Cada momento que vivemos deixou a sua marca, o seu traço, o seu caracter na escrita de cada página deste livro que é a nossa vida.
O passado, embora haja quem diga que não existe, o meu passado sou eu. Não vale a pena arrependermo-nos nem sequer voltar a trás. Não há movimento para trás. Não há retorno nem retrocesso, nem sequer podemos reduzir a velocidade, para descansar, fazer uma pausa.
Resta-nos esta maravilhosa faculdade da memória. É uma riqueza incalculável de que dispomos podermos evocar, na nossa mente, momentos distantes no tempo mas presentes em nós.

Como é bom poder estar hoje a ouvir música enquanto escrevo estas linhas e nelas vou registando, partilhando com quem vier a lê-las as lembranças da minha infância. A quinta com os seus vales e outeiros, as cores, a multiplicidade de cores que o campo nos oferece, os animais que fazem parte da família, a frescura do ribeiro, a música da corrente, o chilrear dos pássaros, a luz de cada manhã de primavera, o silêncio das noites do campo apenas quebrado pelo estridular dos grilos. os cheiros, os aromas da natureza, da terra, das plantas, das flores e dos frutos. O cheiro da noite, da terra húmida, do orvalho da manhã.
Lembro os livros que li. Não os livros nem os seus autores, nunca decoro o nome dos autores, o que eu lembro é o prazer que dava ler, às escondidas do meu pai, os livros que um amigo mais velho me emprestava. Aquela leitura escondida fazia de mim um ser importante, lia as coisas que os outros não liam, corria a minha mente por tempos e espaços que eram só meus, falava com aquelas personagens como se fossem minhas amigas elas faziam parte do meu mundo.
Com que saudade eu me lembro da Hirondina! Aquela manhã em que juntas almoçávamos pão com banha de porco junto ao pequeno ribeiro da quinta, à sombra das figueiras por onde a luz da manhã passava em reflexos de arco-íris. A Hirondina era mais velha que eu. As figueiras rodavam por cima de nós e eu sentia-me louca pendurada nos seus ramos, era uma sensação maravilhosa, até explodir e ficarmos ambas a arfar de cansaço e de alegria.
Como tenho saudade, desse tempo, da minha infância

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