De longe olho as suas águas!... recordo e procuro viver.
Libertando-me desta obsessão que me consome.
A realidade é que se torna difícil, quando alguém se transforma numa personagem.
O rio corre mais abaixo!... onde um vestido de noiva jaz no fundo.
Olhando as suas águas, parecem apagar o fogo que arde no meu peito.
Penso!.. para os outros já não sou somente uma pessoa.
Sou duas eu e a minha personagem.
Para mim vou quebrar o silêncio, vou quebrar o muro.
É tarde minha mente cansada, suspiro!..
Transformo minha tristeza em saudade, essa mesma saudade que acolhe a solidão.
E a solidão em lembranças.
Setembro, 1988 segundo sábado três da manhã.
Acordo afogada num mar de suor.
Acendo a luz!... reparo num vestido branco.
Era o meu casamento religioso ao meio dia.
Meus passos trémulos!...encaminhavam-se não sei para onde.
Olhei para o vestido branco comprido.
Entrei em agonia!... meus pensamentos e lágrimas corriam para o meu rio.
Só tinha uma saída!..
Eu movia-me como por magia para o vestido.
O tempo era pouco eu ia dizer sim!..
Meu corpo tremendo entrou no vestido branco.
Olhei o espelho o que vi!..
Eu estava linda de véu e grinalda... Senti-me uma Deusa!
Mas minha alma chorava ia dizer sim ao homem que já não amava.
O encanto se perdeu, uma luz apareceu!..
Desci as escadas, entrei no meu carro.
Estava louca pouco importava, o tempo correu não dei por nada.
Vestida de noiva entrei no meu rio frio e descalça.
Tapei o nariz e não lembro mais nada.
Era madrugada!... minha vida se afogava!... alguém arrastou meus cabelos na areia molhada.
Enquanto desmaiada!... viajava no tempo.
Mas o mundo era grande demais para ser percorrido.
Quando acordei!... queria acreditar em milagres.
Vi rostos chorando!.. .agarrados a mim chamando mãe.
Meus olhos sorriram e voltaram a brilhar.
Era o começo o contacto com a vida.
Meu vestido de noiva mandei ao rio.
Com ele foi o sim que eu não diria.
Sonhando acordo transpirada e fria.
Alguém me agarra obrigando dizer o sim.
É um pesadelo onde correntes me prendem.
Onde dois braços fortes me arrastam.
Me cortam as asas impedindo de voar, me tirando a liberdade e a vida.
quinta-feira, agosto 05, 2004
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