Mas eu não me preparara para tudo aquilo. Depois de visitar boa parte do vale, e sem querer perder qualquer detalhe do espectáculo do pôr do sol, decidi subir sózinha a encosta da serra de Sintra. Sem pensar nas difículdades - caminhar nas regiões muito altas exige esforço ainda maior - enfrentei a subida íngreme. Em meia hora venci a escalada, o coração a saltar-me pela boca. Lá em cima, bem perto da borda sentei-me sobre uma grande pedra e esperei que o fôlego voltasse. No chão, juntei os pés, olhei o céu pareceu-me um cristal transparente e brilhante atraiu o meu olhar. Pensei. Como eu ali em cima era livre, e podia procurar o meu self, e tive consciência de que com aquele acto incorporava a própria natureza.
Uma emoção inesplicável tomou-me quando me senti imersa na própria substância móvel daquela borboleta cósmica. E, num sobressalto, reconheci a presença: era a minha mãe, vinha dos ventos para me acariciar.Quando ouvi então uma voz falar dentro de mim: Sim, sou tua mãe. Sou a voz do vento e vim dizer-te que és a minha menina e eu estarei onde estiveres, e sempre te vou proteger.O vento não sabe de onde venho e nem para onde vou. Não procures tantos signifícados e explicações, não formules tantas perguntas. Apenas ama as pessoas por mim. Ama o mundo, e dança no vento , solta teu espírito confia em mim. Tu foste feita para voar, não para te manterem prisioneira. Tu és feita para dançar no ar, como danças nos teus sonhos. Não talvez com esse teu corpo de menina, mas certamente com os teus outros corpos. Irás dançar como corpo das tuas emoções, do teu sentir e do teu pensar. Irás dançar com o corpo da tua alma. Basta deixar rolar, deixar rolar o teu amor.
A visão desfez-se. Abri os olhos. O vento cessou e a noite caíra sobre o vale de Sintra. Tudo estava em paz quando desci a encosta em direcção aos meus filhos que me esperavam lá em baixo. Não sei quanto tempo fiquei lá em cima parada, absorta, vivendo a mesma indestrutível magia.
Foi essa providência que me permitiu experimentar, com o tempo e tranquilidade, a forte vibração que emana daquelas paisagens. E reflecti sobre o signifícado daquela magia.
Até hoje não sei bem por qual razão Sintra despertou em mim uma afeição tão especial por todos os seres humanos.. A humildade inundou meu coração e meditei sobre o segredo e magia daquele dia.

1 comentário:
Deixa, deixa rolar o amor.
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