terça-feira, junho 20, 2006

José carlos

O inverno passou lento, pesado, frio, cortante e destruidor. Alguns idosos cuja fraca seiva vital se esgotou no maior consumo de energias enlutaram algumas famílias do bairro Lopes.
A primavera desejada voltou, trazendo consigo o calor do sol e os ventos cortantes de frio deram lugar às brisas das manhãs calmas.
Nas encostas batidas pelos raios solares e abrigadas da brisa mais fresca do mar nas noites ainda longas, as primeiras flores silvestres animaram a paisagem salpicada de pétalas branca e rosa.









Nas tardes mornas, a sombra dos salgueiros junto ao ribeiro que cantava de águas cristalinas, era o nosso ponte de encontro marcado, fora do bairro, libertos dos olhares indiscretos e recriminatórios das velhas, repositório da moral e dos bons costumes tradicionais. O nosso amor, a nossa meninice e a nossa pureza magoava as suas consciências cristalizadas de uma infância, distante, perdida e talvez mal vivida.
Saltitávamos de mão dada, pés descalços pela corrente fresca, segurando na outra mão os chinelos descalços que tinham que voltar secos.
Assustávamos os cardumes de pequenas enguias e os pássaros que, como nós, pipilavam na música da primavera renovadora da natureza no seu eterno movimento.
Guardo na memória José Carlos, e a frescura dessas tardes, a beleza da sua fresca meninice, o sabor dos seus beijos na face perfumados, a sinceridade ingénua das nossas promessas de amor e a sua lembrança serve-me de suave alento nos dias frios de inverno que se vai instalando no aproximar do outono da vida.

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