terça-feira, abril 12, 2005

AUSÊNCIA

Dizia para comigo:
Enquanto, olhava as águas profundas do pontão. Açores.
Pensava...A fé não é o medo. O suicídio não é uma solução. A provação é um desafio. A resistência é um dever e não uma obrigação: Conservar a dignidade o amor que eu sinto no meu peito, quaze consegue mover as águas do mar. Essa é a minha missão. Permanecer de pé, ser uma mulher, que ama, chora, ri, sofre com o mundo, mas serei sempre uma mulher, nunca um trapo, um farrapo ou um erro.. Não condenarei nunca aqueles, que me abandonaram em combate, que queriam que eu cede-se à tortura e que me deixa-se morrer. Aprendi nunca julgar as pessoas. Com que direito o faria? Não passo duma mulher como as demais, com vontade de não ceder. De onde vem esta vontade? De muito longe. Da minha infância.Da minha mãe que o seu único pecado foi amar demais os seus filhos. A minha mãe não esperava nada do meu pai, um bom vivant, um monstro egoista, um dandy que se esquecera que tinha família e que gastava todo o dinheiro com mulheres. Porque ele nunca me amou. Porquê? Infelizmente, demorei anos a compreênder, quando me destaparam os olhos só vi escuridão. E pensei que agora, estava numa prisão concebida por mim, onde estarei sempre às escuras. Sei que sou uma obsecada com uma coisa: O tempo. Um número 20587.
O tempo é o relógio e a minha ligação à vida deixada para trás ou por cima da minha cabeça.
Aquela luz, vinda do céu, é um sinal de Deus, da sua bondade. Senti-me calma, em paz e pronta para voltar a caminhar. Abri a carteira, precisava de me ver ao espelho, a chuva e o vento deixou marcas no meu rosto. Vendo meu rosto no espelho, meus olhos brilhavam. Eram talvez lágrimas ou talvez o sentimento que me enchia o peito.. Durante todo o trajecto reinou um silêncio pesado. Tentei manter a cabeça baixa. Acho que estava a chorar.
Quanto mais avanço, mais confiante me torno. Rezo, falo com Deus, sonho comigo em criança, e às vezes deixo meu corpo e observo-me com uma espectadora. Confesso que é muito difícil atingir esse estado, essa serenidade. Também lembro foi isso que minha mãe me ensinou. Lembro quando o pai a magoava gastando todo o dinheiro para as despesas da casa, ela renunciava a tudo, sem dizer a mais pequena maldade sobre esse homem, ensinava-nos a sermos responsáveis por nós mesmos. As fúrias dele, as injustiças, sempre me atingiam. Sempre admirei a mãe por nunca perder o sangue frio. A única altura em que perdia a cabeça era quando eu me escondia debaixo das camas. Depois de me bater com o chinelo dizia: Vocês são todos meus filhos, mas tu és a minha doninha. A minha menina, és os meus olhos, a minha respiração. Durante anos, ia fechar-me dentro do armário onde estava pendurados alguns dos seus vestidos. Ali, podia sentir o seu perfume, que vinha da sua roupa.
Enquanto caminho, falo com minha mãe, hoje olhei o mar e não encontrei teu rosto nas águas. Aos poucos vais mudando de sítios, só não sais do meu coração. Mas chegou a hora de te dizer Adeus! Adeus.
Chegara a hora. Tinha que tentar esquecer seu rosto, deixar de viver a sua vida, libertar-me.
Deixar a execução sumária ou sessões infinitas de tortura, ser eu...Viver para as pessoas que eu amo.
Caminho, e limpo as lágrimas e digo para mim mesma - Ajuda-me, mãe, ajuda-me a lembrar-me quem sou. Ou pelo menos quem era. Sinto-me tão perdida. Olho as águas oiço uma vóz dentro de mim - Tu és a minha menina, uma amante da vida, uma força para aqueles que partilham da tua amizade. És uma criadora de felicidade, uma artista que amou e ajudou dezenas de almas. Viveste uma vida cheia e nunca nada te faltou porque as tuas necessidades são espírituais e só tens de olhar par dentro de ti. És bondosa e leal e és capaz de ver beleza onde os outros não vêem. És uma professora de maravilhosas lições, uma sonhadora de coisas melhores. Paro por momento e retomo o fôlego. Depois: - Luisa, não há motivo para te sentires perdida, porque:
Nada está de facto perdido, nem pode ser perdido.
Nascimento, Identidade, forma. As cinzas que não ficaram de fogos anteriores...Devidamente não se inflamarão outra vez.
No silêncio, dos meus passos, olho o mar e vejo que a chuva já parou. O sol começa a filtrar-se dentro do meu coração, e fui para o hotel.
Ao relatar este dia; Pergunto: Se fui eu que escrevi isto? Não. Foi a minha alma.
Sou apenas...Uma amante de palavras, uma modeladora de pensamentos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá Luísa, vejo que a sua estadia em Ponta Delgada foi deveras inspiradora. Agradeço a sua visita ao meu quintal, o problema é quando se perde a chave do portão... Um abraço do Pássaro Distante