quarta-feira, dezembro 17, 2008

PARADOXO


Duas noites passadas, acordei com o tiquetaque da chuva nas janelas: durante a noite, levantara-se uma ventania tremenda, a temperatura baixara e o vento soprava com bastante força. Cobrindo o céu de uma luz invernal. A chuva molhava os vidros, querendo molhar meu rosto adormecido de sonhos de moça perdida mas, também trazendo a saudade de tudo o que vivi.
Assim continuava a noite...as lembranças que nos fazem chorar ou sorrir e as emoções que nos dão vida.
Assim continuei pela noite fora, onde procurei encontrar um tema que praticamente não figura em nunhum dos meus textos. No meu pensamento eu chamo-lhe (o paradoxo do amor) ou ( a dor do desencontro). Em linhas gerais é o seguinte.
Toda a relação íntima em que podemos abrir-nos e conseguir o encontro e a entrega das coisas mais gratificantes que podemos viver. Nela procuramos contacto, amor e intimidade, porque são estas as situações que mais nos enriquecem, que nos fazem sentir vivos, as que nos enchem de força e de vontade.
O paradoxo começa quando nos damos conta de que, ao mesmo tempo, estas relações são precisamente as que nos provocam maior sofrimento e maior dor, muítissimo nais do que qualquer outra.
Quando nos abrimos à intimidade, ao amor, ao encontro, expomo-nos também a sofrer e a sentir dor.
A força que naturalmente nos impele a deixar-nos levar pelas nossas emoções e a gerar o encontro enfrenta a tendência natural de cuidar de nós para não sofrer; porque intuímos, com certeza, que se nos abrimos com uma peassoa isso concederá ao outro a possibilidade de nos ferir.
Todos temos uma personalidade, uma couraça que não quer assumir o risco de ser magoada e, portanto se fecha. Este é o trabalho que propomos: observar a nossa maneira especial de estar no mundo, termos consciência dos nossos papéis em que ficámos atolados.
O paradoxo continua porque não hà melhor oportunidade do que esta relação íntima potencialmente destrutiva para voltar a encontrar-nos e para desfazer as nossas máscaras habituais.
Assim, acabamos muitas vezes por resolver este paradoxo evitando o sofrimento, impedindo-nos o amor e privando-nos do encontro íntimo.
Na nossa intenção de dizer não à dor, dizemos não ao amor. E, o que é pior, dizemos que não a nós mesmos. O problema apresenta-se quando nos identificamos com a nossa couraça e nos sentimos seguros assim. Protegemo-nos dos nossos sentimentos incómodos aprendendo a não sentir, a desligar-nos das nossas necessidades, e as defesas tornam-se uma identidade que nos separa do que sentimos e nos impede de amar. Assim amanheceu!!!.E pensei. Quando um coração se parte, que barulho faz? Será o mesmo rumor abafado de uma esponja ensopada que cai ao chão, ou um silvo de um foguete molhado pela chuva? Eu sentia-me uma ave migratória, era hora de voltar ao ninho.

terça-feira, outubro 07, 2008

Lar doce lar


CILADA POR AMOR


Cilada por amor, é um abraço de perdão.

O amor que me prendia, era um fruto doce.

Muito doce, num mundo amargo, muito amargo.

Minha luta foi àrdua e dolorosa!

Dessas prisões dos sentidos.

Cheias de contradições e sentimentos.


Cilada por amor doi, o engano dera-lhe forma.

Nem levantarás outras vigias de desenganos.

Tua casa ruiu, partiu-se a viga mestra do telhado.

Nunca mais reconstruirás, estes muros de dor.

Em vez de construir a ponte.

Para chegar ao meu caminho.

Simplesmente isolei os tijolos.

Para não poder chegar a ti


Cilada por amor, é como o espelho que nos devolve a imagem.

O mundo é vazio, e a vida não valha a pena ser vivida.

É um cair sem me ferir, a descobrir a meta que quero.

Há alguém, em algum lugar, que pensa em nós.

E sente como nós e que, apesar da distância.

Está perto em espírito, então a esperança.

É que a dor e a saudade, se converta num jardim habitado

segunda-feira, setembro 29, 2008

OUTONO EM SINTRA


Outono de sol ameno que conduz à luz.

Folhas caindo, e meus cabelos prateados ao vento.

Bela tarde colorida, hà paz, hà alegria profunda.

Outono de céu azul, que nos deixa livres...


Minha mente vai relaxando olhando o horizonte.

Meus olhos se fecham na alegria da natureza.

Sinto a brisa no meu rosto.

Esquecendo o amor e desgostos.

Ao ver crianças brincando e sorrindo.


Encosto meu corpo cansado.

Donde posso olhar sem cair.

Onde penso sem me ferir.

Olho o céu e vejo um lindo manto.

De estrelas...E tudo existe.

Da existência de outro Outono.

Onde brilhava a estrela do teu meigo olhar.


E sobre a relva molhada.

Deito meus cabelos prateados.

Levanto-me e num sopro compreensivo.

Deito o resto ao tempo e ao vento.


Dou algumas gargalhadas.

Talvez algumas lágrimas.

O paraíso será num lugar melhor.

Onde o Outono reine.

E quebre o feitiço da solidão

terça-feira, setembro 23, 2008

HOJE




hoje tento libertar-me de todas as expectativas e ansiedades relativas ao futuro. Quem sabe se Deus não reservou para mim uma surpresa muito especial?!


Sinto o amor que flui dentro de mim. E lembro-me que há um mundo imenso a descobrir, dentro de mim. Sempre que alguma recordação se tornar dolorosa, pergunto a mim mesma: Quando é que tudo isto terá começado?.


Aquilo que agora estou a sentir, pode muito bem ser uma velha ferida que está gradualmente a sarar.Agora, neste preciso momento, procuro libertar-me de todas as memórias dolorosas que posso ter. Penso que a paz regressará ao meu coração e me sentirei profundamente aliviada. Alegro-me com as coincidências que por vezes sucedem na minha vida. Quem sabe se elas não são, no fundo, pequenos milagres. Da minha janela vejo a onda de amor que Deus espalhou pelo mundo. Deus ama-me, a mim e à criança que há no meu coração.

sábado, setembro 20, 2008

Sem receber nada em troca

Descobre o amor. Pega num sorriso e doa-o a quem jamais o teve...Pega um raio de sol e fá-lo voar lá onde reina a noite...Pega uma lágrima e pôe no rosto de quem jamais chorou...Pega a coragem e coloca-a no ânimo de quem não sabe lutar...Descobre a vida e conta a quem não sabe entendê-la... Pega a esperança e vive na sua luz...Busca a bondade e doa-a a quem não sabe doar...Descobre o amor e faz conhecer o mundo.

Tudo isto se aprende em poucas horas. Em olhares famintos não de pão mas, de carinho de amor. Em olhares de crianças que olham o mundo cheio de esperança de ternura. Por uma família do coração que os ame.

Jesus disse? vinde a mim as crianças, será delas o reino dos céus

Missa no Padre Gregório


segunda-feira, setembro 15, 2008

REZAR


Nenhuma Montanha é alta demais para tu escalares.
Tudo o que tens de fazer é ter um pouco de fé na escalada.
Nenhum rio é largo demais para conseguires atravessar.
Tudo o que tens de fazer é acreditar nisso quando rezares.

E então tu verás: a manhã chegará.
E todo o dia será radiante como o sol.
Todos os teus medos , serão dirigidos para mim.
Eu apenas quero que tu entendas...

Eu serei tua nuvem acima do céu.
Eu serei teu ombro quando tu chorares.
Eu ouvirei tuas vozes quando tu me chamares.

Eu sou o teu anjo...
E quando toda a esperança tiver acabado, estou aqui.
Não importa o quão longe tu estejas, estou perto.
Não faz diferença quem tu és.
Eu sou o teu anjo, sou o teu anjo.

Eu vi tuas lágrimas e ouvi tu chorares.
Tudo o que tu precisas é tempo.
Procura-me e tu me encontrarás.
Tu tens tudo e ainda estás na solidão
Não tem que ser desta maneira.
deixa-me mostrar-te um dia melhor...

E então tu verás: a manhã chegará.
E todos os teus dias serão radiantes como o sol.
Portanto, todos os teus medos, envia-os para mim.

E quando for a hora de enfrentar a tempestade.
Eu estarei lá a teu lado.

A misericórdia nos manterá a salvo e aquecidos.
E eu sei que sobreviveremos.
E quando parecer como se o fím estivesse aproximando-se.
Não ouses desistir da luta.
Apenas deposita tua confiança além do céu

sexta-feira, setembro 12, 2008

Preconceitos




Ataca os teus preconceitos
Para que eles não te ataquem.
Não é o que fazemos de vez em quando.
Mas o que fazemos dia a dia.

Que faz a diferença
Acredito que todos temos.
Dentro de nós.

A capacidade para uma aventura.
Mas maior aventura é enfrentar.

As responsabilidades de cada dia.

Mesmo que isso destrua a nossa alma.

O modo como vivemos é.

Afinal, um dos direitos.

Que nos restam.

Quando e se temos.

A oportunidade de escolher.

Temos de saber.

A que porto nos dirigimos.

Se queremos apanhar.

O vento certo.

Que nos leve até lá.

Saber o que está certo.

E não o fazer.

É a pior das cobardias.

Cada um faz o que deve.

Apesar das consequências pessoais.

Apesar dos obstáculos.

Perigos e pressões

E essa é a base.

De toda a moralidade.

Não podiamos saber.

No que iria dar.

Mas sabiamos.

Que tinha de ser feito.

terça-feira, setembro 09, 2008

JUVENÁLIA


De início não damos conta de nada, estamos convencidos de que a couraça ainda nos envolve totalmente, até que um dia, inesperadamente, por uma lembrança estúpida, sem sabermos porquê, damos por nós a chorar como umas crianças.

Por isso, quando digo que entre mim e ti se intrometeu uma diferença natural, é precisamente isso que quero dizer. Na época em que a minha couraça começou a formar-se, a tua já estava feita em farrapos. Tu não suportavas as minhas lágrimas de criança, e eu não suportava a tua inesperada dureza. Vivia escondida em buracos, e embora estivesse preparada para o facto de o teu temperamento mudar com a adolescência, quando essa mudança ocorreu foi-me muito difícil suportá-la. De repente, havia uma pessoa nova diante de mim e eu já não sabia como devia tratar essa pessoa. À noite, na cama, no momento de pensar na mãe, sentia-me feliz com os teus afagos, e com o que se estava a passar contigo. Eu sabia que me amavas.

Mas, de manhã, quando me batias por tudo e por nada, que depressão, que vontade de chorar!

Era criança não tinha culpa dos teus males, não conseguia encontrar em parte alguma a energia necessária para te fazer frente. E pensava, se um dia chegasses aos oitenta anos, eu me vingava da tua crueldade. Infelismente morreste perto dos cinquenta, e foi ai que eu soube quanto te amava também. Em todos os dias da minha vida recordo a tua beleza física mas, também o teu coração de pedra. Se chegasses aos oitenta anos, compreenderias que, nessa idade, as pessoas sentem-se como folhas em finais de Setembro. E assim saboriavas o teu castigo, por me bateres e me chamares Doninha. Para mim, o vento eras tu, a vitalidade conflituosa da tua adolescência. Alguma vez te apercebeste disso, minha querida? Vivemos na mesma árvore, mas em estações tão diferentes.

Lembro-me do dia da tua partida para a Suiça. Estávamos muito nervosas, não estávamos? Tu não quizeste que eu fosse contigo ao aeroporto, e a cada coisa que eu te dizia para levar, respondias: Vou para a Suiça, não vou para o deserto. À porta, quando te gritei com a minha voz odiosamente estridente: Tem cuidado contigo, sem sequer te voltares, despediste-te, dizendo: Deixa esse gajo e trata da minha rosa, e vai ter comigo.

Na altura, sabes, fiquei um tanto desiludida com essa despedida. Como sentimental que sou, esperava uma coisa diferente e mais banal, um beijo ou uma frase afectuosa. Só à noite, quando, sem conseguir adormecer, andava de roupão pela casa vazia, é que percebi que tratar da rosa queria dizer cuidar daquela parte de ti que continua a viver junto de mim, a parte feliz de ti.

E percebi que, na secura daquela ordem, não havia insensibilidade, mas a tensão extrema de uma pessoa que está quase a chorar. É a couraça de que falava no início do texto. Lembras-te do que eu te dizia nos últimos tempos em Luanda? As lágrimas que não saem depositam-se no coração, com o passar do tempo vão formando uma crosta e paralisam-no, como o calcário se encrosta e paralisa as engrenagens da máquina de lavar.

Bem sei que os meus exemplos extraídos do universo da cozinha, só te faziam rir e chamando-me de Doninha. Eu respondia...Tem paciência: cada pessoa vai buscar inspiração ao mundo que conhece melhor.

Sabes, ontem à noite, enquanto estava a ler sentada no cadeirão, ouvi de repente no quarto um ruído compassado, ergui a cabeça do livro e vi a tua imagem que sorria para mim. É a saudade. Até breve mana.

sábado, setembro 06, 2008

Grandes Pessoas

Às vezes construimos sonhos em cima de grandes pessoas...
O tempo passa...e descobrimos que grandes mesmo eram os sonhos e as pessoas pequenas demais para torná-los reais!

Outros


Natureza


quarta-feira, agosto 06, 2008

Sonhos


Na minha vida, tenho tido sonhos que guardei em mim durante nuito tempo e mudaram as minhas ideias: passaram e voltaram a passar por mim, como o vinho pela água, alterando a cor da minha alma. Os sonhos que têm iluminado o meu caminho e, ao longo do tempo, me têm dado coragem renovada para enfrentar alegremente a vida, têm sido a bondade, a beleza e a verdade...

Os objectivos triviais do esforço humano - Posses, êxito exterior, luxo - Sempre me pareceram desprezíveis. Penso que o trabalho mais importante que alguma vez fazemos, em todo nosso mundo, em toda a nossa vida, é feito dentro de quatro paredes no nosso lar.

Todos os pais e mães, seja qual for a sua posição na vida, podem dar o mais importante dos contributos, se imprimirem o espírito de serviço nas almas dos seus filhos, por forma a que as crianças cresçam empenhadas em fazer a diferença.

Desde criança, tento prosseguir os meus sonhos, e penso que é preciso tão pouco o que podemos fazer para ajudar quem sofre e está triste neste mundo - Os solitários, os despojados, os prisioneiros, os desprezados, os exilados, os física e espiritualmente doentes, os que têm frio, os famintos.

No entanto, podemos chegar àqueles que conhecemos com cortesia e bondade...Um presente inesperado, uma visita. Tratando-os com o respeito que merecem.

Prestando homenagem à sua coragem. Escutando as suas histórias. Porque toda a bondade se espraia num círculo irradiante. Vejam como, por toda a parte, as pessoas boas criam anéis de luz, que se deslocam, penetrando a escuridão, anéis que se ligam e entrelaçam . Afinal, o que tem mantido a raça humana neste velho Globo, apesar de todas as trágicas falhas da humanidade, se não a fé, os sonhos em novas possibilidades e a coragem de as defender?

O meu sonho, é o meu maior conforto a que posso recorrer, é pensar que o objectivo da minha vida é ajudar, de alguma maneira, a reduzir a ignorância espíritual, a degradação e a miseria da face desta terra maravilhosa. E acima de tudo: tento ser verdadeira para comigo própria. Não tenho a possibilidade de escolher como vou morrer. Nem quando.Só posso decidir como vou viver agora.

terça-feira, julho 22, 2008

Perdão


PERDÃO


Perdoar é esquecer a dor.

É aceitar o passado.

Pois este não irá mudar.

É aprender com os erros.

Cometidos.


E comprender o que aconteceu.

Perdoar dá-nos a chance.

De seguir em frente.

Procurando novos caminhos e desafios...

Perdoar é recomeçar com calma.

E ouvir as recordações do passado.

Será que podemos um dia.

Perdoar alguém que nos fez mal ?

Alguém que tinhamos como amigo.

E que nos decepcionou ?

Quem sabe se um dia saberei perdoar !

E por vezes sentir saudade



quinta-feira, julho 17, 2008

quarta-feira, julho 16, 2008

Violência Hurbana

Segunda Feira, 14 de junho de 2008. Caminhando onde é habitual 17h10m tive uma tentativa de violação. O medo pode matar, isso não é nenhuma novidade na medicina. A ansiede, que é a versão civilizada do medo, também mata. Os actos de violência, em qualquer de suas formas, desde violência, colectiva, é como o caso da guerra, dos atentados das violações de direitos, etc., até a violência individualizada, como são os assaltos, os estupros, a tortura, etc. Podem ser comparados à uma espécie de câncer da alma. Andando no sentido contrário de Mira Sintra, alheia nos meus pensamentos, senti alguém a correr atrás de mim. Não liguei na medida que andam várias pessoas por ali a correr...Quando de repente senti uns braços fortes rodearem-me o pescoço. Olhando para trás consegui verificar que se tratava dum jovem raça branca, pelos seus 19 a 20 anos. Nunca pensei saber, gritar daquela maneira mesmo com um murro na carra e de colarinho por ter sido operada à coluna. Submetida a acções de violência com um canivete apontado nas costas, mesmo quando me tapava a boca, para eu deixar de gritar, debatia-me com os pés e braços para não ser magoada. O jovem empurrava-me para o morro das àrvores, segurando-me com força nos braços, onde eu me debatia com os pés. Nesses momentos só existe a vítima o violador e Deus. Com a aproximação dum casal de idade com o cão, como eu não deixava de gritar e apontar para o jovem, o casal não se apercebia do que se estava a passar, quando chegaram ao pé de mim eu tremia, em pânico e em ansiedade entrei em choque. Quizeram chamar o 112 mas eu não deixei. Com o meu telemovel ligaram para várias pessoas da família e amigos mas ninguém atendeu, estava perdida e sózinha. Com o rosto dorido o corpo em estado traumático o casal acompanhou-me a casa. Conseguiram localizar o meu marido, onde rapidamente chegou a casa. Em seguida o meu quadro inicial evoluiu, de forma progressiva, mesmo quando fui à PSP de Rio de Mouro apresentar queixa, mandaram-me para o Cacém, pois lá é que tinham o arquivo dos violadores. Com a cara inchada, e uma série de alterações emocionais mais carecterísticas do transtorno Pós-traumático, tais como, a experimentação de lembranças intrusivas, meu olhar fixo e sempre cheio de lágrimas, as condutas de evitação, o meu desinteresse pelas coisas, distanciamento social, embotamento afectivo, perturbações nas relações interpessoais, e impulssiva. Passei a noite no hospital fiz vários exames a nível físico. Minha alma está doente, meu corpo está sobre tensão, só recordo a situação, os meus sentimentos são depressivos, tenho mudanças de humor, dificuldade para conciliar o sono. Tenho sobressaltos com ruídos ou movimentos. Tenho tendência para me isolar dos demais e sentimentos de culpa, auto-acusações. Peço a Deus ajuda meu querido Blog, porque deixei de ser eu

segunda-feira, julho 14, 2008

Importância

Na vida.
Não vale tanto.
O que temos.
Nem tanto importa.
O que somos.

Vale o que realizamos.
Com aquilo que possuímos.
E, acima de tudo.
Importa.
O que fazemos de nós.

terça-feira, julho 01, 2008

Rimas ao entardecer



A vida vou lembrando.


E afirmo no entardecer:


Cantando, rindo ou chorando.


Valeu a pena viver.




Junto a ti nunca supus.


Como fosse a solidão:


Só quando se extingue a luz.


Se conhece a escuridão.




Nevaram os meus cabelos.


Invernias doloridas.


Mas na alma meus sonhos belos.


São primaveras floridas.




Sofro da vida a batida.


Marco passo e só me resta.


Crer que na festa da vida.


Sou sempre o bombo da festa.




Há pesares silensiosos.


Mais eloquentes no entanto.


Que muitos ais clamorosos.


Entre dilúvios de pranto.




A mágoa que mais desola.


Mais punge e corrói é essa.


Que nunca ninguém consola.


Porque a ninguém se confessa.

segunda-feira, junho 23, 2008

O que vejo da minha janela


O que vejo da minha janela está dentro do meu coração!

Ontem, via um jardim maravilhoso, cheio de flores de espécies e cores variadas. No centro dos meus olhos, um lago de águas azuis da cor do céu, cheio de cisnes brancos nadando, enfeitando a paisagem e enfeitiçando meu olhar. Via também o arco-íris cortando o céu, disputando lugar ao sol.

Nos bancos espalhados pelo jardim, casais de namorados conversavam, fazendo declarações de amor eterno e outros passeavam de mãos dadas, aproveitando o pôr-do-sol alaranjado.

Nas copas das árvores, um bando de passarinhos gorjeava e outros enfileiravam nos fios de um lado a outro como se quizessem celebrar a liberdade comigo. Os anciões passeavam com as suas senhoras de braços dados, com os chapéus nas mãos e um largo sorriso nos lábios, fazendo-me acreditar que a vida no futuro seria muito melhor.

As crianças brincavam na relva com os seus pais, e a alegria era tanta que via através delas o futuro dos meus netos.

Mas hoje abri a janela e não vi nada, levei as mãos nos olhos e busquei a esperança de ontem e não a encontrei.

Só consegui ver uma floresta de pedras tentando alcançar o céu, crianças brincando presas em apartamentos, e outras disputando lugares nos semáforos da cidade.

Fechei os olhos, vivendo um mar de ansiedade, procurar dentro de mim o que ainda não possuia.

Despertar em mim a vontade de partilhar com Deus os sentimentos mais íntimos de felicidade, amor e equilibrio para a minha vida.

Com lágrimas nos olhos, fechei a minha janela.

terça-feira, maio 20, 2008

Caminhando


Sabado. Caminhava a passos lentos pela praia grande em Sintra. E pensava. O amor tem o seu próprio mistério, tentar desvendá-lo é um erro, tentar apressá-lo um crime. Se um dia destes te apetecer voltar para os meus braços e construir um sonho comigo, podes bater à porta porque estarei por aqui, mergulhada numa paz tranquila e nova que me ensinaste sem saber.

O amor é mesmo assim; damos aos outros o nosso melhor sem sequer o saber. E tudo o que damos nunca se perde, nada se perde, apenas se transforma e se guarda numa caixa que só o futuro conhece e desvenda.

Pode haver amor sem entendimento? Claro que pode. Assim como pode haver o maior entendimento sem uma réstia de amor. O que é verdadeiramente difícil é conseguir juntar as duas coisas.

E como é que sei tudo isto? Porque acredito possuir o mapa secreto daqueles que amo. E tenho o teu mapa dentro da minha cabeça e do meu coração.Todos os dias o estudo e todos os dias acompanho as suas mudanças. E mesmo quando, por pudor ou cerimónia, as guardo para mim, estou atenta e vigilante, porque eu sei que tenho um papel na tua vida e sei que tu tens um papel na minha. O meu, já o sei de cor. O teu, nem tu nem eu fazemos ideia, mas um dia, chegaremos lá. Eu pinto o mundo com palavras porque, como todos os sonhadores, gostava que o mundo fosse outro lugar, mais belo e mais fácil, menos sujo e injusto, com menos lixo nas ruas e no coração das pessoas. Pinto o mundo, não como ele é, mas como gosto de imaginar que pode ser.

Foram as pessoas que olharam o mundo e sonharam que ele podia ser diferente que o conseguiram mudar. Partiram em caravelas, inventaram a electricidade, construíram caminhos- de- ferro e aviões, transformaram desertos em jardins, florestas em cidades e foram à lua, mas não conseguiram transformar o homem por dentro, porque só há duas coisas que nunca mudam no coração dos homens: o ódio e o amor. Hoje não consigo fixar os olhos no mar, a luz está demasiado forte e, ao reflectir-se na água, irradia milhões de pontos de luz que cegam o olhar temerário. Se tu estivesses aqui, pintaria como uma louca, o dia inteiro, sem parar, até ao cair da noite. Não sou dona do tempo nem de nenhuma verdade, a não ser daquilo que sinto. Mas o que sinto está cá dentro, só eu o vejo, e mesmo que te explique com todas as palavras do mundo, nunca saberei se me expliquei bem e, caso o tenha feito, se entenderás o que te digo exactamente da forma como te quis dizer, por isso é que às vezes fico calada e espero que o tempo resolva os enigmas mais complexos - ou mais simples - da existência. Todos os olhos que me tentam prender se perdem no meu vazio, porque em nenhum vejo os teus olhos. Assim vou caminhando, e perdendo os meus pensamentos, no infinito mar.

sexta-feira, maio 02, 2008

Fuga


Um guerreiro da luz que confia de mais na sua inteligência acaba por subestimar o poder do adversário.

É preciso não esquecer: há momentos em que a força é mais eficaz que a sagacidade. E quando estamos diante de um certo tipo de violência, não há brilho, argumentos, inteligência ou charme que possam evitar a tragédia.

Por isso, o guerreiro nunca subestima a força bruta: quando ela é irracionalmente agressiva, retira-se do campo de batalha até que o inimigo desgaste a sua energia.

Contudo, é bom deixar bem claro: um guerreiro da luz nunca se acobarda. A fuga pode ser uma excelente arte de defesa, mas não pode ser usada quando o medo é grande.

Na dúvida, o guerreiro prefere enfrentar a derrota e depois curar as suas feridas - porque sabe que, se fugir, está a conferir ao agressor um poder maior do que ele merece.

Ele pode curar o sofrimento físico, mas será eternamente perseguido pela sua fraqueza espíritual. Perante alguns momentos difíceis e dolorosos, o guerreiro encara a situação desvantajosa com heróismo, resignação e coragem. Nós dizemos a verdade dolorosa ao próximo, porque a queremos esconder de nós próprios. Nós mostramos a nossa força, para que ninguem possa ver a nossa fragilidade. Por isso, sempre que estiver a julgar o seu irmão, tenha consciência de que é você quem está no tribunal.

Às vezes, esta consciência pode evitar uma luta que só trará desvantagens. Outras vezes, porém, não existe saída, resta apenas o combate desigual.

terça-feira, abril 29, 2008



Porto Santo. Uma passagem felis

Mente

Hoje estou angustiada,stressada,deprimida, só, enraivecida, estes sentimentos devem servir-me como um sério aviso de que estou mais uma vez a usar a minha voz mental e que devo mudar de direcção. Quando uso a ninha voz mental, nunca encontro respostas. Apenas prelongamentos do meu permanente estado de insegurança e de medo fundamentado nas usuais comparações por que oriento a minha vida.
Quando eu percebo a existência desta minha voz interior, essa descoberta liberta-me do sofrimento que inflige constantemente a mim própria e aos outros, pois posso deixar de ver o mundo através daquele meu eu exclusivamente criado pela minha mente

terça-feira, abril 15, 2008

LUZ PARA HOJE

Mais do que uma mão estendida.

Mais do que um sorriso, mais.

Do que a alegria do encontro.

O amor é a força espíritual.

Que uma pessoa recebe quando.

Descobre que existe outra.

Que acredita e confia nela.



O amor é a renúncia de dois egoismos.

E a soma de duas generosidades.





Entre o amor há sempre um reconfortante.

Espaço para as subtis diferenças.

E semelhanças, que conduzem.

Á competição ou à cedência.

E também há sempre espaço.

Tanto para a desilusão como.

Para o assombro.





Assim disse um nobre amor!!!



Por favor, vai-te tratar. Isso já é do foro psiquiatrico. Não há pachorra.





Como é reconfortante sentirmo-nos amados desta maneira, Não ter de ponderar os pensamentos, nem medir as palavras, mas deixá-las livres. Palavras ditas com amor, com um sopro compreensivo, onde deitou tudo o resto ao vento.

sexta-feira, abril 04, 2008

PÁRA

PÁRA!
O que andas a fazer!?
As montanhas não tremem à tua passagem.
E os rios não mudam de margem.
Só para te ver!

PÁRA!
Quem julgas que és!?
Lá porque tens fogo e ferro na alma.
Não tens o mundo.
Desmaiado aos teus pés!

PÁRA!
Pára para reflectir!
Quando já estiver tudo exterminado.
E olhares para o lado.
Como te irás sentir?

terça-feira, março 25, 2008

Calar a voz

Tenho horas em que não te falo. Não é porque esteja triste contigo. É apenas, não tenho nada a dizer ou simplesmente tenho mas não quero dizer nada. E se estou quieta, não fiques a pensar o porquê ou a sentires-te incomodado na minha quaze não presença.
Não questiones o que sinto apenas porque a minha voz se cala, ou o meu corpo estendido sem se mexer.
Nem sempre me é fácil. Os dias nem sempre me trazem fardo leve. Se ficar quieta, vou para longe. Imagino tudo igual mas de forma diferente.Eu sei, não perceber...Preciso, sabes? Deixar a imaginação voar fugir um pouco da realidade, esquecer, eu digo cá dentro, no fundo onde faz eco. Fingir que, faz de conta que. Deixa-me estar quieta. Dá-me a mão, fica assim, pertinho de mim sem ser preciso nada. Eu sei, são só duas mãos entrelaçadas. Mas são muito. E outras horas são tudo. Ou abraça-me para que cá por dentro se renove a esperança de que algumas coisas acabem bem, mesmo na vida real. Deixa que os braços se entrelacem em abraços apertados.
É que sabes? Tenho momentos em que sou muitas. Carrego a criança que dorme, preciso viver como a mulher que hoje sou e tenho o espírito da idosa que um dia serei.
Não me leves a mal. A vida nunca é fácil.

segunda-feira, março 24, 2008

GRITO

O grito não sai, está preso aqui dentro como se fosse agarrado por algo interior e mais forte do que eu mesma.
Não me consigo mexer, já não sinto dor. O meu coração já não está ferido, não sente nada, não tem nada.O abismo é só um ponto de fuga. Já não sinto nada daquilo que se está a passar á minha volta, tudo parece apenas tudo e nada parece apenas nada.
O meu coração aumenta de ritmo, bate cada vez mais rápido e mais forte, parece que vai saltar, mesmo parecendo que não o tenho. A minha cabeça pensa em várias coisas ao mesmo tempo, mas não pensa em nada. Sem muito pensar, levo-me para longe do agora e para tempos que eu própria já tinha esquecido. Lembro-me de tudo o que passei de mau, lembro-me de como eu gostava que as coisas corressem de forma diferente. Já estou no presente, regresso agora, volto aos tempos de hoje, afasto-me do meu corpo e observo-me como se fosse outro alguém que desconheço. Pergunto-me quem sou... Desconheço-me por completo.
Volto ao passado em que um dia fui feliz - Ainda me lembro dele. As lembranças, ai, são boas. África.
Sorrisos, alegria, mimos, constante coragem, emoção. Volto ao presente, lágrimas, tristeza, medo, dor, revolta. O meu futuro é incerto...Pergunto-me se existirá um futuro, as diferenças são tantas, parece que estou a viver o contrário do que era naquele passado tão feliz. Pergunto-me agora se aquilo realmente existiu, não quero que as certezas que tenho sejam realmente verdade. A palavra justiça não me faz sentido algum, sinto que ela não me deu significado ou motivos de existência para eu a ter em consideração. O passado para mim é um fantasma bom, o presente, um fantasma mau. Volto a interrogar-me em relação ao futuro, nada sei sobre ele...Incertezas, revoltas, sentidos pouco sentidos, confusa e realista, dor sem dor. A vida é uma escada...A minha escada é cansativa, será que um dia irei cair desta escada? Ou, finalmente, a vou subir de uma vez por todas.

segunda-feira, março 17, 2008

TRISTEZA

Pedaços de água no olhar.
De sonhos desfeitos em nada.
Cabelos em desalinho.
Onde brilham em torvelinho.
Pérolas de pranto ao luar.

Olhos tristes de quem sofreu.
Na vida, tormentos mil.
Silêncios a quem doeu.
Um amor que já morreu.
Ainda por começar.

Embalada nos braços fortes.
De uma recordação.
Vai tropeçando em pedaços.
vazios de um coração

Sonha, mulher menina, triste.
Limpa as lágrimas, sorri.
Também eu vivi morrendo.
E morri, vivendo em ti.

segunda-feira, março 03, 2008

ESTRELAS

Todavia, em Setembro, já eu tinha reparado que a farda me ficava toda a dançar, decidi ir ao médico. E do médico para o hospital de S.José foi um salto, um vírus instalara-se nos alvéolos, onde se reproduzira alegremente: uma pneumonia sem febre, sem tosse, mas não menos capaz de matar.
O tempo que passei no hospital não foi um período infeliz, havia sempre alguém a tratar de mim e a distrair-me sem nunca me obrigar a sair da cama. Travei amizade com duas senhoras do hospital, quando me visitavam juntamente com o Padre Fausto: estavam muito surpreendidas por nunca ninguém me ir vesitar. No dia em que saí trocamos moradas, promessas de voltarmos a ver-nos.
Era uma segunda semana de Outubro, eu andava pela cerca como em sonhos, a violência dos ruídos e dos movimentos atordoava-me, os meus passos eram frágeis, hesitantes.
No jardim, a minha roseira tinha florido - uma flor pequena, raquítica, já pronta para enfrentar o frio do inverno -, as folhas das árvores começava a amarelecer e na tigela do benfica, cheia de água, boiavam os cadáveres de algumas vespas e de um zângão. Bastara um mês de ausência para que o cheiro a mofo e a humidade invadissem a camarata.
O outono estava diante de mim, e, à minha volta, o vazio.
Já sentia o vento sul a enrrodilhar-se para lá das Serras, ouvia-o descer, prender-me no seu assobio e penetrar até aos ossos do crânio.
Não aguentava passar ali mais um Inverno, tinha de fugir. Parecia-me que tinha vivido vinte anos em dois anos, estava cansada de mais para continuar.
Na verdade, sabia que não seriam opções, mas fugas, sumiços, testos mal pousados em cima de uma panela. Uma parte de mim estaria ali a interpretar a ficção e a outra continuaria a andar pelo mundo, percorrendo as ruas com os passos meio vazios de Évora. Afogar-se-ia em todos os abismos, em todas as escuridões; esperaria com humildade confiante diante de todas as portas abertas, como um cão à espera de um dono que ainda não conhece.
Queria luz, esplendor.
Queria descobrir se a verdade existe, se é ela o eixo à volta do qual tudo gira como um caleidoscópio, ou então morrer.
Ao voltar para dentro, reparei que andava com mais ligeireza, a decisão de fugir fazia-me olhar para tudo com indiferença, quaze com nostalgia.
- Se as folhas caem - dizia eu - , tem de haver uma razão, a Natureza não é estúpida como os homens, e aquilo a que chamas ervas daninhas não sabem o que são; eu é que as julgo e as condeno, mas elas acham que são flores e ervas, tão bonitas e importantes como as outras todas.
Eu não vejo a alma do jardim, gritei um dia, furiosa, não vejo a alma de nada de nada!
Nos últimos dois dias, arrumei meticulosamente num saco algumas roupas e a escova de dentes; por cima de tudo, coloquei a velha Bíblia sem capa que me deram na Igreja.Por cima de mim, brilhavam as estrelas, as mesmas que, há alguns anos, tinham velado pela viagem da minha mãe. Será que as estrelas têm olhos , pensava, será que me vêem como nós as vemos a elas, será que têm um coração misterioso - podem influenciar os nossos actos.
Quando era miúda, antes de ir para a cama, insistia em ir à janela dar as boas noites à minha mãe que, segundo me tinham dito, fora viver lá para cima; se as nuvens, em certas noites, cobriam o céu, desatava a soluçar. Imaginava-a como uma fada de vestido comprido e leve de chiffon colorido, na cabeça trazia um cone luminoso, coberto por estrelinhas, tinha um rosto sereno, levemente divertido, e, em vez de pernas, via-se uma única esteira luminosa: Só assim me podia seguir, esvoaçando de estrela em estrela.
Será por isso que a minha alma se parece com a de um cão?
Será por isso que, desde sempre ando pela estrada da vida à mercê da inquietação feroz dos que não têm dono?

sábado, março 01, 2008

Oração

As noites são longas, nas noites de vento sul.Senti uma imensa vontade de rezar, embora sentada na casa de banho, a minha alma estava ajoelhada aos pés de Sto. Antonio. Fechei os olhos, deixei que a música também se misturasse comigo, lavasse a minha alma dos medos das culpas, me fizesse recordar sempre que eu era melhor do que pensava, mais forte do que julgava ser. Eu não me mexi. A minha cabeça dava voltas, sem perceber o que estava a acontecer. No colégio! Um som interrompeu o meu pensamento - um som agudo, longo, como se fosse uma flauta gigantesca. O meu coração deu um salto.
Veio outro som.E mais outro. Olhei para trás: e ele estava lá. Não via o seu rosto, porque o lugar era escuro - mas sabia que ele estava lá.
Levantei-me, e ele imterroupeu-me: Luisa! - disse com a voz cheia de emoção. - Fica onde estás. Eu obedeci. Que o grande pai me inspire - continuei. - Que o meu medo seja a minha oração desta noite. Na solidão da madrugada, eu rezava. Seria um agradecimento, ou uma súplica? - pensei, ao chegar à minha cama. Por acaso, as perguntas não surgiam todas da mesma forma, durante a noite? E se as perguntas não fossem mais do que a única forma de oração que nos é dada. Continuando a pensar no acaso, decidi ir até à varanda, olhei Sintra com a beleza da noite. Ainda estava muito escuro, o despertador marcava três horas da madrugada, em algumas casas ainda havia luzes acesas. De noite, o acaso tem de fazer frente a uma data de suplicantes: cada lâmpada acesa, uma inquietação, uma fractura, uma ponte que ficou suspensa; cada luz, uma memória sem páz, pensei, enquanto ia andando pela casa e o medo me atormentava. Ao chegar ao fím da sala, sentei-me na cadeira, e abri a janela da varanda, a brisa da noite passara, os rumores, os cheiros, tudo estava imóvel. Sentia-me como num teatro antes do ínicio do concerto, a orquestra já estava no seu lugar, o maestro estava firme em cima do meu armário: olhares, mente, coração, músculos, tudo estava à espera de poder explodir na harmonia do som.
Ainda era madrugada quando se ouviu o latir de um cão que ficava nas encostas de Fitares, e pouco depois um clarão aspergiu a abóbada escura do céu.
Não importa, por quê, por quem estou aqui?, como dissera alguém, - já que tudo se reproduz inexoravelmente, desde os bolores até aos elefantes?
Seria, portanto, filha da inexorabilidade?.

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Magia

A vida ensinou-me muitas coisas - tentando manter o meu pensamento. Ensinou-me que podemos aprender, ensinou-me que podemos mudar, mesmo que pareça impossível.
É preciso correr riscos, falo para mim mesma. Só percebemos realmente o milagre da vida quando deixamos que o inesperado aconteça.
Deus dá-nos todos os dias - junto com o sol - um momento em que é possível mudar tudo o que nos deixa infelizes. Todos os dias procuramos fingir que não nos apercebemos desse momento, que ele não existe, que hoje é igual a ontem e será igual amanhã. Mas, quem presta atenção ao seu dia, descobre o instante mágico. Ele pode estar escondido na altura em que enfiamos a chave na porta, pela manhã, no instante de silêncio logo após o jantar, nas mil e uma coisas que nos parecem iguais. Mas esse momento existe - um momento onde toda a força das estrelas passa por nós, e nos permite fazer milagres.
Às vezes, a felicidade é uma bênção - mas geralmente é uma conquista. O instante mágico do dia ajuda-nos a mudar, faz-nos ir em busca dos nossos sonhos. Vamos sofrer, vamos ter momentos difíceis, vamos enfrentar muitas desilusões. Mas tudo isso é passageiro e não deixa marcas. E, no futuro, poderemos olhar para trás com orgulho e fé.
Mas pobre de quem teve medo de correr riscos. Porque esse talvez não se decepcione nunca, nem tenha desilusões, nem sofra como aqueles que têm um sonho a seguir. Mas quando olhar para trás - porque olhamos sempre para trás - vao ouvir o seu coração dizer: O que fizeste com os milagres que Deus semeou nos teus dias? O que fizeste com os talentos que o teu mestre te confiou? Enterraste-os bem fundo numa cova, porque tinhas medo de perdê-los. Então, esta é a tua herança: a certeza que desperdiçaste a tua vida.
Pobre daquele que escuta estas plavras. Porque então acreditará em milagres, mas os instantes mágicos da vida já terão passado

segunda-feira, janeiro 21, 2008

Silêncios

Começámos a andar muito de perto, tanto que os caminhos que escolhemos pareciam-nos quaze paralelos. Mas ao fím de pouco tempo já nos falavamos através do caminho; depois mais distantes, saudávamo-nos com a mão...

Houve lombas que se interpuseram, bifurcações, outras vozes da vida e das noites.

Silêncios...

De qualquer forma, nenhum outro amor, chegou a ocupar o lugar da tua na minha vida.
A mim também me fogem as horas e os dias se transformam em anos. Mas não te esqueço.
E nenhum pensamento que me tenhas dedicado deixou de chegar até mim planando nas asas do silêncio. Onde quer que estejas, aperto a tua mão.
Através da distância.

Com o meu carinho de sempre.

terça-feira, janeiro 15, 2008

Antepassados

Que escolhas fizeram os nossos antepassados? Que fardos tiveram de carregar? E porquê tanta diferença nos pesos? Porque hà quem corre, leve como uma pena, e quem pelo contrário, não consegue sair do chão?

Foi com estes pensamentos que subi de novo ao sótão, ou seja arrecadação. O Sol de inverno já não aquecia o ar e, para não gelar, fechei a janelinha que dava para o telhado, onde via Sintra. Sentei-me de pernas cruzadas diante da mala aberta: não ficara lá grande coisa, algumas cartas poeirentas e um caderno do Fábio de aspecto mais recente abandonados. Eram os últimos vestígios. Para onde me levariam aquelas folhas de papel?
Tinha medo de ficar desiludida, se calhar não passavam de um maço de cartas banais, enviadas por pessoas quaisquer...algo começou a fazer efeito. Um simples postal dizia...regressamos na quinta-feira, no comboio das oito.
Levei-as para casa e coloquei-as em fila sobre a mesa da cozinha, mas já era tarde: como não me apetecia abri-las, ontem no final do dia, decidi esperar pela luz desta tarde cinzenta. Sentei-me na sala, incomodada com a música dos meus vizinhos do lado, não conseguia ler, nem escrever, só às quatro da tarde é que o silêncio caiu sobre o planalto de Sintra, quebrado aqui e ali pelo rouco de alguns camiões. Mais ao longe, ouvia-se o apito dos comboios de Meleças, pareciam estar a dar um pequeno concerto sob a neblina leve do inverno.
Que música será esta?, pensei, será a sinfonia da partida ou do regresso?

Na capa do caderno, uma paisagem de Inverno: em primeiro plano, as pegadas de um lobo na neve; ao centro, árvores com os ramos totalmente cobertos de neve; em fundo, fechando o horizonte - por baixo de um céu claro e luminoso - , uma cadeia montanhosa cintilante de gelo. Era um simples caderno para as contas das despezas domésticas. Talvez tenha sido por isso que o abri com ligeireza. Uma ligeireza que se transformou em gelo, mal vi a letra, e a quem pertencia. Lembrei-me de repente...aquele caderno foi-me dado pela minha tia Victória, irmã da minha mãe. Na primeira página, estava escrito: Poemas. Não me tinha sentido embaraçada ao folhear o caderno, nem ao ler a carta que ela escrevera pelo Natal, ao meu pai para Lisboa mas, diante daquele caderno, sentia-me perturbada e intimidada; nunca imaginara que minha mãe tivesse uma veia poética. Havia muitos poemas - uns curtos, outros muito longos. Li alguns, folheando ao acaso.


Medo

Não são os monstros que me metem medo.
Nem os assassinos.
Não tenho medo da noite.
Nem de aluviões ou cataclismos.
Nem dos castigos ou da morte.
Nem de um amor que não existe.
Só tenho medo.
Da tua mão minúscula Luisinha.
À procura da minha.
Do teu olhar terno.
Perguntando. Porquê?

Cândida

Toldou-me a vista, senti um aperto no peito: era como uma haste, um daqueles pauzinhos afiados que servem para matar os vampiros. A mão de alguém estava a empurrá-la com toda a força, trespassando-me a caixa torácica. O pauzinho enterrou-se mais um pouco, penetrando no diafragma, bastava desviar-se ligeiramente para a esquerda e perfurar-me-ia o pericárdio.
Aquela era a minha mãe.