segunda-feira, junho 13, 2005

JOGO

Ao nascermos e vivermos num certo grupo social, estabelecemos com ele um laço indestrutível. Conforme amamos o nosso pai, a nossa mãe, o nosso irmão, amamos a nossa nação, o nosso partido, o nosso povo. São os nossos objectos de amor primários. E amamo-los mesmo quando não estamos concientes. Só nos apercebemos disso quando estamos longe e sentimos saudade. Ou então, quando são ameaçados ou agredidos.
Há outros amores, os que nos fazem partir para a objectividade, mas muitas vezes por egoismo ou porque nem nos apercebemos disso acabamos por jogar sentimentos, e fazer deles cobaias.
Além disso, a sociedade em que nascemos contagia-nos, enche-nos com os seus conceitos, e os seus valores, os seus tabus, A ética, as concepções com as quais observa e entende o mundo. Por esse mesmo motivo o jogo começa a ser aprendido, e um bom aluno começa a saber jogar também.Fá-lo com a linguagem, com o ensinamento dos pais, com a escola, com as mil experiências de todos os dias que partilhamos uns com os outros. É através da comunidade que aprendemos crenças, valores, medos, lugares - comuns, preconceitos e depois, ódios, amores preferências, repugnâncias. Este tumulto de paixões e sentimentos forja a nossa sensibilidade, a nossa moral, o nosso gosto. A partir deste método o jogo duplo começa, e ninguém quer perder.
Muitas vezes acaba por modelar a nossa maneira de pensar e ferir os nossos sentimentos, até que um deles desista.
O jogo começa forte, enraíza-se na base dos nossos sentimentos positivos e negativos, produz simpatias e antipatias imediatas. Basta um gesto, uma palavra, um símbolo, um canto para desencadear em nós reacções violentas de amor ou de ódio, de aceitação ou de desagrado.
A capacidade de avaliar com um minimo de objectividade é, por isso, uma meta difícil de alcançar. Não se obtém com a espontaneidade, deixando-nos andar ao sabor do vento, e do impulso. A dor essa começa a apertar forte, e contorna nosso espírito , obtém-se apenas com o exercício, do sofrimento e da frustação, destacando-nos do mundo, tomando as devidas distâncias das nossas paixões, dos nossos interesses. Até que consigamos ver-nos e julgar-nos do exterior, como se fôssemos estrangeiros. Até que nos tornemos capazes de olhar o mundo sob o ponto de vista dos outros, com os seus próprios olhos. Não pode haver jogos ou objectividades desleais no amor. Muitas vezes o feitiço pode virar-se contra o feiticeiro.

2 comentários:

Anónimo disse...

Cara amiga, venho agradecer as suas palavras sempre amáveis com que brinda os Sete Ofícios e este Pássaro Distante. Venho também pedir a sua ajuda, uma vez que no seu comentário ao meu poema «Na Luz da Garganta» afirmou que o mesmo era de Ciclia Pavan, o que me deixou deveras admirado. Um abraço do Pássaro Distante

Anónimo disse...

Como dizes e bem, o jogo está em nós. Em todos nós. Mas não interpretes mal alguns factos que podem parecer, podem ter as mesmas caracteristicas que um jogo,.......mas não é.
É preciso estar atento para perceber essas pequenas diferenças.
Um abraço amigo.