terça-feira, dezembro 29, 2009

Amanhecer


Hoje fui madrugada desmaiada.
E fui traço impreciso.
Desenhado a negro.
Em tela escura.

Hoje fui sol sem o fulgor de outros sóis.
Os braços timidos feridos de desumanidade.
O sorriso debruado a mágoa.
O olhar sulcado de riachos.

E vi também sonhos.
Em túmulos de incredualidade.
Escutei o desabar do meu sofrer.

Ainda hoje serei lua.
Desenfeitada de luz.
Estrela pálida cinzelada no horizonte.
A aguardar o ribombar da dor.
E o acordar da aurora estiolada em mim.

quarta-feira, dezembro 23, 2009

Alma minha


Por um instante.
Destingui-te além.
Envolto em azul e ouro.
E aroma da terra molhada.
E nesse instante pulsante de eternidade.
Rememorei-te em teias de luz distante.
Inflamada de momentos.
da dor da tua ausência.

deslaço-a em mim.
Colo de quimeras mil.
Porque...
Na tua ausência.
A dor é pilar em mim.
E então foste broto.
Que a brisa embalou.
A vida mutilada.
Que a morte usurpou.
No chão da vida.

quarta-feira, novembro 11, 2009

Silêncio


O silêncio cai. Exprimindo mais sentidos do que aqueles que alguma vez conseguirei descrever. E, no entanto, a mágoa não sai. Permanece nos locais mais escondidos. Perfurando todas as extremidades do meu ser.
Ao meu lado, a chama não se apaga.
E a busca perdida de um amado. A que a natureza permite a entrada, não deixa que o desespero se afogue.
Não somos nós também feitos de água? Então deixemos que a pureza nos atinja. Que se, de alguma forma, ela afasta a mágoa. É meu direito pedir-lhe que não fuja.
E no ar ficou a dor e o vazio. Um gosto amargo na boca, Um buraco no peito.
É onde mora a saudade da falta que ele me faz!
O silêncio cai.

quinta-feira, outubro 29, 2009

Se eu chorar


Se eu chorar, não tenhas piedade, nem compaixão, porque é um sentimento lindo. É o extremo de um poeta, que seria de nós, se não tivéssemos o pranto como companheiro, a lua e o sol como rima.
E a solidão como sina?
Que seria de nós poetas, se apenas rissemos, ora, ora, rir. Todos riem, se apenas aplaudissemos, aplaudir todos aplaudem, mas poucos têm a grandiosidade de mostrar o seu pranto.
Se eu chorar sei que me ouvirás, se eu fracassar, tua mão me estenderás.
Fica comigo, aqui, quietinho, houve meu pranto como das criançinhas.
Ouve meu silêncio, sou como o pássaro que se delicia com a água do pranto do seu banho.
Sou como as aves que batem as asas felizes ao encontrarem-se.
Senta-te a meu lado, acaricia-me como a um cãozinho feliz ao chegar o seu dono.
Se eu ainda chorar.
Chora um pouco comigo, quem sabe se não é do teu pranto que tanto preciso?
Se não conseguires, não te vás, tem pelo menos a delicadeza de esperar.
Quem sabe se ao te ver, meu delirio possa acordar, e um sorriso te possa dar.
Então terá valido a pena esperar.
Mas, se eu chorar ainda mais, não fujas, fica.

sexta-feira, setembro 25, 2009

2ª parte de palavras de sempre

Ó Deus, reconheço-te nas provações por que estou a passar.
Permite, ó Deus, que a tua satisfação seja a minha satisfação.
Que eu seja a Tua alegria, aquela alegria que um pai sente por um filho.
E que eu me lembre de Ti com tranquilidade e determinação.
Mesmo quando é difícil eu dizer que te amo.

terça-feira, agosto 04, 2009

terça-feira, junho 30, 2009

segunda-feira, junho 22, 2009

Boneca pobre


Esta história nasceu da necessidade de compreender as relações entre as memórias, as lembranças, histórias da vida e as vivências do entorno social, e familiar. Com a finalidade de cada um deles se dê conta de que aquilo que ela viveu até hoje fez com que ela se tornasse o que ela é hoje.

Olhos grudados na banca da feira da ladra. Uma menina olhava uma boneca pobre, vestida de menina do campo, cabelos louros, e grandes olhos amendoados, e rosto rosado queimado pelo sol.
Dedo na boca, a menina olhava com ternura, e desejo de possuir aquela linda boneca e correr e mostrar no colégio para as suas colegas. Pensava - elas morreriam de inveja. Que boneca pobre, mas linda. Estava tão embevecida que se assustou com a mulher da banca da feira, quando perguntou? Queres esta boneca. Só então voltou à realidade da sua vida, olhou para o seu aspecto de menina pobre, sentiu o seu estômago gritar de fome, lembrou-se das noites de frio, da solidão, dos abusos dos adultos, no seu espírito puro, não entendia, porque ela não podia ter aquela boneca vestida de menina pobre e de cara de papelão.
Afastou-se da banca com lágrimas nos olhos, mas ainda deitou um último olhar na direcção da boneca pobre que ficou na banca da feira da ladra. E olhou para tráz, olhando para a pobre boneca como a desafiá-la. Foi juntar-se ao pai, sem esperanças. Chorou muito lembrava-se de como a mulher da banca a sacudiu; A menina não fizera mal nenhum, só estava a olhar, e coitadinha pensava!!! na sua inocência pediu a Deus que lhe desse uma boneca como aquela, no Natal, e uma mãe.
Foi para o colégio nessa Segunda - Feira. Quando a menina entrou, uma Freira vestida de branco, aproximou-se para a receber, parecia estar envolta numa luz branca, trazia nas mãos um embrulho.
Aproximou-se dela, e sorrindo disse: É teu, vamos abre!.
Quando abriu o embrulho, os olhos da menina arregalaram-se.
- Meu Deus, é a minha boneca pobre! Exclamou. - É para mim...?
-Sim! - respondeu a Freira - ouvi o teu pedido. É a tua boneca...Gostas. -É linda - disse a menina com os seus olhos cor de amendoa marejados de lágrimas - é a mais bonita que já vi...
A alegria envolveu a pequenita que sorrindo abraçou a Freira com carinho. E, finalmente, perguntou - agora só falta a minha mãe?
Sorrindo, a Freira respondeu.
Eu sou a tua mãe...Estou em espírito sempre que pensares em mim, e me chamares. Eu estarei sempre aqui, embora não me possas ver, estarei na tua boneca.
Aconchegou-se à boneca e adormeceu. Passaram muitos anos, e ainda hoje quando se vai deitar, olha o céu em silêncio e diz baixinho...Até amanhã, mãe.

terça-feira, junho 16, 2009

Se souberes o que sou


Se souberes o que sou.
Sem ligares ao que pareço.
O amor será um templo maior.
E a alegria sem ter dor.

Se souberes o que sou.
No teu pensamento, e na descoberta.
Te darei o meu amor, o meu espírito.
Para deixar o teu silêncio, adormecer-te docemente.

Se souberes o que sou.
Que o sonho vive ainda apesar deste cansaço.
Porque o momento é agora e nunca antes.
Dum corpo a fingir que é forte de tão frágil.

Se souberes o que sou.
Covardemente aquietei-me, na ira dos dias.
Serenamente, atropelei meu coração.
Pelo amanhecer na fúria de mais um dia.

sábado, maio 23, 2009

LUZ


A leste, levantava-se uma lua quaze cheia.

Que se tinha tornado azulada com o sól acabado de se pôr.

As maçãs de prata da lua, as maçãs de ouro do sol.

Realismo, sensualidade, beleza, magia.

Apelam às minhas raízes da alma.

Sentia-me como o vento, meu espírito deslizava com ele.


E o pó da estrada, erguendo-se por detrás de mim.

Eu olhei-o com olhos que tinham visto.

Os espaços inexplorados do céu e sua música distante.

E as palavras do poema vieram-me à cabeça.

Levantara-se uma cor encarniçada.

O céu iluminava-se.

E eu, perseguia a luz.

E os últimos raios de sol incidiam.

Uma vez mais, nas zonas voltadas a oeste.

Noutra dimensão das coisas, paralelas a mim.

terça-feira, maio 19, 2009

BARCO


A noite avançava.

E a grande dança em espiral continuava.

Som e sombra, percorria as velhas sensações.
Encontrando o seu caminho.

Á luz dos reflexos gélidos do sol.

Que se derretiam na erva da Primavera.

Encarnadas do Outono.
Andei às voltas durante mil anos.

A letra de um cântigo ao sol.

Dos indios navajos.

E o céu sussurrou-me as visões que ele trazia.

Sons, pequenos sons ininteligíveis.

Saiam da sua boca como fogo
E por fím descobria o significado.

De todas as pequenas pegadas.

Em todas as praias desertas.

Por onde alguma vez caminhara.

E de todas as cargas secretas.

Levadas por navios do amor.

Que jamais haviam navegado.

E de todos os rostos velados.

Que a viram passar por ruas.

Sinuosas de crepusculares.

O amanhecer, ergueu-se.

A sua solidão desvaneceu-se finalmente.

Finalmente. Vinha de tão longe.




















domingo, maio 17, 2009

SENHOR


Senhor.

Quando nada souber projectar.

Quando nada puder fazer.

Quando a força.

De lutar me abandonar.

Quando os sonhos morrerem.

Que eu esteja como a flor.

Disponível.

para continuar no amor

sexta-feira, maio 15, 2009

Obrigado


Obrigado pelas flores. Ficam no blog, a jarra é o meu coração.

quinta-feira, maio 14, 2009

ELA


Sentada junto à janela, ela olhava para a chuva e recordava. Levou o chá para a cozinha e deteve-se por um momento, a olhar para o sítio exacto onde tinham estado últimamente os dois.

Os sentimentos dentro dela eram avassaladores, como sempre haviam sido. Tão fortes que, com o passar dos dias, só se tinha atrevido a recordá-los detalhadamente uma vez por outra ou a mente ter-se-ia desintegrado com a força emocional.

Tinha que sobreviver, e abster-se de recordar o passado. O novo sentimento, era como se tivesse tomado posse dela em todas as suas dimensões.

Agora ao pensar nos últimos anos, quaze lhe parecia uma coisa normal - espíritual. Espíritual, mas não normal. Ele, é tão poderoso que ela tinha medo, ele era fisicamente poderoso, mas usava a sua força com cuidado.

No entanto, era algo mais do que isso. Mas ele simplesmente apropriara-se dos sentimentos dela.

Ela devia ter percebido no momento em que o vira ir ao encontro dela para lhe dar o seu apoio, e perguntar o que se passava com ela. Nessa altura já lhe tinha parecido um xamã, e essa sua primeira impressão estava certo.

Já não tentava impedir que ele voltasse ou manda-se mensagens, as imagens eram claras e reais e estavam ali. Depois de tanto tempo, mas, lentamente, voltavam a ser a sua realidade, a única em que lhe interessava viver.

Sabia que estava cheia de problemas, e que andava na faixa étaria dos cinquenta. Não podia pensar nisso, não podia concebê-lo nem sequer conceber que pudesse concebê-lo. Ele estava com ela na sua frente,com a camisa branca, e os seus lindos cabelos cinzentos, os sapatos castanhos, a pulseira e a corrente de prata em volta do pescoço. Estava ali acariciando os seus cabelos.

Finalmente, ela afastou-se e agarrou-lhe a mão e entraram na casa de chá para lancharem.

E ela começava a perder a consciência, a respirar com mais força, e deixá-lo levá-la onde ele quizesse e a lugares estranhos.

Com a cara enterrada no pescoço dele e a pele tocando a dele, ela cheirava o mar e o fumo a lenha, ouvia o apitos dos comboios, saindo das estações. E ela murmurava suavemente, sem fôlego: Oh... estou a perder-me.

Ela não fazia ideia do que ele queria dizer, sabia apenas que, de certo modo, ele os tinha atado aos dois e tinha apertado tanto a corda em volta de ambos que ela teria sufocado se não tivesse sido a libertação de si mesma. Ao entardecer, ergueu-se ligeiramente e disse, olhando-a nos olhos.

É, por isso que estou neste planeta, neste momento. Não é para viajar nem tirar fotografias, mas para te amar.

Agora sei-o, tenho estado a cair da beira de um lugar muito grande, muito alto, algures no passado, durante mais anos do que os que vivi nesta vida. Durante todos esses anos, estive a cair para ti.

Sim ? Olhou para ele. Oh, meu Deus, estou amar de novo, pensou, sentindo-se trémula, desejando-o ainda mais, sem descanso. Que vamos fazer? perguntou ele.

Ela ficou em silêncio, um silêncio profundo. Depois disse suavemente. Não sei.

Ela só sabia, tinha o direito de ser feliz

Ele continuava...se não gostas de viajar, abrirei uma loja em qualquer sítio e farei tudo ou o que for preciso para nos sustentar, tu és o meu caminho, onde a ilusão se encontra com a realidade, é ai que tu estás, ai no caminho, e tu és o caminho.

Mas, no fundo, sou apenas um homem. E todas as especulações filosóficas que eu possa configurar não me impedem de te desejar todos os dias, desde que te conheci, todos os minutos, nem o impiedoso grito do tempo, do tempo que nunca pude passar contigo, dentro da minha cabeça.

Amo-te, profunda e plenamente. E amar-te-ei para sempre.

terça-feira, abril 28, 2009

Foi




Foi preciso mergulhar no teu amor.
Nos teus braços, para fazer-me canção de mulher.
Dentro dos teus anseios entrando no teu coração abrasado.
E sem receios nos meus lábios escondi.
O teu beijo roubado encharcado de poesias de mim.
E no meu sonho encantado continuarei amar-te eternamente.
Perdi-me dentro dos teus mares profundos.
Nos teus momentos constantes.
Para descobrir em ti novos mundos.
Foi preciso perder-me na vida.
Para te encontrar seguir em frente.
Esqueci os meus medos.
E para ti desnudei de vez os meus segredos.

quarta-feira, abril 08, 2009

A diferença

A diferença, aquilo que marca uma mudança vital na nossa existência, é quando conseguimos passar da reacção à acção, quando nos apercebemos que o que sentimos depende, em grande medida, do que pensamos, e não do que nos está a acontecer. Então, assumimos que podemos realmente controlar e provocar as nossas emoções, mais além do que imaginávamos. Podemos ser felizes ou infelizes, colocando o nosso cérebro a nosso favor ou, pelo contrário, pondo-o contra nós.
Penso, que o Universo não foi desenhado a pensar na comodidade dos seres humanos...Cada vez que evito um perigo que me assola, uma ameaça mais sofisticada aparece no horizonte...De cada vez que venço alguma doença, surgem outras complicações.
Sei que os processos naturais não têm em conta os desejos humanos. São como o acaso, em contraste com a ordem que tento estabelecer.
Como dizia tucídides: Recordai-vos que o secreto da felicidade está na liberdade e o segredo da liberdade está na coragem.
E também, já nos dizia KafKa que a felicidade suprime a velhice.
Acrescento que a sensibilidade engrandece o ser humano e acompanha as pessoas autenticamente privilegiadas; pessoas que são capazes de sentir onde os outros não chegam, de viver e comover-se, mas pessoas que sabém agir com suficiente inteligência emocional para não se afundarem num poço sem fundo
Andei paralisada durante muito tempo, pelo medo e desorientada por não entender o que se estava a passar no meu interior, que não era outra coisa senão o estar a crescer, a amadurecer, a dar um salto enorme no meu desenvolvimento espíritual.
As situações, por complicadas que sejam, têm o seu lado positivo. O presente é o que nos pertence, não posso dispersar as minhas energias, nem perder as esperanças. Se realmente a vida me ensinou algo de útil, se de algo me vale a experiência, é para saber que não existe o regresso.

terça-feira, abril 07, 2009

Cida


Cida gostei muito da tua imagem. Acabei por colocá-la no meu blog. Bj

humor




favorecer o sentido de humor ajuda-me a racionalizar e a distanciar-me nas situações mais delicadas; aproxima-me do ponto de equilíbrio; favorece a minha criatividade, inclusive na resolução de problemas; dirige as minhas energias e aproxima-me desse estado de satisfação e bem-estar que toda a mente sã deseja.
Hoje conheci uma pessoa, numa das reuniões que eu assisto. Finda a reunião, simpaticamento dirigiu-se a mim e perguntou-me?
O humor é certamente o antídoto por excelência do seu olhar triste; respondi que ensinaram-me a desenvolver o sentido de humor, sem querer ser evasiva, a verdade é que às vezes sim e às vezes não. Depende das pessoas que tenham estado a meu lado, do carácter que tivessem , de como encarassem a vida...,ainda que dependa também do temperamento com o qual tenha nascido, da minha agilidade mental, da minha rapidez...Assim se passou hora e meia de conversa. Há muito tempo que não me sentia feliz como hoje...O tempo passou nem me apercebi, que estava na hora de ir para casa...Ele continuava!!!, não obstante, o sentido de humor da Luisa estará incompleto se não for acompanhado,por uma sensibilidade equilibrada; ou seja, uma sensibilidade que longe de fomentar a sua vulnerabilidade, favoreça a elaboração de defesas conformes com as agressões de que possa ser objecto. Os meus colegas podiam ser, e afectivamente eram-no , pessoas realmente mesquinhas, salvo algumas que tinha no coração, como a Eduarda e Ritinha. A chefe bastante nova, é o típico perfil de pessoa generosa e inteligente, que se compadece da pandilha dos imprestáveis. Ele trata-se de um profissional muito brilhante, com uma capacidade de empatia e comunicação invejável, como há vários anos não conhecia.Eu encontrava-me tão acabrunhada, que a única saída que via era sempre dizer..., tenho que ir embora. Até breve

Silêncio

Aprendo com o meu silêncio.
As dores da alma não deixam recados.
Pelas tuas mãos medi o mundo.
No silêncio, da dança, brisa, ramagens e segredos.
Mas tudo vai apagando teus sinais.
Dum amor que acabou com traição sem piedade.

Aprendo com o meu o silêncio.
Para que eu me possa ouvir.
Que a solidão não é o pior castigo.
Tudo tem um ciclo.
Extraindo da dor a capacidade de me fortalecer.
Imagens tão mudas.
Que olhá-las me pareço.
Que fechei os meus olhos.

Aprendo com o meu silêncio.
E em vão eu busco tua face antiga.
Não quero seguir o caminho.
Da dor e da lamentação.
Até o ar azul se tornou grades.
E a luz do sol se tornou impura.
O silêncio da verdade continua.
O meu também.

terça-feira, março 10, 2009

Pensamentos




Os meus pensamentos, são os responsáveis pelas minhas emoções. Tenho aprendido ao longo da minha vida, se, controlar os meus pensamentos, controlarei tudo o que se passa à minha volta. Estas frases digo a mim mesma todos os dias. Talvez algumas pessoas se questionem se isto não será negar a realidade; Essa perspectiva é bastante lógica, mas eu pedir-lhes-ia que analisassem a que leva afundar-nos emocionalmente. Pareço fria, mas tento enfrentar as realidades da vida, que adianta massacrar-me ao comprovar que a vida é injusta, que há crianças que continuam a ter fome e a sofrer calamidades. Não será melhor canalizar as minhas emoções e energias para aquelas situações, que vão estar fora do meu alcance?


Tenho que adoptar uma postura, mais combativa, posso tentar sentir-me melhor, ainda que a realidade que viva seja difícil. Por vezes fico sem forças ao tentar, esta postura de forma desesperada destes últimos meses e, dia após dia, todos os meus amigos e pessoas próximas me perguntavam o que tinha, dado que sofrera um notório desgaste físico.


Tenho tentado concentrar todos os meus esforços em ( fugir ) da difícil situação em que estou a viver, em vez de pensar que a saída está dentro de mim própria. O meu mestre espíritual, dizia-me tanta vez!!!Aprende um princípio - chave: o presente pertence-nos. Tento esquecer e perdoar, para poder sentir-me bem, apesar das circunstâncias, ou posso deixar-me levar por elas. Apesar de tudo, tenho a liberdade dos meus pensamentos, posso fazer o meu trabalho cantarolando por dentro ou massacrando-me sem piedade, posso amar ou menosprezar, querer ou detestar, sorrir ou chorar, gritar ou conversar. Ainda que tenha de madrugar todos os próximos meses ou anos, até os meus pensamentos se apagarem.

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

ALTERNATIVAS


Hoje estou sózinha.Manuel foi a um jantar, só de homens da Força Aérea, Filipe foi convidado por ser militar. Não me sinto só, na medida que aprecio o meu espaço, pouco me apetece falar, não quero ser esponja: não quero absorver a anergia que há à minha volta. Mesmo com os amigos próximos, evito a queixar-me e a compadecer-me, de tal forma que sinto que posso esgotar as pessoas próximas e acabo por causar uma rejeição generalizada.
Pessoalmente prefiro escrever, a tristeza como a alegria, contagia com facilidade. É mais fácil deixar-me contagiar pelo pessimismo reinante do que remar contra a corrente e esforçar-me por encontrar caminhos que me ajudem a superar esta crise; mas não duvido que o melhor que posso fazer com alguém que neste instante, não vê nenhuma saída é, primeiro, conseguir que se sinta ouvido, segundo, que se sinta compreendido e, terceiro, que perceba que há alternativas que não tinha visto anteriormente!
Para eu poder sair desta situação difícel, um requesito prévio é que ele acredite que há opções e isso conseguilo-ei mais facilmente a partir da esperança do que do desespero.
Mas enquanto a alegria é saúde, para mim, a tristeza quando se mantém no tempo, é um ( debilitador nato ) que mina as minhas forças e me provoca vulnerabilidade e insegurança.
Quando eu estou firmemente convencida de que sou incapaz de agir de outro modo, a coisa fica difícil. Poucas resistências são tão fortes como alguém que se sente impotente para fazer aquilo que, no fundo, sabe que é o único caminho que lhe resta, mas atormenta-se, bloqueia-se e resigna-se porque julga que nunca o conseguirá.
Seja pelo que for, recorrerei a um especialista, pelo menos não cometo os erros que mais tarde se podem voltar contra mim.

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Primaveras


Nevaram os meus cabelos.
Invernias doloridas.
Mas na alma meus sonhos belos.
São primaveras esquecidas.

Junto a ti nunca supuz.
Tal dor, e desilusão.
Só quando se extingue a luz.
Se conhece a traição.

Ao vestires a couraça.
Da traição escondida.
Depressa apanhei o coxo...
Não apanhei a mentira.

Há gente que usa os sentimentos.
Com pasmosos atropelos
É ver tantas pedras duras.
No lugar dos corações.

Jurei um dia, não perdoar traições.
O destino, a sorte traça.
Mas na hora é que se sabe.
Se é ventura ou desgraça.

As eternas madrugadas.
Escondidas da lua e das estrelas.
Jamais serão desoladas.
Porque o sol, e as primaveras.
Há-de rompê-las.

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Não aceitar o inevitável


Há algo mais inevitável que a morte? Mas, pouco nos prepararam para enfrentá-la! Passámos quinze, vinte, trinta ou mais anos a estudar e a preparar-nos para a vida, mas quanto tempo dedicámos a preparar-nos para enfrentar a morte que vamos viver, à nossa volta e inclusive a nossa própria?
De qualquer forma, não pretendo circunscrever este capítulo apenas ao tema da morte.
Existem muitos factos inevitáveis que se sucederão ao longo da nossa vida; não aceitá-los, de um ponto de vista da saúde mental, significa, de novo embarcar num sofrimento inútil, dilacerante e, em muitas ocasiões, muito duradouro no tempo.
Sem pretender doutrinar. A luta não significa desinteresse, mas sim adaptação aos factos, que nos ferem duplamente. Penso que a grandeza do ser humano é a sua capacidade de adaptação à realidade, mas adaptação aqui não deve ser entendida como resignação, só quero perceber e agir com o máximo esforço, e não andar sempre a lamentar.
É um exemplo muito claro de como uma pessoa não aceita o inevitável. Nem tudo se pode comprar com dinheiro!
Passamos a vida a trabalhar como escravos para poder comprar coisas inúteis. Gastamos o nosso tempo indo de um sítio para o outro para, no fim, não encontrarmos o lugar que procurávamos. Não paramos de correr todo o dia para comprovarmos, ao cair da noite, que no dia seguinte teremos de continuar a correr
A realidade é muito mais simples, mais visível. Trata-se de segurarmos o ( leme) das nossas vidas. Sem que nos apercebamos, pode-nos acontecer o mesmo que ao Manuel, que não havia dia que não complicasse a sua vida de mil maneiras diferentes.
Este é com certeza um dos hábitos que mais nos custa corrigir quando está muito enraizado na nossa maneira de ser. Ainda agora estou aprendendo, a não complicar a vida desnecessáriamente preocupando-me a não sofrer de forma inútil e estéril. Para conseguir este propósito tenho que aprender a não expressar tudo o que penso. Que Deus me ajude.

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

De tudo o que vivemos




Não nos enganemos, não há nada que nos possa arrebatar o nosso presente; inclusive nas circunstâncias físicas mais duras que possamos imaginar, os nossos pensamentos sempre nos pertencerão e, com eles, as nossas emoções. Quero pensar assim , e , pedir a ajuda de Deus, para aliviar a dor , e pensamentos, que estão a destruir o meu espirito neste momento.
Sem dúvida, o presente é o nosso principal activo, e é assim porque nos pertence plenamente.
Quando olhamos à distância, com que facilidade vislumbramos as consequências do que vivemos! É como se tudo se apresentasse diante de nós para conceder-nos a oportunidade de aprender. Neste momento, pelo contrário, que difícil é ver o evidente, o que se passa neste momento diante de nós, o que estamos a viver no presente.
Manuel, adoeceu antes de Dezembro, numa queda nos degraus da nossa casa. Agravou-se com tosse, há medida que o tempo foi passando, foi piorando, fraqueza, tonturas, e, por insistência minha foi ao médico. Não quero acreditar que seja tarde; embora a situação do diagnóstico é evidente (cancro no pulmão ). E é difícil porque perdi a objectividade, estou demasiado envolvida na acção, não olho com perspectiva.
A verdade que as minhas emoções estão ao rubro, não consigo realizar um pensamento positivo, não consigo caír em algo tão evidente. Choro , no silêncio, tento dar-lhe força, quando meu Deus, estou a sangrar por dentro. A verdade é outra, e que penso um pouco, sinto-me encurralada pelas circunstâncias que me faz cambalear, e que me cega ao extremo de acreditar que, de novo, estou face a um problema de difícil solução. Ontem disse-lhe! Estou envergonhada e quero pedir-te desculpa, porque devido às minhas rachas só podes entregar metade da minha carga e só obténs metade do valor que deverias receber.
Eu sinto-me uma vasilha rachada e estou muito envergonhada da minha própria imperfeição, e sinto-me miserável, porque devo fazer tudo o que é suposto ser a minha obrigação. Ontem chorei, e disse-me com carinho: Reparaste que as flores só crescem do teu lado do caminho? Semeaste sementes de flores ao longo do teu caminho por onde passas, e todos os dias as pessoas as regam, e decoram o altar de Deus com o teu amor. Se não fosses exactamente como és, com todos os teus defeitos, não teria sido possível criar quatro filhos com a sua beleza, espíritual.
Só peço, que Deus me ajude, e, olhar com olhos de ver, e nos ajude a sair deste estado tão lamentável, que só serve para nos indicar novos caminhos que de outra forma não teríamos procurado.

sábado, fevereiro 14, 2009

A bondade


Hoje estou feliz. Estive a ver o mar, o vento morno, com os salpicos de água a bater suavemente no meu rosto. E falava com Deus.

Tu existes Senhor...moras no meu coração, no vento que não vejo, mas sinto, nas montanhas, nos mares. Tudo ao meu redor é mistério mas, sinto a tua presença. Pensava na bondade, nos corações puros, e, outros doentes que precisam do teu amor.

A bondade suprema é como a água.

A água é benéfica a todas as coisas, mas não entra em competição, fica nos sítios que outros desprezam. Está perto de Deus, portanto, a bondade não tem ego que chame o seu próprio ego; faz do ego dos outros o seu ego.

Para os bons, comporto-me com bondade; para os maus, também com bondade: Assim é alcansada a bondade. Para o fiel comporto-me com fé; assim é alcansada a fé. O sábio vive no mundo com concórdia e governa o mundo com simplicidade. Seja para onde for que os outros voltem os seus olhos e os seus ouvidos, o bondoso olha como a mãe olha para os seus filhos. Penso no meu mestre espiritual, recordo sempre os seus ensinamentos. Sempre me dizia; o grande caminho é muito plano e fácil, mas as pessoas preferem os atalhos, paga o mal com a justiça e a bondade com a bondade.

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Deixar


Pode ser bastante doloroso um dia pararmos e percebermos tudo o que perdemos na vida, porque perdemos, resume-se a falhas, a grandes ou pequenas falhas, de comunicação, de respeito e estima. Perdemos o que não era suposto levarmos connosco, o que não precisamos mais.
O que me conforta é a sensação que foi preciso abdicar do bom para obter o óptimo. E que com tudo o que fui deixando para trás tornei a minha caminhada mais leve e com mais espaço e capacidade para agarrar o novo, o tal óptimo. Eu não perdi liberdade de movimentos com o que adquiri de novo, eu ganhei liberdade de caminhar melhor. Às vezes não podemos segurar em tudo ao mesmo tempo. E às vezes carregamos fardos muito pesados para não conseguir agarrar em mais nada. Custa a deixar para trás, às vezes ainda percorremos caminho com algo preso em nós arrastando pelo caminho, mas tudo o que é suposto partir, acaba por partir. por isso não me arrependo do que deixei para trás.
Lá ficou, e a vida é um caminho sem retorno, e comigo só levei as lembranças daquilo que algum dia me pertenceram, como foi bom tê-las e porquê as deixei, e isso pesa muito pouco e é muito útil na minha caminhada

domingo, fevereiro 08, 2009

Portagem no amor


O amor conduz à felicidade, mas o privilégio do amor também tem as suas contrapartidas. Eu experimentei-o na minha própria carne, e não me arrependo, mas neste momento não posso mais, e embora apareça afectada, sinto que este amor morreu.
Não temos que ter medo da dor, e até sofrimento, quando é inevitável, porque essa dor desse amor, serão passageiros. O que não podemos pensar é que o amor e o sofrimento estão indefectivelmente unidos. É normal em que algum momento da nossa vida amorosa sintamos dor e nos preparemos para superá-la e viver o amor com naturalidade e maturidade.
Esta semana conheci uma pessoa, onde em poucas palavras, ficamos amigos. Contou -me o que se passava no seu coração
Jaime, o nome que lhe dou, empenhava-se em contar-me minuciosamente o que sentia em cada dia, e eu, pelo contrário, insistia em que não recreasse nos seus pensamentos, tão subjectivos e tão traiçoeiros neste momento, que só traziam dor e escuridão à sua vida e à sua relação com a sua Ex-companheira. Ao contrário de que muitos possam pensar, não se tratava de remexer nas feridas, porque isso teria acabado com a pouca força que tinha, tratava-se de estancar a hemorragia, de dar-lhe recursos que lhe permitissem deixar de sofrer de forma tão inútil quanto negativa.
Nada funciona na minha vida e não tenho forças para continuar a lutar, a sério, dizia-me ele, sinto que já não há nada a fazer. Perante esta confissão da sua parte, eu respondi-lhe, mais ou menos, que, não luta quem não se apercebe que tem de lutar, e que no seu caso ele era consciente que havia que fazer alguma coisa, e que isso já constituía em si um enorme progresso. Jaime, se pensasse realmente que não há nada a fazer, não estaria aqui; não terias vindo contar-me algo que guardas dentro de ti, tão em segredo. Sabes que essa sensibilidade que te fez sentir-te a pessoa mais felizarda do mundo vai agora permitir-te sair desta crise. Mas não o vais conseguir pela autocompaixão, indo-te abaixo e fomentando o teu sofrimento.
A realidade é que a felicidade está em nós. A capacidade de amarmos e sentirmo-nos amados também está dentro de nós e, acima de tudo, o amor que sempre, absolutamente sempre, estará a nosso lado será o nosso próprio amor; daí a importância vital que adquire o conceito que tenhamos de nós próprios. Sem dúvida, para aprender a amar, é bom que primeiro aprendamos a amar-nos a nós próprios pois, de contrário, dificilmente poderemos amar os que nos rodeiam e nunca, nunca, seremos donos da nossa felicidade, já que a estaríamos a colocar nas, mãos de outros.
Resumindo, nem há que pagar portagem no amor, nem a vida acaba quando acaba o amor.

quinta-feira, janeiro 29, 2009

O melhor lado


Se grave apreensão corrói a tua paz.

vira-a de quando em quando.

Espera, e acabarás, via da regra.

Por encontrar a solução exacta.

Já reparaste que uma nuvem negra.

É muitas vezes debruada a prata?


Viver é manter-se bem alerta.

Pronto, sempre, a fazer a justa opção:

Entre a face errada e a face certa.

Entre o lado alegre e o lado triste.

Entre a luz e a escuridão.


Quando a vida te acabrunha e entristece.

Dá ao pensamento outro traçado:

Volta para cima o melhor lado.

E eis um dia novo que amanhece.


Constrói um arco-iris cheio de beleza.

Policroma-o de tons e matizes joviais.

Sob esse talismã a vil tristeza.

Há-de deixar-te para nunca mais.

segunda-feira, janeiro 26, 2009

Decidido


Hoje comecei a trabalhar, no APA. Os meus filhos disseram-me estás doida, depois de dois anos regressas ao serviço, vão matar-te.

Respondi-lhes que talvez fosse melhor assim. A seguir arrancára dois anos, ou duas páginas do livro da vida e, página seguinte, em letra grande, viveria a minha vida de outra maneira.

Suspensa entre o alívio e o atordoamento, ao chegar ao serviço. Todas as colegas que encontrava perguntavam: uma grande espera? Que saudade.

Durante o dia, senti necessidade de me afastar das memórias destes dois anos. Não podia continuar na companhia de todo o peso desse tempo, para limpar os detritos, as sombras, para me purificar, andei por muito tempo no planalto

Ocultos nas encostas do APA, os melros cruzavam os seus cantos de amor, as folhas amarelecidas do Outono dava esplendor à paisagem circundante, enquanto meus olhos brilhavam com uma nova luz de esperança.

Enquanto caminhava de carro para o serviço, punha-me a admirar a beleza das árvores despidas, e pensei, que saudades. Enquanto ia andando entre o trânsito, pensava nesse meu irmão - ou nessa minha irmã-a quem não fora dado a possibilidade de conviver, ou de amar. As suas existências poderiam ter salvo muita coisa da minha vida, ou teriam acelerado o seu declive de destruição?

Não tinha qualque lembrança feliz, destes dois anos, o que restava deles em mim, era uma espécie de ruído de fundo, um feixe de vozes contrapostas, de rumores agudos, abafados de tempos a tempos pelo som pungente de um instrumento( identificado por cirurgias) que me fazia chorar.

Tenho medo daquele som, tal como tenho medo de estar sózinha. Deve ter sido esse terror que apagou o meu sorriso, e muitas coisas da minha memória. Cada pessoa tem a necessidade inata de espanto, para algo que possa admirar, ser conduzida ao cume de um monte e contemplar o esplendor, as mundanças de luz, a neve, o reflexo dos gelos, a águia que, lá nas alturas, protege magestosa os filhotes, como deveriam fazer todos os seres humanos. Mas as lembranças, e a paisagem que se destacavam no horizonte destes dois anos, não passaram muitas vezes de uma lixeira a céu aberto. Para não me deixar levar pelo desalento, sorri.

terça-feira, janeiro 20, 2009

Criança


Ontem à noite como é habitual fui dar um beijo ao meu filho Fábio. Em desabafos, fui aumentando os meus episódios de criança, onde ele prestava muita atenção. Narrando acrescentei...
No colégio, a indiferença que sentiam pelo nosso desenvolvimento interior igualava a extrema rigidez com que tratavam os aspectos mais banais da educação. Tinha de me sentar direita à mesa, com os cotovelos colados ao corpo. Se, ao fazê-lo, só pensava na melhor forma de me matar, isso não tinha qualquer importância. A aparência era tudo, para além dela só existiam coisas inconvenientes.
Assim , cresci com a sensação de era algo semelhante a uma macaca que devia ser domesticada e não um ser humano, uma pessoa, com as suas alegrias, os seus desânimos, a sua necessidade de ser amada. Esse mal-estar depressa gerou dentro de mim uma grande solidão, uma solidão que com o passar dos anos se foi tornando enorme, uma espécie de vácuo onde eu me movia com os gestos lentos e desageitados de um mergulhador. A solidão também nascia das perguntas, das que fazia a mim mesma e às quais não sabia responder: Já aos quatro, cinco anos olhava à minha volta e pensava: Porque estou eu aqui? Donde é que vim, de onde vêm todas as coisas que vejo à minha volta, o que há atrás delas, terão estado sempre aqui, mesmo quando eu não estava, estarão sempre?
Fazia a mim própria todas as perguntas que fazem as crianças sensíveis quando começam a tomar consciência da complexidade do mundo. Estava convencida de que os adultos também as faziam, que eram capazes de responder, mas após duas ou três tentativas com as Freiras, percebi não só que não sabiam responder, mas também que nunca as tinham feito a si mesmas.
Assim foi aumentando a sensação de solidão, compreendes, para resolver todos os inigmas só podia contar com as minhas forças, quanto mais o tempo ia passando, mais perguntas fazia acerca de tudo, eram perguntas cada vez maiores, cada vez mais terríveis, ficava aterrorizada só de pensar nelas.
Indelicadeza? Superficialidade? Sadismo? O que havia naquelas respostas? E porquê? perguntava eu. Porque estavam fartas das minhas maldades. No mesmo instante em que ouvia aquelas palavras, houve algo dentro de mim que se rompeu. Comecei a não dormir de noite, de dia, bastava um pequeno nada para desatar a soluçar. Passado uns poucos anos , chamaram o psiquiatra. A miúda está com um esgotamento, disse ele, e receitou-me óleo de fígado de bacalhau.
E ningém me perguntou porque não dormia, porque andava sempre de um lado para o outro, como uma bola roída.A partir desse momento, as minhas acções deixaram de ser neutras, independentes. Com o terror de cometer mais um erro, fui-as reduzindo ao mínimo, tornei-me apática, hesitante. À noite, apertava o lençol nas mãos e chorava, dizendo: Mãe, por favor, volta e leva-me, gosto mais de ti do que de todos. É por isso que digo que aos seis anos já era grande, porque,no lugar da alegria havia a ansiedade, no lugar da curiosidade, a indiferença. As Freiras seriam uns monstros? Claro que não, eram pessoas absolutamente normais para a época.
Olhei para o meu filho. Dos seus lindos olhos bailavam algumas lágrimas, disse-me docemente. Amo-te muito mãe.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

A dor




A dor ensina-nos igualmente que somos dependentes dos outros. Quando estamos doentes, vamos ao médico. Quando estamos emocionalmente perturbados, visitamos um amigo ou um terapeuta. Quando a vida nos pressiona, chamamos por Deus. O sofrimento abre-nos um canal, através do qual podemos falar honestamente com outra pessoa, provavelmente pela primeira vez. Poderemos sentir algum alívio sabendo estarmos em sintonia com outros que também sofrem ou que, pelo menos, nos podem oferecer apoio.

Na linguagem religiosa tradicional, a dor leva-nos ao âmago da natureza de Cristo e de Buda. Ultrapassamo-nos, embora continuando a ser quem somos, quando nos juntamos a uma grande visão com a profundidade da alma. Quando sofremos, somos convidados para uma grande reunião com os sofredores de toda a existência e, assim, expandimo-nos e descobrimos toda a dimensão da experiência. O sofrimento pode ensinar a nossa imaginação a libertar-se de uma au-to absorção, para se ligar com o mundo de um modo infinitamente mais importante.

Ver o sofrimento como um mistério, como o tormento de Deus, é compreender o que está no interior da natureza das coisas. Buda ensinou que a dor é causada por uma espécie de desejo,pela vontade própria ou talvez por estreitos apetites. Certamente que imaginamos o fim do sofrimento, como objectivo válido para a medicina ou para a assistência social. O grande físico Paracelso disse que, se não fôssemos tão ignorantes, poderíamos curar todas as doenças, sem excepção. Para dicifrarmos o mistério divino no sofrimento, não será preciso desistirmos, desencorajados, mas sim entendermos que esse sofrimento terá de ser lançado do local mais profundo.

Não sei explicar o sofrimento, mas posso sugerir maneiras modernas e antigas de reflectir sobre ele. Há um grande mistério teológico no modo como a dor redime, em como o sofrimento sentido por uma pessoa ajuda outro e em como alguns são chamados a sofrer e outros a viverem tranquilos. Por fím, pedem-nos que reconheçamos o mistério e abracemos como nosso, tudo aquilo que a vida nos oferece. O sofrimento é afinal redentor da dinvindade que se processa através de nós.

Não tenho a mínima dúvida que em certos momentos da minha vida recebi apoio, consolo e segurança insuspeitos e inexplicáveis da parte de uma qualquer presença espíritual. Não me custa acreditar que tenho um anjo-da-guarda. Se necessário for, só o mero facto de estar viva é prova suficiente para mim.