Prometeras vir e eu nem sequer me interrogava da verdade dessa presença que seria o presente mais importante que o Pai-Natal, em que eu já não acreditava, me poderia oferecer.

Como qualquer criança que coloca o sapatinho na chaminé e fica na cama, fingindo dormir, mas à escuta do mais leve ruído na cozinha, eu escutava quaisquer rangidos que me anunciassem os teus passos.
As badaladas do sino a cada quarto de hora, a cada hora, mantinham a minha cabeça desperta do sono e aumentavam a ansiedade e a angústia do tempo que passavam sem que deslumbrasse a tua imagem ao virar da esquina.
Segurava entre as mãos regeladas um frasquinho de lavanda, que comprei com as moedas tiradas do mealheiro com a ponta da faca, para que o meu pai não percebesse que gastava o dinheiro que pedia pelos santos populares, especialmente no dia de Santo Antonio.
Gostaria de ter um ramo de flores para te oferecer mas em Dezembro não havia flores, e assim, aquela água de colonia seria a minha primeira prenda, que irias guardar com tanta ansiedade como a que eu sentia quando a comprei sem conseguir evitar um sorriso trocista da Senhora da drogaria.
O sino bateu as doze badaladas e tu não apareceste. Em cada casa soavam as vozes alegres da ceia e os cântigos de graças pelo Menino que acabara de nascer.
Eu guardei o frasco na algibeira do bibe crispando as mãos e rangendo os dentes de frio, de dor e desilusão.
Na esquina da rua chocámos no nevoeiro, tu corrias ao meu encontro enquanto todos ceavam.
Aquela visão foi a minha melhor prenda de Natal.

1 comentário:
Lindo. Real ou ficção, é simplesmente lindo.
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