doutrina como ilha ou refúgio para todo o sofrimento causado pela ignorãncia, pelo ódio, pelos apegos.
Nestes dias quando me confronto com a realidade, vivo e luto para sobreviver, aquilo que permite a saída da monotomia do quotidiano,da mediocridade do meio hurbano moderno, das neuroses colectivas, do caos que constantemente ameaça tragar a minha precária individualidade. Através da experiência da minha pequena ilha pessoal aproximo-me da grande ilha impessoal , o self - a ilha sagrada que flutua no mais profundo do meu ser.
Sempre que me lembro do mestre, penso que no mundo há provavelmente mais mestres interessados em ensinar do que alunos capacitados a receber ensinamentos. Há uma lei esotérica fundamental, conhecida como lei da transmissão do conhecimento.Essa lei diz que o conhecimento é material: ele tem um peso, uma densidade, uma substância em tudo análoga à substância material. O aluno precisa do mestre para sair do limbo da própria ignorância, mas o mestre também precisa do aluno, pois sem ele a sua qualidade de mestre perde completamente o significado. Daí a minha grande preocupação, é encontrar alunos capacitados para receber aquilo que eu poderei ensinar sem me julgarem louca. O deserto costuma marcar profundamente aqueles que com ele se defrontam de coração aberto. na ilha, mesmo nesta da memória, recupero o meu eixo criativo. A ilha acolhe-me sempre, e nunca me traiu.

segunda-feira, junho 06, 2005

MUNDO CRUEL

Às vezes, ao invés da esperança.
Fechamos a nossa alma definitivamente.
E bem no fundo da nossa alma.
Colocamos trancas e não abrimos mais.
Finjo não me aperceber da minha clausura.
Da passagem fechada à chave onde ninguém entra.
Daí ter que admitir isso.

Assim acabo, por me acomodar.
E não me abrindo para as pessoas que eu amo.
Porque não quero que ningém invada.
A porta que eu tranquei.
Não gosto que me leiam os pensamentos.
Que saibam quando ando à deriva.
Preciso ter histórias para contar.
Duma existência passada em solidão.
Dum mundo cruel sem limites.
Que me botaram para a vida.
Onde fui capaz de caminhar para a frente.

Um dia, talvez venha a entender.
Que precisei de sofrer várias provações.
E receber alguma recompensa.
É que nada acontece por acaso.

( Ou será que acontece? )