quinta-feira, março 31, 2005

LIMITAÇÔES

Em tempos decidi que queria viver de acordo com a minha fílosofia, não podia funcionar nos velhos conceitos mentais . Eu acredito que no fim tudo contribui para o melhor. Minha vida não tinha sentido, era raro o dia que eu não chora-se, sempre preocupada com aquilo que não disse. quando estamos no meio do turbilhão é muito difícil ver as coisas tão friamente, recordo constantemente experiências negativas por que eu tenha passado. Faço agora uma retrospectiva e vejo como o mundo foi cruel comigo. Encontrei pessoas boas, é nelas que penso todos os dias com carinho, amizade e gratidão. Cada um de nós está totalmente ligado ao Universo e á vida. O poder está dentro de nós para expandir os horizontes da nossa consciência. Gosto de escrever minha mão desliza como por magia, agora quero espandir-me ainda um pouco mais, quero percorrer o caminho que Deus me destinou, e sentir-me segura e salva nas minhas próprias limitações.Consigo recordar as pessoas que no início da minha vida me ajudaram muitissimo, numa altura em que eu não tinha maneira de retríbuir. Anos mais tarde também eu tive a oportunidade de ajudar outras pessoas sem estar à espera da retribuição. Muitos dos nossos problemas partem precisamente da nossa incapacidade para receber, sabemos dar, mas é tão difícil receber.Viemos ao mundo para amarmos a nós próprios e ao próximo. Ao proceder deste modo , encontro as respostas para a minha cura e a cura do planeta. As coisas são o que são. Todos nós somos viajantes numa caminhada sem fím atravéz da eternidade, e voltamos cá, vida após vida. Eu acredito que aquilo que não resolvemos nesta vida, voltamos cá na vida seguinte para o resolver. Penso por mais espirítual que uma pessoa seja, de vez em quando é preciso lavar a loiça. Não podemos empilhar pratos no lava-loiça e dizer " lavem-se porque eu sou metafísico". O mesmo se passa com os nossos sentimentos. Um dia escreverei para todo o mundo ler, e poder compreender como podemos ter uma mente que pode fluir livremente, e então saberemos lavar a loiça suja que se empilhou dentro de nós.
Preciso de subir ao castelo de Sintra, que sempre esteve ali, e nunca tive a curiosidade de vê-lo de perto. Preciso de conversar com a mulher que há muitos anos entra nos meus sonhos, de rosto tapado com um lenço. Muitas vezes entra nos meus sonhos, e eu nunca lhe pedi para tirar o lenço, e ver seu rosto, ou talvez, justamente por isso, fosse bom dividir com ela a minha história. Poder conversar com ela, e perguntar se ela me ama, que as visões do Paraíso e de seu amor me perseguem no meu dormir inconstante, e obriga-me a refugiar-me num outro mundo. Todos os dias da minha vida, vivo uma realidade separada. Rio, quando tenho vontade de chorar. E já pouco choro, minha fonte secou, mas quando o faço, dou graças a Deus. E graças a isso, ainda sou capaz de saber o que se passa á minha volta. Durante anos permaneci dentro de mim - Deixei de me envergonhar, deixei de ter ambições, mas as visões não me largam, e permanecem para onde eu vá. Nos momentos da minha meditação, vejo o mundo e as pessoas a meu redor, Deus está em cada uma delas. Está dentro de mim.
Da mesma maneira que tenho a absoluta certeza, que a imagem que me persegue no meu dormir, tem a minha ternura e o meu amor. Penso que é uma maneira de retribuir todo o amor, que Deus e as pessoas me dão todos os dias.
É apenas um sonho louco. Nunca passará à realidade.

quarta-feira, março 23, 2005

CONTRATEMPOS

De: Marta
Para : Luisa


Teus olhos são ternura, são cor de mel.
Tu és um poema que todos querem ler.
És suave com as pétalas desabrochando em plena primavera.
Teu coração é um vulcão em chama.
E todos por ti clamão.

Este meu poema pode não rimar.
Mas é a ti que eu quero dar.
Para te poder dizer que...


Na vida há contratempos.
Contratempos que não nos deixam viver.
Mas para vivermos só temos que os esquecer.
A vida pode não assim ser.
Mas é assim que a tens de ver.
Só assim mais feliz irás ser.


Amadora, 22 de Março de 2005


Luisa juntas te dedicamos este poema.

Inêz e Marta

segunda-feira, março 21, 2005

GAVETA

Dentro do meu corpo, no fundo, mora a alma.
A alma entra dentro de nós na hora em que nascemos.
A alma é feita de gavetas.
Pois cada uma delas tem a chave para ela só.
Puxo pelo puxador, e vejo tudo o que está dentro dela.
Hoje abri a gaveta do silêncio.
A chave a rodar e a gaveta abrir.
E minha alma voa e por momentos se liberta.

Tudo o que sinto tem uma gaveta.
A gaveta da alegria e a gaveta da tristeza.
A gaveta da desilusão e a gaveta do desespero.
E a gaveta dos segredos mais escondidos.
Essa gaveta evito abrir.
Nela estão as minhas dores e meus ais.

Quando a gaveta da raiva se abre.
Tento fechá-la, mas ela não para de se zangar.
Há quem a ouça muitas vezes.
Há quem a oiça raras vezes.
E há quem a oiça uma única vez na vida.
Ainda não houve quem a visse.
Mas todos sabem que ela existe.
Como também sabem o que tem lá dentro.


Hoje, dia internacional da poesia. Decerto que todos os poetas têm gavetas. Ah, isso é mesmo muito fácil de abrir, mas tenham cuidado - não as podemos abrir de qualquer maneira.

sábado, março 19, 2005

MESTRE

Em África, aprendi um exercício que consestia em cravar a unha do indicador no polegar sempre que pensasse que ia fazer alguma asneira. As terríveis consequências dos pensamentos negativos são entendidos mais tarde. Mas, fazendo com que esses pensamentos se manifestem no plano físico atravéz da dor, compreendemos o mal que nos causam. E acabamos por os evitar.
Digo para mim. O tempo do medo acabou; agora começa o tempo da esperança.
O mestre dizia-me...As decisões de Deus são mesteriosas; mas estão sempre a nosso favor, pense com cuidado no que você irá fazer hoje. E amanhã. E no resto dos seus dias. Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios.
Quando ele me olhava com ternura, eu sentia e sabia que aquele homem era divino. Ele sabia ler minha alma atravéz dos meus olhos.
Muita gente tem medo da felicidade. Para essas pessoas, esta palavra significa mudar uma série de hábitos - e perder a sua própria identidade. Muitas vezes julgamo-nos indignos das coisas boas que nos acontecem.Não as aceitamos, porque aceitá-las dá-nos a sensação de que ficamos a dever alguma coisa a Deus.
Pensamos: É melhor não provar o cálice da alegria porque, quando ele nos faltar , iremos sofrer muito.
Por medo de diminuir, deixamos de crescer. Por medo de chorar, deixamos de rir.
Somos seres preocupados em agir, fazer, resolver, providenciar. Estamos sempre a tentar planear uma coisa, concluir outra, descobrir uma terceira. Não há nada de errado nisso - afinal de contas, é assim que construimos e modifícamos o mundo. Mas o acto do amor faz parte da esperiência da vida. Parar de vez em quando sair de nós mesmos, permanecer em silêncio diante do universo. Ajoelhar-nos com o corpo e a alma.Sem pedir , sem pensar, sem mesmo agradecer por nada.
Apenas viver o amor calado que nos envolve.

Nesses momentos, algumas lágrimas inesperadas - que não são de alegria nem de tristeza - podem jorrar. Não nos podemos surpreender. Isso é um dom. Essas lágrimas estão a lavar a nossa alma.
Se aceitarmos esse amor com pureza e humildade, percebemos que o amor não é dar ou receber, é participar. mas eu confio no meu amor, meu coração. Confio que irei dividir este amor com .quem merece ou necessite.

sexta-feira, março 18, 2005

PORQUÊ

Porque sofri e Deus não me ouviu. Porque - muitas vezes na minha vida - tentei amar com todo o meu coração e o amor acabou pisado,traído. Se Deus é amor, devia ter cuidado melhor dos meus sentimentos.
Hoje mais um ciclo da minha vida findou, uma história que poderia ser linda acabou, de maneira estranha. Detesto o cínismo, covardia e maldade. Tenho que expulsar tudo isto da minha vida. Quando descobri isto numa pessoa que eu amei, acordei. Decidi que a partir de hoje serei uma Luisa oposta daquela que conheci, que habitava em mim.. Hoje meu coração ficou frio, mas chorei como não o fazia à muito tempo.Os medos , a covardia e a maldade destroiem os homens ,e nem por um segundo tem vontade de ver tudo o que é maravilhoso - porque amanhã pode acabar e vamos sofrer.
Os Deuses jogam dados e não perguntam se queremos participar no jogo. Não querem saber se deixámos, uma casa, um trabalho, uma carreira, um sonho. Os deuses não ligam para o facto de que temos uma vida onde cada coisa tem o seu canto, onde cada desejo pode ser conseguido com trabalho e persistência. Os deuses não levam em conta os nossos planos, as nossas esperanças; em algum lugar do universo, eles jogam os dados - e você por acaso, é o escolhido. A partir daí, ganhar ou perder é uma questão de sorte.
Os deuses jogam os dados e libertam o amor da sua jaula. A força que pode criar ou destruir - dependendo da direcção em que o vento soprava no momento em que ele saíu da minha vida.
Por emquanto esta força está a soprar para o lado dele. Mas os ventos são tão caprichosos como os deuses - e, no mais fundo do meu ser, eu começo a sentir algumas rajadas.
O destino mais uma vez me quiz mostrar que o ser humano é complexo e ardiloso - e o universo sempre conspira a favor dos sonhadores.
Por mim, este assunto nem teria surgido. Mas - uma vez que surgiu - não consigo deixar de pensar nele.
Amar é perigoso. Amar é como uma droga.
No momento que isso acontece, assim como os viciados roubam e se humilham para conseguir o que precisam, tu estás disposto a fazer qualquer coisa pelo amor.
Que exemplo horrível - penso eu. Enquanto escrevo minha alma clama e olha longo tempo para a névoa do meu coração. Fechei os olhos dava a sensação que perdi a vontade de navegar no meu rio, as suas águas estavam perigosas. Eu estava a ser dura, mas não havia outra alternativa. Meu orgulho de mulher está ferido, porque eu começo a sentir as tempestades que os ventos do amor trazem consigo.Eu começo já a sentir um furo na parede da represa.

quinta-feira, março 17, 2005

DEMASIADO

A canção do Elvis, era para mim um momento de grande emoção, Nas grades da sala de costura, encostava minha pequena cabeça loira.Como eu gostava de ouvir Elvis...Eu sabia que estava a ser cruel comigo mesma.Sonhava em ir para casa para perto dos meus irmãos. Talvez não no amanhã, mas podia ser em breve. Adorava ouvir a canção( Eu adoro Mã).Sonhava com natais brancos com a minha família.Estava sempre no meu espírito, sempre alguem ouvindo meu soluçar se aproximava. Não chores pequenina. Amava a memória da minha mãe só ela poderia compreender-me, saberia que eu não queria estar presa. Minha alma é de passarinho, eu estava quaze a enlouquecer.
Ao acordar, olhei à minha volta com uma sensação de irrealidade. Tinha cortado a artéria do pé, tinha acontecido outra vez. Penso que Deus estava zangado comigo não me queria junto dele. Era o meu segundo esgotamento nervoso, o sangue corria com muita força, comecei a sentir sono ,e não me lembro de mais nada! Tentei tomar consciência de todas aquelas coisas que deveriam ser-me tão famíliares, mas agora parecem ligar-me a um passado que me custa a crer que tivesse vivido. Estremeço ao lembrar-me de Elvis, a sua música volta a flutuar diante dos meus ouvidos . Outro estremecimento; inspiro freneticamente o ar pesado da salinha, para impedir-me de mergulhar outra vez na escuridão.Tinham chamado o médico depois de me encontrarem em estado de choque, estava morta por dentro. Estava novamente a comprimidos, desta uma dose mais forte.Durante algum tempo, até que o médico, que estava pouco à vontade , se sentiu na obrigação de me dar uma lição de moral. Não dei muito atenção ao que ele me dizia, os meus pensamentos estavam em Carminha e a carta. A carta!
Apalpei o bolso do roupão, à procura dela.Não estava lá. Alguém a tirou enquanto estive inconsciente. Tinha de me levantar e ir à casa de banho, cambaleante, o médico lançou-me um olhar supreendido. Sussurrei, para onde teria ido novamente a minha voz? O médico quaze me levou ao colo atè à casa de banho, empurrando a porta com um pé e apoiando-me contra a parede.
A tensão e a frustação cresceram dentro de mim.Estava destruída. Furiosa. Vi a tesoura no peitoril da janela. Peguei nela. Era fria e dura. Queria que alguém partilha-se o meu sofrimento, alivia-se a minha dor, mas ninguem se importava mesmo que eu morre-se, ninguem queria uma parte da carga.
Comecei a escortanhar meus longos cabelos. Compridas madeixas louras caíram no lavatório e no chão enquanto eu cortava junto ao couro cabeludo, deixando pontas espetadas em todas as direcções.A tesoura estava embotada. O que não consegui cortar, arranquei da cabeça, aos punhados, deixando manchas sangrentas, Insensível à dor. A angústia mental sobrepunha-se ao sofrimento físico. Estava a chorar a gritar. Já não tinha controlo sobre mim própria ou sobre o que fosse. Seria tão fácil morrer. Tão fácil morrer.
As palavras da carta esbateram-se. No lugar delas havia só escuridão. O túnel escuro, o meu refúgio querido e familiar, o meu santuário.
Estava a mergulhar novamente no esquecimento, e grata por isso.
Aquilo era demasiado. Demasiado

terça-feira, março 15, 2005

ALMA

A minha alma é tão profunda como os rios.
Eu fiz meu espírito banhar-se nas águas do tejo.
E as suas águas cantaram-me uma canção de embalar.
Ouvi o canto dos golfinhos.
E vi suas águas tornarem-se douradas ao entardecer.

Nas produndezas , vi um deus que nos esmaga.
E vi outro que nos liberta com seu amor.
Dentro da água límpida, vi o que estava dentro de mim.
O perdão é uma estrada de dois sentidos.
E minha alma se libertou. Suspirou.
E então seguirei a aorora nas águas do rio.
E buscarei minha alma através do tempo.
Nas correntes magnéticas que desaguam no oceano.
Eu me encontrarei em todas as águas que formam a alma do mundo.

sábado, março 12, 2005

ESCUTO

Escuto mas não sei - Se o que oiço é silêncio.
Escuto o ressoar das montanhas no meu vazio.
Por companheira tenho a voz que dormita.
Apenas sei que caminho com harpas de areia.
Me dói a lua me soluça o mar.
Pelos rostos do silêncio e de paciência.
Pela nudez das palavras deslumbradas.

Escuto o poema que me levará no tempo.
Minha passagem se confundirá.
Com o rumor do mar com o passar do vento.
Mesmo que eu morra o poema me encontrará.
Numa praia caída onde quebrarei suas ondas.
E escuto... Minha alma de funda e devorada solidão.

Ó poema. Quem te escutará.
Estarás entre mãos de quem te lê.
Habitarás no espaço mais atento.
Juntos enfrentaremos o terror do silêncio.
Escuto...Onde paira a verdade para perder o medo.

sexta-feira, março 11, 2005

MANHÃ

- Hoje de manhã, quaze que me convencia que estou a fícar estupida. Penso o dia inteiro. Nestes três dias minha cabeça andou á roda, mais do que em todo o ano passado. Ele passa a mão na minha cabeça, sem dizer nada. Eu sinto o seu toque, e nada faço para afastá-lo. Conta-me um pouco do que fazes durante o dia - pediu-me.
- Não tem grandes mistérios. Existe o meu caminho e eu faço o possível por percorrê-lo com dignidade. Qual é o teu caminho?
- O caminho de quem procura paz e o amor. Ele fica, por um momento a brincar com meu rosto sempre caído. - E o amor é um caminho complicado - concluiu. Porque nesse caminho, ou as coisas nos levam ao céu, ou nos lançam no inferno - digo , sem ter a certeza de que me estou a referir a ele. Ele não diz nada. Talvez ainda esteja mergulhado no oceano do silêncio, mas a ira soltou outra vez a minha língua, e sinto a necessidade de falar. Tu disseste que algo neste mundo mudou o teu rumo. Acho que mudou tudo mesmo eu, por isso te digo estas coisas - É um teste? Não. É uma entrega. Para que ela me ajude a tomar a melhor decisão. Sinto raiva não sei de quê, e fico surpreendida com a minha reacção. Quero é que tu me respondas. Sempre que começamos a falar de certos assuntos, tu começas a falar de outras coisas. A luta interior parece ter acalmado e não quero voltar a despertá-la. Eu não estou a conseguir seguir as palavras dele. E ele apercebe-se disso. Agora minha mente está completamente envolta pela escuridão e pela bruma.Começo a imaginar-me na água, no ventre materno - onde o tempo e o pensamento não existem. Eu não sou a menina dele - Ouve um durante onde eu passei um longo calvário, onde a aparição se tornou mulher - Ninguém pode ser a árvore e o fruto ao mesmo tempo.
A neblina dos meus olhos começava a levantar. Por momentos voltei á minha casinha no alpendre - Sinto meus cabelos afagados - Sinto frio e quero tomar um café. Naquele minuto de sonho acordado, estavam alguns momentos de alegria que eu hoje vivi. Naquele minuto foi como um beijo de amor, o resumo da minha vida, da vida de qualquer pessoa que espera por dias melhores, sonha e busca o seu caminho debaixo do sol. Fui para o trabalho com nostálgia, era como percorrer os rios da minha infância, onde nesse momento eu ia ao encontro do meu rio. O rio que tinha um signifícado .O amor.

quarta-feira, março 02, 2005

RENASCER

Eu estou sempre a renascer. Cada nova manhã é o momento de recomeçar a viver. Há muitos anos que eu recomeço o meu dia da mesma maneira - e isto não significa uma rotina mecânica, mas algo de essencial para a minha visão espíritual.
Acordo, vou para o trabalho, no carro, ligo o rádio tentando ouvir as minhas músicas preferidas, oiço na suavidade de meu espírito, dois prelúdios e uma fuga de Bach. estas músicas da minha mente funcionam como uma benção para o meu dia de trabalho. Mas também é uma maneira de retomar o contacto com o mistério da vida, com o milagre de fazer parte da raça humana.
Mesmo fazendo isto há muitos anos, a música que está dentro dos meus sentidos nunca é a mesma - ela ensina-me sempre algo de novo, fantástico, inacreditável. Eu precisava de transmitir este segredo a um homem que eu conhecesse bem. Os que parecem muito vírtuosos, geralmente escondem a vaidade, o orgulho, a intolerânçia. Por isso escolhi o único discípulo no qual eu podia ver o defeito: o resmungão. Nestes momentos, no meu silêncio oiço a tál voz. A voz do meu coração, onde tudo parece a fuga de Bach e eu vou ao seu encontro entre as nuvens da liberdade. Sua voz me dita. Ao contrário do que tu pensas, tu encontraste-me durante toda a vida. Eu estava nua e tu vestiste-me. Eu tive fome e tu deste-me de comer. Eu estava presa e tu vesitaste-me. Eu estava em todos os pobres do teu caminho. Muito obrigado por tantos presentes de amor.

terça-feira, março 01, 2005

ROTINA

Bastou apenas cinco minutos de conversa para verifícar que tudo continuava na mesma, o meu sofrimento duma vida não tinha fím. Eu estou afectada física e psicologicamente, meu lar é uma instítuição, onde o chefe comanda, onde o síndrome do pânico se apodera de mim. Estou a ficar grávemente doente com a doença recem-admitida nos anais da psiquiatria universal. Acontece que as pessoas afectadas com esta doença costumam escondê-la, com medo de serem confundidas com loucos. É apenas um desequilíbrio químico no organismo, como é o caso da depressão. Estou confusa , tensa, irritada comigo mesma, aprendi desde muito cedo a controlar as minhas emoções, manter um ar frio, distante, fazer com que tivesse vergonha, medo, raiva, hoje tenho vontade de matá-los, feri-los com palavras que não ousava dizer. Tomo comprimidos, estou a tornar-me numa mulher demasiado frágil cansada, muitas vezes tento abandonar os meus pensamentos para não tomar atítudes. Preciso de me sentir gente, saber reagir com ironia, ou então ter a coragem de desejar a morte. Fui para a rua andar um pouco, deixando que o frio entrasse no meu corpo, e acalmasse o sangue desesperado que corre depressa , acalmar meu coração que batia rápido de mais. Enquanto andava pensava que a minha vida já não tinha importãncia, tinha que acabar por aceitar o que a vida me tinha imposto. Na meninice e na adolescência, não pensava que era demasiado cedo para escolher; agora, na minha idade, era tarde de mais para mudar, só poderá eventualmente ter uma saída. Essa eu tenho a chave. Sacrifiquei muitos dos meus desejos, para que meus filhos me continuassem a amar como me amavam em crianças, embora sabendo que o verdadeiro amor se modifica com o tempo, e cresce, e descobre novas maneiras de se expressar. Quantos sonhos eu tive, sonhava casar com um homem que fosse díferente, que ganhasse apenas o sufíciente para sustentar a família, que gostasse de ópera de bailado, que desse atenção aos meus poemas, que não me amasse, mas gostasse de mim. Poder olhar as montanhas ver as flores crescendo, poder contemplar o céu e dizer que há estrelas. Em casa é como combater o inimigo - e depois ter que aguentar consequências imprevisíveis, como vingança. Nunca vou conseguir o que desejava na vida , chego á conclusão que a minha existência não tem sentido, porque todos os dias são iguais. É como morrer todos os dias um bocadinho. Adaptar-me à rotina imposta pela casa: acordar cedo, café da manhã, ir para o trabalho, almoço, trabalho, ir para casa, jantar televisão e cama. Obedecer às ordens e regulamentos do Sr. X. A minha única saída é afastar-me de tudo e de todos, tentar de todas as maneiras conquistar o que nunca tive. Respeito por mim mesma.


Seja como a fonte que transborda e não como o tanque que contém sempre a mesma água.