quinta-feira, dezembro 20, 2007

Palavras de sempre

Somos o que somos por aquilo em que acreditamos.

A vida é uma grande corrida de bicicleta, cuja meta é cumprir a Lenda pessoal. Precisamos de Quatro Forças Invisíveis: amor, morte, poder e tempo.
É necessário amar, porque somos amados por Deus.
Estas Quatro Forças não podem ser tratadas como problemas a serem resolvidos, já que estão para além de qualquer controlo. Precisamos de as aceitar, e deixar que nos ensinem o que precisamos de aprender.
Nós vivemos num Universo que é, ao mesmo tempo, suficientemente gigantesco para nos envolver, e bastante pequeno para caber no nosso coração. Na alma do homem está a alma do mundo, o silêncio da sabedoria. Enquanto pedalamos em direcção à nossa meta, é sempre importante perguntarmo-nos: O que é que há de bonito no dia de hoje? O sol pode estar a brilhar, mas se a chuva estiver a cair, é importante recordar-se de que isso também significa que as nuvens negras, em breve, se vão dissipar. As nuvens dissipam-se, mas o Sol permanece o mesmo, e nunca desaparece - nos momentos de solidão, é importante lembrar-se disso.
Quando as coisas estiverem muito más, não nos podemos esquecer de que todas as pessoas já experimentaram isso, independentemente da raça, da cor, da situação social, das creças ou da cultura.
Uma bonita prece a Deus.
Ó Deus, reconheço-te nas provações por que estou a passar. Permite, ó Deus, que a tua satisfação seja a minha satisfação.
Que eu seja a Tua alegria, aquela alegria que um pai sente por um filho. E que eu me lembre de Ti com tanquilidade e determinação, mesmo quando é difícil eu dizer que Te amo.
O melhor a dar ao nosso inimigo é o perdão; ao nosso adversário a tolerância, a um amigo, o coração. A um filho, um bom exemplo, a um pai houra; a uma mãe, uma conduta de que ela se orgulhe. A nós próprios, respeito...E ser compassivo para com toda a gente.
Hoje vivi mais um dia, com amor.Para que, se ela acabar amanhã, possa ficar satisfeita comigo, e também quem me amou.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Ontem

O dia de ontem foi vivido, e pensado, intensamente; quase como um poema.
Cansada, cheguei da praia Grande -como se tivésse chegado a um sítio perdido na paisagem da imensa noite - pelas intermináveis e monótonas estradas que terminam, subitamente, em Rio de Mouro.
É-me sempre difícil chegar a Rio de Mouro. Aqui passo os meus dias; e, aqui, muitas vezes, volto à procura daquilo que sei ter morrido para sempre.
Quantas vezes me traiu, e amou, esta freguesia? Quantas vezes, com amargura, fugi dela?
O que destrói a terra destrói o corpo, disse alguém. A devastada paisagem fazia parte de um corpo cuja memória me é impossível apagar - corpo onde permanece ainda aceso o mistério da criança que fui.
Levantei-me cedo. Fui à junta médica mais uma vez. Almocei, meu relógio espíritual, mandou-me até ao mar. Sobre as rochas, à beira do Oceano, fez ouvir no povoado silencio de uma clara e serena tarde de Dezembro. O sol ia dissipando a transparente neblina e despindo a agreste paizagem dos veus da gaze que a envolviam. Cortavam o ar milhares de azas; pela terra os insectos zumbiam. As casas, pouco elevadas, brancas, amarelas, côr de rosa e azues, destacavam-se a pouco e pouco, d`entre as brumas, e recortavam-se umas no horizonte, outras no fundo escuro pinhal.
Lembrei-me, nesse instante, de alguém. Olho fixamente o fogo enquanto o passado também arde em mim - como um clarão de luz sobre o mar. Sinto que hà uma estranha eternidade naquilo que amámos e foi destruído.
Ao longe, as gaivotas em voo planado sulcam a salinidade aérea do mar. Encosto a cara ao vidro turvo da janela do carro e deixo passar o tempo. Onde meu olhar sombrio, parado, via a noite que caía com vagar; o mar arremassava-se, violento. Assim estavam meus sentimentos.

segunda-feira, novembro 12, 2007

Janela

A vida corre tranquila do lado de fora da minha janela verde; oiço os comboios, os carros, a tosse dos velhos e o riso das crianças. O sol percorre o seu caminho atravessando o céu azul de Portugal, um dos mais belos do mundo inteiro. O meu olhar apanha um pássaro e voa para o Sul. Na minha mente, vejo o estuário do Tejo, sereno e grandioso, depois o rio Sado e continuo a caminho de África, sobrevoando as planícies Alentejanas, secas pela falta de chuva, com os seus sobreiros como mãos viradas para o Criador a pedir água, paz e protecção divina. Já não quero voar para o Norte, para a cidade da luz cinzenta que te come os dias enquanto trabalhas com o coração anestesiado.
Se ficar aqui fechada, em breve serei tolhida pelo frio e pelo sentimento de vazio e de derrota que me vai invadindo as horas do dia, à medida que a noite se aproxima. Por isso escrevo como quem voa e as minhas palavras são o voo daquele pássaro que há pouco cruzou a minha janela.
Antes fugir do que ficar, porque se aqui ficar serei tomada por um langor triste que antecede o esquecimento, como o último suspiro de um pássaro que prefere a morte à imobilidade. Mas também sei que fujo porque desejo que me sigas, que me procures, que a minha ausência te faça vir a9o meu encontro. As mulheres não foram feitas para correr; se o fazem, é para serem apanhadas.

segunda-feira, agosto 13, 2007

Silêncio

O teu olhar chega primeiro mas o teu coração demora-se, porque, apesar do silêncio e da distância, agora real outra vez, ficas ainda por aí, espalhado pelos lugares por onde passeámos.
Nada guarda memória mais certa e fiel do que a minha da tua pele, por isso vais ficando no cheiro, no eco da voz, no sabor da boca, no toque dos dedos nas costas da mão, no olhar calado e fixo, atento e preso, muito mais eloquente que mil poemas de amor.
Não voltarei, e até ao fím dos nossos dias, ficamos os dois a pensar como é que somos suficientemente loucos para viver uma possibilidade e suficientemente sensatos para não sofrer com ela. Eu tento ter mais sorte, porque vou meia dúzia de voltas à frente: Já sei onde é mimha casa e já encontrei minha missão na terra. Tu procuras ainda muitos caminhos, por isso ainda não podes escolher nenhum. Gostava que a tua casa fosse meu coração. Se assim fosse, saberias sempre o caminho de volta, mesmo que o teu espírito de nómada e fugidio te levasse para os armários da casa de banho, ou almoçar com os amigos, ou para as ilhas Gregas e todos os lugares do mundo que queres tocar. Mas a minha morada é sempre a última.
Gostava que a tua casa fosse o meu coração, como um botão que encontrou o seu lugar, porque a nossa casa é o único lugar do mundo onde podemos descansar, onde nos compreendem mesmo quando nós não nos conseguimos perceber.
A nossa casa é onde ninguém faz barulho quando estamos a dormir e ninguem nos acorda a meio da noite. Não tenho portas blindadas nem uma estrutura à prova de sismos, mas o meu sistema de aquecimento central é o melhor do mundo e acredita que nunca, mas nunca mais, te irias sentir sózinho ou perdido.
Apetecia-me inundar a tua vida de sonhos, apetecia-me cobrir-te de palavras com sentido, e outros presentes que te enchessem de mim, mas controlei-me como pude, porque já aprendi que não podemos dar mais aos outros do que eles estão habituados a receber. Sabes como sou impetuosa, voluntariosa, impulsiva. Sabes como luto pelo que sonho, como me dedico a tudo aquilo em que acredito. E isso faz com que tenhas medo de mim. Sou demasiado directa, damasiado óbvia, só aguento o jogo da sedução logo no ínicio. Depois a rotina e tudo mais cansa-me e avanço sem estratégia. Todas as mulheres, por mais seguras e maduras que sejam; precisam, acima de tudo, de se sentirem amadas. Acima do respeito, do reconhecimento, da estima e da amizade, elas precisam de sentir amor.

sexta-feira, agosto 10, 2007

Quinta da Letrada

Pela manhã, ouvia a música que vinha do fundo da minha solidão. A quinta chamando-me sempre. É quaze uma música aquática, arestas de sangue, medrosos dedos tamborilando nos vidros poeirentos. Teu nome, este som frio de árvores esfacelando a cal das paredes. Escrevo com o medo e o susto dentro de cada palavra. A vida atinge a espiral vertiginosa do dia. É esta palavra que me serve para nomear e não outra: medo.
Os textos progridem com a desolação dos meus sentimentos feridos, e com a desolação da casa, latejam sobre o computador, doem-me os dedos e os olhos, e o meu coração desgasto pela dor, pela doença.
A casa foi abandonada, permanece vazia, duma janela avista-se outra janela. O interior é húmido e escuro. Onde uma porta enquadra outra porta não se pressentem mais sinais de vida. Apenas flutuam aromas, presenças ténues de corpos. O olhar demora-se sobre as geometrias musgosas dos tectos, uma sombra desliza junto ao quarto que foi dela, o estuque esfarela-se, cai. Ouve-se um rumor misterioso de poços, de insectos por dentro das paredes, o olhar aprende a ver na penunbra esverdeada das salas. Apura-se o ouvido e o tacto quaze consegue delinear a presença dos mortos, perco o medo, caminho de quarto em quarto. Consigo chegar à porta do quarto de infância, abroa. Alguém fotografa alguem, o espelho acende o meu reflexo. Não me reconheço nele, existe uma saída secreta que eu utilizava. Cresci com a casa, a infância desapareceu num recanto quaze inacessível da memória. Nada resta da travessia alegre dos corpos que nela viveram, nem mesmo se encontram sulcos de chuva nos soalhos alongados, lavados com sabão amarelo. Nem ossos de alguma ave que tenha servido de alimento, nem cinza ou pedaços de carvão, restos de gordura, nada. A luz continua a entrar pelas frestas das janelas mal fechadas. A desolação insinua-se até à medula das madeiras. O meu olhar triste e choroso escolhe algumas imagens da casa, únicos sinais guardados na meticulosa memória de quem com ela viveu. Continuei o meu caminho, o silêncio e as sombras deslizam à minha volta. Espreitam por cima do meu ombro para verem os meus rascunhos.

quinta-feira, agosto 09, 2007

Dispersos de Milfontes/ 1978/79

Outras feridas.
traços de répteis incandescentes pelas dunas, hastes quebradas, excrementos sinalizando com rigor apertados caminhos. Areias de cor indecisa.
São bons estes lugares de cinza, para a solidão insuspeita dos pássaros. Da boca das areias desmonorando-se irrompem fosforosos bichos, adocicados corpos, um rosto de fogo encima o leite vagaroso das nuvens, depois, ouvem-se os nomes dos barcos, e do vento uma voz explode, fende, desfaz a tempestade, teu corpo acalma por cima do misterioso espelho, mão na mão, percorremos todas as águas, conhecemos os domínios húmidos dos monstros marinhos e a loucura dos peixes cegos, que deu nome à nossa amizade e às cidades costeiras. Outras feridas alastram subitamente no fulcro da memória outras noites atravessam-me. Semeiam pelo corpo flores e pânico. Falo com os barcos postos-a-seco, das salivas marinhas cresce uma quilha enfurecida, a escrita é um marulhar incessante, imito a paisagem como se imitasse, ou te escrevesse.
Teu rosto dilui-se nos ossos da página, contamina as cartilagens das sílabas, resta-me o fingimento sibilante das palavras. Caminho pelo interior das dunas, apago o rasto de tinta acetinada, sou terra sem texto onde não encontro água. Só noite e um rumor imperceptível no coração. Mais nada.

quinta-feira, agosto 02, 2007

Pouco mais há a dizer

Pouco mais há a dizer.Caminho largando os últimos resíduos da memória. Fragmentos de noite escritos com o coração a pressentir as catástrofes do mundo. A grande solidão é um lugar branco povoado de mitos, de tristezas e de alegrias. Mas estou quaze sempre triste. Vejo algumas fotografias minhas do passado, revelam-me que noutros lugares já estivera triste. Por exemplo, no fundo deste poço vi inclinar-se a sombra adolescente que fui.Água lunar, canaviais, luminosos escaravelhos. Este sol queimando a pele das plantas. Caminho pelos textos e reparo em tudo isto. O que começo deixo inacabado, como deixarei a vida, tenho a certeza, inacabada. O mundo pertenceu-me, a memória revela-me essa herança, esse bem . Hoje, apenas sinto o vento reacender feridas, nada possuo, nem sequer sofrimento. Outra memória vai tomando forma, assusta-me, ainda quaze nada aconteceu e já envelheci um pouco. Um jogo de estilhaços é tudo o que possuo, a memória que vem ainda não tem a dor dentro dela. As fotografias e os textos, teu rosto, poderiam projectar-me para um futuro mais feliz, ou contarem-me os desastres dos recomeçados regressos. Mas, quando mais tarde conseguir reparar que a vida vibrou em mim. Um instante, terei a certeza de que nada daquilo me pertenceu. Nem mesmo a vida, nenhuma morte. na mesma posição, reclinada sobre o meu frágil corpo, recomeço a escrever. Estou de novo ocupada em esquecer-me. A escrita é precária morada para o vaguear do coração. Resta-me a perturbação de ter atravessado os dias, humildemente, sem queixumes. Anoitece ou amanhece, tanto faz.

terça-feira, julho 31, 2007

É tarde

É tarde meu amor. Estou longe de ti com o tempo, diluíste-te nas veias das marés, na saliva do meu corpo sofrido. Agora, as minhas saudades trituram-me, cospem-me, interrompem o sono.
Habito longe, no coração vivo das areias, no cuspo límpido dos corais...e no ventre impossível das cidades nocturnas. A solidão tem dias mais cruéis.
Tentei ser tua, amar-te e amar o falso ouro...quis ser grande e morrer contigo, enfeitar-me em luas brancas, pratear a voz em tuas águas de seda...cantar-te os gestos com ternura, mas não.
Águas, águas inquinadas pulsando dentro do meu corpo, como um peixe ferido, louco. Em mim a lama...e o visco inocente dos teus náufragos sem nome de rua, nem estátua-de-jardim-público.
Aceito o desafio do teu amor? Na boca ficou-me um gosto a salmoura e destruição, apenas possuo o corpo magoado destas poucas palavras tristes que te cantam.

sábado, junho 02, 2007

Alguém

Amor é muito mais do que hábito, é sobretudo tempo. E quando se ama, há sempre dúvidas e medos, há sempre uma vontade secreta de outros desejos, de outras viagens, mas vem o tempo e decide por nós aquilo que não somos capazes.
Quando se ama alguém tem-se sempre tempo para essa pessoa. E se ela não vem ter connosco, nós esperamos. O verbo esperar torna-se tão imperativo como o verbo respirar. E aprendemos a respirar na espera, a viver nela, afeiçoando-nos a um sonho como se fosse verdade. A vida transforma-se numa estação de comboios e o vento anuncia-nos a chegada antes do alcance do olhar. O amor na espera ensina-nos a ver o futuro, a desejá-lo, a organizar tudo para que seja possível. E se calhar é por tudo isso que já aprendi a esperar, confiando à vida tudo o que não sei, ou não posso escolher.
É mais fácil esperar do que desistir. É mais fácil desejar do que perder. E para quem vive a sonhar, é muito mais fácil viver.
Olho para o futuro e sonho com ele. Diante dos meus olhos desenha-se uma casa, um jardim, oiço o cantar dos pássaros e o riso das crianças; cheira a alecrim e a alfazema, já tenho cabelos brancos que às vezes prendo num carrapito. E ao meu lado, todas as manhãs, acordas devagar, abres os olhos e mergulhas nos meus. Vivemos na mesma casa e partilhamos os mesmos sonhos. Vivemos um presente fácil, porque sonhamos um futuro bom. Vivemos um com o outro e também um para o outro.O tempo é o que queremos fazer dele. Assim como um presente, um presente que podemos desembrulhar todos os dias. E o futuro é a mistura dos dois. Dois em um como duas metades da mesma laranja, num mundo feito à nossa medida, ao sabor dos sonhos. Basta querer.

segunda-feira, maio 28, 2007

DEPOIS DE ALGUM TEMPO

Já pensaram que a existência humana é tantas vezes assim? Passamos dias, semanas, meses , a construir os nossos sonhos e, num breve instante, alguém tropeça neles e tudo se desfaz e desmorona, numa sucessão de azares impossível de travar.
Quando o meu dominó começa a cair, junto-lhe mais peças na cauda e aproveito para limpar fantasmas na enxurrada. Ao menos sofro tudo de uma vez, condenso a frustração num par de dias e fico a enxaguar a tristeza até ela secar ao sol.
Depois, com muita calma, começo a montá-lo outra vez e, aos poucos, vejo-o a crescer sózinho, como se o embate que fez cair as peças tivesse o poder de as levantar.
A esta capacidade rara de transformar problemas em soluções e encontrar novos caminhos em encruzilhadas já chamei persistência e sentido de justiça.
Sou e serei a mulher mais persistente que se cruzou no teu caminho, nunca conhecerás outra que acredite tanto na justiça dos seus sonhos e que, por isso mesmo, nunca desista deles.
Cada escravo carrega a chave da sua liberdade. A minha está perdida no fundo do mar. Do meu mar de dúvidas, de solidão, de incertezas, por detrás do meu muro de auto-suficiência onde me escondo, imaginando-me protegida por uma armadura, porque cresci sozinha num mundo que me era estranho e agora se tornou familiar, mas que não faz parte do meu passado nem combina bem com a minha herança genética. Por mais fria que eu tenha me mostrado ao crescer, entregue a mim mesma em colégios austeros de pardes escuras e raparigas fardadas a rigor, por mais fleuma portuguesa e formalidades que me tenham incutido durante esses longos e solitários anos de crescimento e aprendizagem, o meu sangue é português e foi aqui perto que eu nasci. Como acontece a todas as mulheres, Há várias dentro de mim: Há a que sonha em abraçar o mundo e há a que quer um lar e precisa de colo: Há a romântica que sabe tocar a minha alma com enorme cuidado e sensibilidade.Há a cerebral que adora o campo, onde todos pensam que o trabalho está acima de tudo, a emotiva que namora com Sintra e gosta de se perder nas suas ruas estreitas, respirando o ar do oeste, sob o sol que quaze nunca me abandona. Tantas mulheres numa só! E eu sem saber qual quero ser, sem poder escolher...É muito difícil viver assim, sobretudo com a lucidez que sempre me acompanhou, sabendo que todas são verdade, que todas vivem em mim.
A minha chave está perdida, devia tentar encontá-la...Sou assim, gosto de acreditar que tudo pode ser possível, que os meus sonhos, se forem bons para mim e o melhor para o mundo, se podem realizar.
Tenho a sorte de ter nascido um espírito livre. Ou de me ter tornado um espírito livre.

segunda-feira, março 12, 2007

Primavera

A Primavera deste ano chegou de repente. Ontem o tempo estava maravilhoso, fui até ao Bombarral, seguindo para Peniche, estava tão radiante que, durante a viagem, não consegui estar calada um instante, pela janela via a mesma paisagem que tinha visto à tempos anteriores, mas tudo parecia diferente.
Tenho estado doente vai pra três semanas, nestas três semanas penso mais e mais profundamente do que quando estou a trabalhar.
A semana passada fui sózinha até Sintra, ao passear pelo miradouro do Palácio, pensei que o mais bonito seria morrer nesse instante. Parece estranho, mas a felicidade suprema, tráz sempre consigo este desejo contraditório. Eu estava feliz nesse dia.
Olhei a beleza do Palácio, e nesse instante, tinha a sensação de que estava a caminhar há muito tempo, de que tinha andado durante anos e anos por caminhos escalavrados, pelo matagal; para seguir em frente abrira à paulada uma estreita passagem, avançara e não vira nada do que me rodeava - PARA ALÉM DO QUE ESTAVA DIANTE DOS MEUS PÉS -; Não sabia para onde ia, podia haver um abismo à minha frente, um precipício, uma vila ou o deserto; depois, de repente, o matagal abrira-se, sem reparar tinha subido. Estava em cimo de um monte, o Sol tinha nascido há pouco e à minha frente, com matizes diversos, outros montes desciam para o horizonte; era tudo azul, uma brisa ligeira roçava pelo cume do monte, pelo cume do monte e pela minha cabeça, pela minha cabeça e pelos meus pensamentos. De vez em quando, ouvia-se um rumor lá em baixo, o ladrar de um cão, o sino da igreja. Tudo era ao mesmo tempo leve e intenso. Dentro e fora de mim tudo se tinha tornado claro, já nada se sobrepunha, já nada se interpunha, já não me apetecia descer, embrenhar-me no matagal; queria mergulhar em todo aquele azul e ali ficar para sempre, deixar a vida no seu momento mais sublime. Foi o que pensei até tarde, até ao momento de voltar a encontrar-me com Conceição. No entanto, depois fui para casa. Durante o jantar, não tive coragem para dizer-lhe, tinha medo que ele desatasse a rir. Só já noite avançada, quando ele perguntou o que eu tinha, quando chegou e me abraçou, é que aproximei a boca do seu ouvido para contar-lhe. Queria dizer-lhe: Quero morrer. Contudo, sei o que lhe disse? Não tenho sono.

domingo, março 04, 2007

Tantos anos

A dor tem vida própria e só o tempo e a generosidade da existência a podem apagar.
Já passaram tantos anos e não sei se o tempo curou a minha tristeza, mas quero acreditar que sim, que o passado não me pode prender, que somos mais fortes do que as nossas desilusões.

Poucas pessoas tiveram na vida tanta companhia como eu; fui criada em colégios internos, ainda hoje tenho os melhores amigos do mundo que me ajudam a pensar, a lamber as feridas, a escolher novos caminhos e a crescer. Mas penso demasiado em tudo, tenho sempre coisas para dizer aos outros e sei que os outros nem sempre têm tempo ou paciência para me ouvir.
Temo que todas as palavras que escrevo não passem de fragmentos de uma confissão. Fico sempre com a sensação que falta o essencial, que o mais importante ficou por dizer.
Preciso de me sentar todos os dias ao computador e escrever, quaze compulsivamente, mesmo que não tenha um livro em mãos. Habituei-me à companhia das palavras, ao silêncio da casa, ao olhar Sintra da minha janela, aos meus discos de música clássica, únicos intrusos admitidos nos momentos de peregrinação interior, que é afinal o que tento fazer quando estou a trabalhar. Não é vontade, é necessidade. É por isso que os músicos tocam, que os pintores pintam, que os escultores esculpem, que os atletas correm: porque precisam. E eu, em criança metia conversa com toda a gente, eu falo com as árvores e com as pedras da rua, preciso de me fechar todos os dias e escrever.
Há muitos anos que não me acontecia isto, pelo menos de uma forma tão intensa e inequívoca. Talvez a minha visão seja demasiado poética, exagerada, mas a vida é isto mesmo, ou se vive sem limites, ou então não vale a pena.
Se calhar sou doida, sofro da mais antiga enfermidade do ser humano e que ainda nenhum cientista se lembrou de diagnosticar, estudar e classificar como patologia: Não sei viver com gente fingida, preciso que me amem, para viver sem me deixar engolir pela realidade, sem sentir que estou a lutar para me manter à tona.
Não sei que espécie de caminhante sou, para onde vou, não sei. Sei que há uma força estranha que me faz correr, para onde não devo.

quinta-feira, março 01, 2007

PESO

O peso da noite é o peso das perguntas que não têm resposta. A noite é dos doentes, dos inquietos, não há forma de nos libertarmos da nossa tirania. Pode-se acender uma luz, abrir um livro, procurar na rádio uma voz reconfortante, mas a noite continua ali, à espreita: viemos do escuro, ao escuro voltaremos e escuro era o espaço antes de o universo ganhar forma.
Talvez seja por isso que as cidades estão cada vez mais iluminadas e cheias de atracções: a qualquer hora da noite, se quizermos, podemos comer, comprar alguma coisa, divertirmo-nos.
O silêncio e a escuridão são relegados para as poucas horas em que estamos esvaídos de cansaço e temos de tentar recuperar forças para continuar, mas não é um sono sulcado pelo fulgor das perguntas, é um desfalecimento, isso sim, o espaço breve em que o corpo é obrigado a ceder à fisiologia, para depois despertar diante dum ecrã luminoso, com um telecomando manejado sempre por nós.
Em que acreditas?, perguntara-me o Manuel. No silêncio da noite, dava voltas e mais voltas na cama, as dores eram muitas, sem conseguir sossegar.
Sabia que o sono não iria chegar, mas esperava ao menos por uma espécie de modorra. Em vão aquela pergunta pairava no ar,arrastando consigo muitas outras, e a primeira de todas era a sua irmã gémea: porque vives?
Em que acreditas? Porque vives? A cada criança que nasce deveria ser entregue um pergaminho com estas duas perguntas em pé de página, deixando por cima o espaço suficiente para o tempo que lhes é dado viver. Depois, teríamos de nos apresentar com essa mesma folha - preenchida com todas as acções da nossa vida - diante da morte.
De facto, eliminando a noite be o silêncio, deixa de haver espaço para as perguntas - e é essa a função do pergaminho: para que cada criança que nasça não pense que é apenas um objecto entre outros objectos, e até o mais perfeito; para que saiba ( se, ao longo dos anos, passar por acaso uma noite sem dormir) que o que a mantém acordada não é nenhuma doença, mas a sua natureza, porque a capacidade de se interrogar é própria do homem e de ninguém mais.
Em que é que acreditas?
Há dor, não alegria nas minhas primeiras recordações; há ansiedade, medo, não a serena certeza da pertença. Enquanto gatinhava à procura da minha mãe por entre aqueles corpos aturdidos pelos excessos, enquanto a via dormir ao lado de um marido a quem eu chamava pai, que podia eu sentir senão confusão?
Já então intuía que não era filha do casamento, mas do amor fora dele, e essa percepção, em vez de me empurrar para a aversão. fazia nascer en mim um estranho desejo de proteger a minha nãe; lia sempre um véu de tristeza por baixo da sua alegria forçada, sentia que ela comrçava andar à deriva e daria a minha vida para evitar que isso acontecesse.
De onde veio a minha alma?, pergunto a mim mesma: ter-se-á formado comigo, ou terá brotado do mistério do tempo fora para poder socorrer um corpo que levianamente a atraiu a si, condenando-a a viver a dor da não aceitação, na inquietação do lugar nenhum, do não importa, por quê, por quem estou aqui?, como dissera o meu pai, já que tudo se reproduz inexoravelmente, desde os bolores até aos elefantes?
Seria, portanto, filha da inexorabilidade?

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

PENSO

Hoje o dia está frio.
O vento e a chuva bate nas vidraças com força.
E eu tento proteger-me.
Refugiando-me no meu abrigo.
E tento lembrar do que fui.
Do meu passado e do meu futuro.
Com carinho e prometo no silêncio.
Do meu sentir que...
Tentarei estar perto de todos aqueles que amo.
Nunca os deixarei sózinhos.
Mesmo que sinta o meu coração.
Cansado e em pedaços.










Tentarei pensar em mim, em ti em nós.
Sem cometer enganos.
Prometo fazer planos e acreditar.
Que o vento forte levará para longe.
As difículdades e as dores.
E com sensatez tentarei enfrentar.
Um dia de cada vez!

Tentarei pensar em mim e em ti como...
Um ombro amigo cada vez mais forte.
E mais segura que um dia.
O vento acalmará.
E o sol voltará a brilhar.
E no meio das minhas inseguranças.
Conseguirei construir um porto de abrigo.
Para todos que amo.

Tentarei pensar em mim e em ti.

E aperceber-me que tudo nesta vida.
É passageiro e tentar encontrar .
De uma forma suave a verdade.
Para que tudo o que sinto.
Porque sei que uma mentira.
Não se esconde uma vida inteira.
E eu já desisti de mentir para mim.
Para ti.

Não sei o tempo de amanhã.
Mas tentarei pensar em mim em ti.
E sonhar que um dia tudo será mais fácil!

Mas mesmo assim quero que saibas que nunca...
Desistirei de pensar em mim, em ti.
Em nós e com ternura.
Afastaremos ventos e tempestades.

Tentarei pensar em mim, em ti.
Em nós!

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Poema de amor

O simples olhar de um poema de amor.
Pendurado na parede.
Sobrevive ao tempo esquecido.
Esqueci de esquecer a dor.
Da sobrevivência deste poema.
A ingratidão do ser humano.
É sentir na alma as lágrimas do coração.
Um poema que sobrevive nas quatro paredes.
Que me rodeiam, confortando-me.
Com um simples olhar.
Este poema existe em mim

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

FRÁGIL (idade)

Alguém que me guarde no bolso...No silêncio do vazio de dentro.
Não consigo. Não consigo. Quebram-me as asas no escuro, sem dizer nada. O olhar fixo no impossivel e..Sei tanto ou tão pouco do abandono! As nuvens que se desfazem...Sempre soube que não deveria correr atrás da sombra.
Agora, esgotam-se as horas, esgota-se o tempo. O mesmo tempo que decidi correr para ti e...Não deste conta.
Rasgo as páginas onde escrevo. Pinto de preto as folhas brancas reservadas para as ondas dos teus olhos. Sintra...Sintra fecha as portas, tranca-me. Não quero mais que me roubem as paredes...Está frio. Um frio que cresce...Cresce nas lágrimas que não caem...Prometeste lambê-las.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

MEDOS

Lançaram-me um desafio...Falar dos meus medos. São só uns muitos...
Medo da solidão: Poderia dizer que este sem dúvida o que mais me rouba o sono. E o que mais me mergulha nele também. Não sei combatê-la...Se a procuro não a tenho, se a tenho, esfaqueia-me.
Medo de perder a sensibilidade: Assusta-me a ideia de não conseguir chorar, sorrir, amar, extasiar...Sentir! Assusta-me ainda mais porque já provei o amargo sabor da vida à deriva.
Medo de perder a minha liberdade: A pouca que tenho. A que me resta. Não gosto que me fechem as portas, que me quebrem as asas. Por algum motivo não suporto pássaros engaiolados...preciso de respirar fundo para resistir à tentação de lhes abrir a gaiola.
Medo de fraquejar: E este é um medo que me deixa imóvel. Estática. O saber que posso por algum motivo não ter forças para caminhar...Assombra-me bastantes vezes. Mas já começo a saber-lhe as manhas.
Medo da incompreensão e dos falsos julgamentos: Não gosto que me entendam mal e principalmente, que não me deixem explicar. Se há uma coisa que me irrita é que me analisem apenas por uma vertente...As coisas desmontadas às peças perdem a magia. Por este motivo, dou sempre bastante espaço para que os outros se revelem, no seu devido tempo, na medida que quizerem...
Medo que me quatifiquem os sentimentos: O que sente, sente-se! Medo da doença: Partilho-o com a maioria dos mortais...
E já chega...Mais não digo!

terça-feira, fevereiro 06, 2007

DEVANEIO

Saudade do que não tenho, Saudade do que nunca tive... A tua ausência começou a inundar-me o chão. Conheço esta sensação...Cresce com os silêncios prolongados, amargos, de desejo inútil, de suspiros de vento perdidos e achados em bocas alheias a nós.
Chove, gosto da chuva...Fecho e abro a Janela para ver chover. Os meus dedos pesam...Afundam-se na pele. Nas tuas palavras...As que nunca ouvi da tua boca, as que se desenham sem saber porquê no meu sonho. Cansada da languidez do momento...Do fraco sustento, do lamento trémulo alimentado pelo sopro. Um dia, quando focares o fundo dos meus olhos verás a tua imagem.
Abraço-te, no eco profundo do toque e mergulho nas águas azuis de sal. Nunca espelham a melancolia das ondas...Nunca.
Chove...deixa chover.
Esta noite vou sair sem corpo à rua, deixá-lo na cama aquecida de sangue fraco e buscar a seiva dos troncos verdes com que te alimentas...
Faltas-me onde nunca estiveste.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Escrevo para não enlouquecer

Deambulo pela casa, leio, assisto a um filme evitando assim dormir. Já entro pela madrugada dentro. E evito dormir, penso se voltarei a sonhar com aquela personagem...Quando a esquecerei? As minhas unhas de verniz claro revelam o meu estado de alma. Este claro roído reflecte o meu sofrimento de estar longe de algo que me atormenta.
A confusão reina nestes pensamentos embaraçados, tanto pela estranheza, como pelo facto de saber que estou como decidi estar e que não fiz bem.
Quem sabe? Os acontecimentos tomam lugar por motivos fortes, mas à distância do tempo, tornam-se inacreditáveis... Não consigo encontrar uma explicação que me acalme o espírito deveras apaixonado. Sei que eu decidi, mas agora pergunto-me: Porquê? Porque é que este sopro move árvores, águias, ventos e fogo se, quando atinge o que tanto desejara, acalma e monotoniza...Será que é um mito? É um mito tudo isto? Sou eu que invento um mito e sofro com uma ilusão? Onde estão os meus sonhos quebrados agora pela realidade da vida?
Não acredito que sou mais uma Portuguesa frustrada por não ver um cavalo branco surgir no nevoeiro matinal.
Só encontro uma justificação. Eu quebrei imensas regras. Traí-me por vezes a mim mesma...E agora que tento corrigir, sofro...uma dor que se acalma, mói e depois torna-se aguda...como agora. Agora que é tarde e o frio aperta. Ah lindas tardes...que belas tardes passo e passei eu contigo. Sim, tu, que apesar de te dirigir a palavra estás ausente, não me respondes. Eu só queria ser tua amiga. Não!!... Eu tua amiga já sou. Queria era ver o nascer do sol contigo, numa altura que tanto preciso. Não quero revoltar-me contra a vida, nem contra ti, mas as circunstâncias assim mandam.
A vida e o amor seria mais simples se fossemos autistas... racionais. Apenas isso.

terça-feira, janeiro 30, 2007

Abandono

Na triste história.
Das misérias de uma vida.
Fui Rainha.
Jogada às traças no meu próprio castelo.
Acorrentada.
Perseguindo vagalumes.
E palavras de duas pontas.
Prontas pra cortar os fios.
Que movem estas pernas.
E fazem a Rainha dançar.
Esperando o cadafalso se abrir.
Para conquistar a existência em tua atenção.
Quando ao ar chutar estes ossos.
E tu aplaudires.

Quem me amou abandonou-me.
Quem me protege.
Deixou entrar a doença em meu quarto.
E quem me quer bem.
Fez notar a indiferença frente ao meu corpo.
Deslizando à queda sem fím...
Quem me dera desaparecer.
Antes de questionar

terça-feira, janeiro 23, 2007

ESPECIAL

Querido

Muita gente diz que o tempo é inimigo do amor, que as relações se desgastam com o passar dos meses e anos. Mas, isso não é verdade, pois vêm os dias, as noites, mudam as luas e as estações e eu continuo a amar-te com a mesma paixão de quando te conheci.
Na verdade, sinto como se o tempo reforçasse os nossos sentimentos a cada dia, como se os laços que nos unem estivessem mais estreitos e firmes a cada minuto. E melhor é que esses laços apertados não nos oprimem nem limitam os nossos movimentos, não nos retiram a liberdade individual mas, pelo contrário, dão-nos a sensação exacta da grandiosidade do amor, este sentimento que permite que te completes no outro sem deixares de ser tu mesmo!
Eu amo-te. Cada vez mais e mais a cada dia, porque sei que juntos somos capazes de vencer todas as barreiras, de vencer as horas com alegria e de voar sobre as asas do tempo, sugando os bons ares da experiência que ele proporciona, e tornando-nos cada vez mais confiante na eternidade deste sentimento que nos une.
Mesmo tendo a certeza de que este amor é para sempre, ainda sim quero dizer-te que valorizo cada minuto que passamos juntos, como só tenho boas recordações de todos os momentos que já desfrutamos ao longo deste nosso feliz relacionamento.
Um beijo da.

Nina