quarta-feira, dezembro 28, 2005

SONETO DE AMOR


Pelo teu amor, seria a poetisa das alegrias.
Das minhas, das tuas, das alegrias gerais.
Não compreendo porque sofro em teu amor.
Ainda mais do que eu, minha insana poesia.

Os grandes amorosos não são menos ilógicos.
O que talvez explique a minha rude tristeza.
Precisamente em mim que só tenho motivo.
Para alegrar-me, antes de tudo, nesse amor.


Não há dúvida que o amor é desnorteante.
Nenhuma dúvida, pois se a vida corre bem.
E acima dos pequenos males teu amor esplode.

Por que essa tristeza? por que essa inquietação.
Essa coisa imprecisa que só faz estragar.
Justamente o teu amor a minha vida?

terça-feira, dezembro 27, 2005

AMANDO SONHANDO


Acordei de madrugada, quando senti o braço dele a rodear meu peito, abraçando-me por trás. Fiquei quieta como estava, sentindo o prazer do seu corpo apertando o meu, e os leves beijos que me dava. Pensava que eu dormia. Senti também o seu doce perfume do seu corpo a inebriar, e ouvi o sussuro de sua voz como um sopro de brisa em meu ouvido, e até hoje não sei se era mesmo a sua, ou as vozes dos coros celestes soprando as palavras em meu coração. Mas o que sei, é que jamais esquecerei o que ouvia do meu amor, enquanto pensava que eu dormia. Disse:

Dorme meu amor porque velo por ti.

Descansa, porque quem tem a alma como a tua, precisa recuperar as forças para que os gritos do amor sejam ouvidos longe...

Não sabes que cuido de ti enquanto dormes, mas saberás um dia que há em meu coração o mais lindo sentimento, que faz com que as nossas almas sejam irmãs. É a minha alma que cuida da tua... Não podes calcular o quanto o amor tem embriagado de beleza a minha alma quando contemplo a face deste amor. Não sabes quanto carinho sinto por ti, que tem mostrado a mim sem palavras, que o amor é muito maior que o decantado pelos lábios, ou acenado pelas mãos. Embora meus lábios testemunhem, e as minhas mãos confirmem os gestos...

Eu fingi que acordava e virei para o meu amor, e ele fingiu que dormia. Então eu o abracei, acariciei os seus cabelos, e disse também sussurrando:

Dorme meu amor, agora eu cuido de ti. E sempre o farei, porque o amor é mais forte que o tempo. Esqueci de dizer que te amo, e esperarei que acordes para que o diga com todos os gestos, todas as palavras, e todas as expressões que puder encontrar. Descansa, querido, porque eu sou o teu descanso...Sou eu quem 0 procurou por toda a eternidade, e agora 0 encontro descansando como deves descansar. Ficarei acordada até que acordes, e direi ao teu ouvido, o que enche o meu coração...

As palavras não saiam mais porque a emoção traiu a minha fala. Olhei novamente o meu amor, e uma lágrima em cada olho, traiu também sua interpretação. Mas eu fingi que não vi, para não quebrar o encanto do descanso da nossa noite.

Ouvi, passarinhos lá fora. Abrindo a janela, reparei que acabei de sair dum sonho, mas os pássaros cantavam para mim. Por momentos fui feliz.

sexta-feira, dezembro 23, 2005

BOMBARRAL

Anos 50... A menina já nascera diferente, resultado talvez de alteração genética que a ciência ainda não explica, ou, quem é que sabe? Um enigma que somente pela fé se pode decifrar. Espírito de luz de volta ao planeta, energia um dia desfeita e agora refeita sem perda da grandeza de gerações passadas. Pequenina, já indaga sobre os seres do Universo. E extrapola: se olha uma estrela, vê galáxias.Na areia da ampulheta, vê desertos, o desfilar de camelos no ondulado das areias, oásis, Tâmaras ao sol, beduínos...O comum é incabível na sua pequenina mente privilegiada.

A vida transcorre sem pressa, o tempo flui preguiçoso, quaze só presente, sem antes, sem depois, entre descobertas, o cão e as matrafonas, a tristeza existindo. Cão gordo à sombra das figueiras, ouvindo silencioso as histórias da menina, sempre divagando, perguntando, mas os olhos do cão são dois faróis baixíssimos, se perdem entre as palavras e o sono irresistível...São tantas as perguntas sem respostas...Vê a lagarta virando borboleta, a nuvem se tornando chuva...E vê um dia a mãe enregelada partindo para sempre...Quer explicações. Mas vive agora apenas com o cão e a matrafona na casa imensa entre a quinta e as árvores do pomar. E sorrindo, mastiga as pétalas das flores silvestres, que ela chama cicuta.
Lentamente, o tempo ganha algum passado, o cão gordo já não dorme à sombra das figueiras, na quinta agora crescem margaridas brancas, mas a menina perscruta o céu entre as galáxias, procura , no deserto, entre camelos, no oásis, nas estrelas, junto aos forasteiros...O cão não está em canto nenhum.

E o vento da madrugada traz muito frio...É Natal seu coração continua chorando, continua sem abrigo. Mas muita gente, precisam das mãos duma menina pra alisar os pêlos, contar histórias como as que o cão gordo ouvia.

As mesmas leis regem o suceder das estações, da noite e do dia, do calor e do frio, da tempestade e da bonança...Também os seres vivos, cães e humanos incluídos. Um determinismo de que ninguem escapa.A Natureza se transforma. Sempre. O processo é eterno. O cão se transformou em margaridas... Por momentos o coração da menina não chorou. É Natal a alegria da menina vai voltar, promete.

terça-feira, dezembro 20, 2005

Poeta

Ah se eu fosse poeta!
Falar de amargura? Pra quê?
Nada vai modificar meu estado de espírito.
A vida é vã como a sombra.
Na parede de meu quarto.
Choro em meu íntimo.
O amor que não tive, e queria ter.
Anseios de insofridas esperas.
De meus sonhos-quimeras.
Meu subconsciente me serve.
A angústia em bandeja de prata...
Mas eu prefiro a fantasia.
A dor sem motivo, me castiga...

Ah se eu fosse poeta!
Poeta cria seu mundo.
Como quer, ama quem quizer.
Porque constrói o seu refúgio.
Lá, no meio das nuvens.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Estar enamorado e amar

Que difícil é falar disto!...


No outro dia, coordenando um grupo, contava-lhes o que tínhamos dito nas nossas conversas sobre a ideia de amar em termos de que o outro seja importante para mim, e sobre a sensação física de estar com alguém que amo. Depois pedi a cada um que dissesse o que pensava sobre o amor.
Uma das respostas de que gostei foi a de uma colega de vinte e cinco anos que disse: Quando amamos, vemos além daquilo que se vê. No amor, os cânones estéticos perdem valor.

Rita disse que o verdadeiro amor existe quando amamos pelo que sabemos que aquela pessoa poderá chegar a ser, não somente por aquilo que ela é. Creio que estar enamorado e amar são estados que vão e vêm numa relação. No ínicio, em geral, há um período de paixão em que se mistura muito o que eu imagino, o que projecto naquela pessoa. Então, coloco o meu homem ou a minha mulher ideal nesse ser humano que tenho à minha frente.

O enamorar-se é uma relação comigo mesma, embora escolha determinada pessoa para projectar o que sinto. E então poderíamos perguntar-nos: porque escolho aquela pessoa? Que se passa quando, depois de algum tempo, o outro começa a mostrar como é e isso não coincide com o meu ideal?

Aí começam os meus conflitos. Ele não é como eu tinha julgado. A alternativa que aqui se apresenta é ver se posso amar esta pessoa que estou a ver ou se fico agarrada ao meu homem ideal.

O amor pode começar com resolução deste dilema, quando o vejo e me dou conta de que o amo tal como ele é. Até posso chegar a amar as coisas de que gosto nele, porque são dele e o aceito como ele é.

Creio que as relações passam por momentos de enamoramento, momentos de amor, momentos de ódio...Na realidade, amor e ódio estão muito próximos. Nunca odiamos tanto alguém como aquele a quem amamos. Como me disse o meu filho no outro dia no meio de um ataque de fúria: ( Amodeio-te) quis dizer...Odeio-te, mas escapou-lhe o amor.

É saudável aceitar que isto seja assim. Vamos navegando na relação, que verdadeiramente se mantém se nos mostrarmos, se formos conscientes do que se passa connosco, se não o negarmos ou não agimos como se nada se passasse.

Conciência é a grande palavra. Sejamos concientes daquilo que se está a passar connosco, entreguemo-nos a isso. Assim se cuida e se constrói o vínculo.
O recurso é sempre o mesmo: conciência, centrar-nos. Só se eu estiver dentro de mim é que poderei gerir sítuações difíceis.

Assim, sem necessidade de que haja conflito, posso olhar para mim, estar conectada e ser eu mesma. Se eu não me mostrar, ninguém poderá amarme.
Em todo o caso, amarão o meu disfarce, como alguém diz, e isso não me serve.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Nos teus...caminhos

Tenho em mim um mar de nuvens mas, o sol esse, Deus meu! está sempre lá a desenhar-me o Ver...ando nos caminhos com ele, à chuva, no vento. Nos meus e nos teus, mais nos teus que nos meus, porque te olho, para aprender a cor com que se pinta o mar...
As palavras não me dizem nada. Já não! desfazem-se no silêncio caídas, sózinhas no vazio das letras sem sentido, delas, os meus já não se desenham, nelas desenformam-se deformadas em nuvens-de-pó de giz colorido nas chuvas-de-estio, em vapores de solidão desabraçada, nas noites de mocho- cego, macho enfeitiçado. As palavras não me dizem correm sem mim, no poema que não fiz. É dia de poetas, estou surda, invento vazios, cinzentos e as palavras aqui e eu sem mim. Neste deserto.

quarta-feira, novembro 23, 2005

PERDÃO

Escrever é uma das actividades mais solitárias do mundo.Quaze todos os dias, vou para a frente do computador, olho para o mar desconhecido da minha alma, e vejo que ali existem duas ilhas - ideias que se desenvolveram e estão prontas para serem exploradas. Então, agarro no meu barco - chamado Palavra - e resolvo navegar para aquela que está mais próxima. No caminho, defronto-me com correntes, ventos, tempestades, mas continuo a remar, exausta, agora já consciente de que fui afastada da minha rota: a ilha a que pretendia chegar deixou de estar no meu horizonte.
Mesmo assim, não posso voltar atrás; tenho de continuar de qualquer maneira ou ficarei perdida no meio do oceano.
Para minha constante surpresa, outras pessoas estavam em busca daquela ilha, e encontro-as nos meus textos. Uma conta a outra, a cadeia misteriosa aumenta, e aquilo que eu julgava ser um trabalho solitário transforma-se numa ponte, num barco, num meio em que as almas circulam e comunicam.
A partir daí, deixo de ser a mulher perdida na tempestade: encontro-me comigo mesma atravéz dos meus leitores, entendo o que escrevi quando vejo que outros também o entendem - nunca antes disso. Em raros momentos, como neste que está prestes a acontecer daqui a pouco, consigo olhar algumas destas pessoas nos olhos, compreender que também a minha alma não está só.
A energia do sofrimento não irá levar-me a lugar algum; mas a energia do perdão, que se manifesta atravéz do amor, conseguirá transformar positivamente a minha vida.
Agora estou a parecer uma mestra tibetana a dizer coisas que são muito bonitas na teoria, mas impossíveis na prática.. Não me esqueço de que fui ferida milhares de vezes.
Por causa disso, ainda trago dentro de mim a criança que chorou às escondidas do mundo, que era a mais fraca do colégio - Acho que o meu comportamento é humano.
Realmente é humano. Mas não é inteligente nem razoável. Meu coração diz-me...Respeita o teu tempo nesta terra, fica a saber que Deus sempre te perdoou, e perdoa tu também.

quinta-feira, novembro 17, 2005

ÁRVORE

Hoje, quaze me senti uma árvore, porém, eu sei que sou diferente. Desde que desaponta até que morre, está sempre parada no mesmo sítio. As raízes fazem-na estar mais perto do coração da terra do que qualquer outra coisa, a copa fá-la estar mais perto do céu. A linfa corre no seu interior de cima para baixo, de baixo para cima. Expande-se e retrai-se em função da luz do dia. Espera pela chuva, espera pelo sol, espera por uma estação e depois por outra, espera pela morte. Nenhuma das coisas que lhe permitem viver depende da sua vontade. Existe e mais nada. Compreendo agora porque é belo acariciá-la? Pela sua solidez, pela sua respiração tão longa, tão tranquila, tão profunda. Tinha 6 anos, passei uma noite a dormir , num tronco de oliveira. Algures na Bíblia está escrito que Deus tem narinas largas. Embora seja um tanto irreverente, sempre que tentei imaginar uma parecença para o Ser Divino veio-me à ideia a forma de um carvalho.
Na casa da minha infância havia na quinta um, tão grande que eram precisas duas pessoas para lhe abraçar o tronco. Aos quatro ou cinco anos, já gostava muito de ir ter com ele. E lá ficava, sentia a humidade da erva debaixo do traseiro, o vento fresco nos cabelos e na cara. Respirava e sabia que havia uma ordem superior das coisas e que eu estava incluída nessa ordem, juntamente com tudo aquilo que via. Embora não soubesse música, algo cantava dentro de mim.
Não saberia dizer que género de melodia era, não havia um refrão preciso, uma ária. Era mais como se um fole soprasse com um ritmo regular e poderoso na zona próxima do meu coração e esse assobio, espalhando-se pelo interior do meu corpo de criança e na minha mente, produzisse uma grande luz, uma luz que tinha uma dupla natureza: a sua, de luz, e a de música. Sentia-me feliz por existir e, para além dessa felicidade, para mim não existia mais nada.
Pode parecer estranho ou excessivo que uma criança pressinta algo deste género. Infelizmente estamos habituados a considerar a infância como um período de cegueira, de carência, e não como um período em que há muita riqueza. No entanto, bastaria olhar com atenção para os olhos de um recém - nascido para se perceber de que é assim . Alguma vez o fizeram? Quando tiverem oportunidade, experimentem. Pôem de parte os preconceitos e podem observar. Como é o seu olhar? Vazio, inconsciente? Ou antigo, remotíssimo, sábio? As crianças têm naturalmente um fôlego maior, nós, adultos, é que o perdemos e não sabemos aceitá-lo. Aos quatro , cinco anos, eu ainda não sabia nada de religião, de Deus, de todas estas confusões que os homens fazem ao falarem das coisas. Talvez nunca tenha dito, mas fiz os primeiros cinco anos de escola com as freiras, no colégio 28 de Maio , Porto Bradão. Acredito que não foi um prejuízo pequeno para a minha mente já tão instável. Entre os seis e os sete anos, vivi condicionada pelos passos que a bruxa da freira dava. E é inútil dizer que quaze nunca saiu da beira do precipício. Apesar disso, estava sempre prestes a cair. Porquê? Por coisas de nada. Assim começa o Outono com as árvores.

terça-feira, novembro 15, 2005

NOITE

Esta noite o tempo mudou, veio a descida de temperatura, eu à janela da varanda olhava o infínito.Começou o vento do Oeste, em poucos minutos varreu todas as nuvens do céu. Antes de começar a escrever, dei um passeio pela casa. O Dingo estava eufórico, queria brincar, saltitava a meu lado com uma bola na boca. Com as minhas poucas forças só consegui lançá-la uma vez, fez um voo muito breve, mas ele ficou contente na mesma, Depois de ter verificado que eram 3h da manhã, fui cumprimentar as fotos antigas, algumas minhas preferidas.
Enquanto olhava as fotos meu olhar parava por momentos. Sempre os mesmos pensamentos?
O amor não se entrega aos preguiçosos, para existir na sua plenitude exige por vezes gestos precisos e fortes. E comecei a compreender?Eu ocultei minha covardia e a minha indolência sob o nobre disfarce da liberdade.
A ideia do destino é algo que surge com a idade. quando se tem vinte anos, geralmente não se pensa nisso, tudo o que acontece é como se fosse fruto da nossa vontade. Sentimo-nos como um operário que, pedra sobre pedra, vai construindo à sua frente o caminho que deverá percorrer. Só muito depois é que repara que o caminho já está construído, que alguém o traçou para nós, e que só nos resta seguir em frente. É uma descoberta que costuma fazer-se por volta dos 50 anos, então começa-se a perceber que as coisas não dependem só de nós. É um momento perigoso, durante o qual não é raro escorregar-se para um fatalismo claustrofóbico. Para se ver o destino em toda a realidade, tenho que deixar passar mais alguns anos. Por volta dos sessenta, quando o caminho atrás de mim é mais comprido do que o que tenho à minha frente, vou ver uma coisa que nunca tenha visto antes: o caminho que percorri não era direito , mas cheio de encruzilhadas, a cada passo havia uma seta que apontava para uma direcção diferente; dali partia para um atalho, de acolá um carreiro cheio de ervas que se perdia nos bosques. Alguns desses desvios tive que os percorrer sem me aperceber, outros nem sequer os vi; não sei se os que não fiz me levariam a um lugar melhor ou pior; não sei, mas sinto pena. Podia fazer uma coisa e não a fiz, voltar para trás em vez de seguir em frente. O jogo da glória, lembra-me? A vida vai avançando mais ou menos da mesma forma.
Ao longo das encruzilhadas do meu caminho encontro outras vidas, conhecê-las ou não, vivê-las a fundo ou desperdiçá-las depende da escolha que faço num segundo; embora o saiba, entre seguir a direito ou fazer um desvio joga-se muitas vezes a nossa existência, a existência de quem está perto de nós.

Até as macacas, quando são criadas num laboratório asséptico e não pela própria mãe, passado um tempo entristecem e deixam-se morrer.

sábado, novembro 12, 2005

FLUTUAR

Porque será que as verdades elementares são as mais difíceis de compreender? Se eu tivesse compreendido que a principal qualidade do amor é a força, talvez tudo se tivesse desenrolado de forma diferente. Mas, para sermos fortes, é preciso gostarmos de nós; para gostarmos de nós, é preciso conhecermo-nos profundamente, saber tudo de nós, mesmo as coisas mais ocultas, mais difíceis de aceitar. Como é possível levar a bom termo um processo deste género, quando a vida com o seu rumor nos vai empurrando para a frente? Só o pode fazer desde o início quem possui dotes extraordinários.
Para o comum dos mortais, para as pessoas como eu, como a Margarida, só resta o destino dos ramos e das garrafas de plástico. De repente, alguém - ou o vento - atira-nos ao leito de um rio, graças à matéria de que fomos feitos, em vez de irmos ao fundo, flutuamos; isso já nos parece uma vitória e, por isso, de repente, começamos a correr; deslizamos velozes para onde a corrente nos arrasta; de vez em quando, um molho de raízes ou uma pedra obrigam-nos a parar; ficamos para ali durante algum tempo, batidas pela água, e depois a água sobe e liberta-nos, e continuamos em frente; quando o curso é tranquilo, vamos à superfície, quando surgem os rápidos, submergimos; não sabemos para onde vamos e nunca ninguém pergunta; nos troços mais calmos, conseguimos ver a paisagem, os diques, os silvados; mais do que os pormenores, vemos as formas, o tipo de cor, vamos demasiado depressa para vermos outras coisas; depois, com o passar do tempo e dos quilómetros, os diques vão ficando mais baixos, o rio vai alargando, ainda há margens, mas por pouco tempo. Para onde vais - perguntamos então a nós proprias e, nesse instante, à nossa frente, abre-se o mar.
Uma grande parte da minha vida foi assim. Mais do que reparar nas coisas, andei às cegas. Com gestos inseguros e confusos, sem elegância nem alegria, consegui apenas flutuar.
Porque escrevo tudo isto? O que signifícarão estas confissões tão longas e tão íntimas? Talvez já esteja farta, talvez tenha folheado uma página após outra, soprando de impaciência. Onde quererei eu chegar, perguntando, para onde isto me leva? É verdade, enquanto escrevo vou divagando, em vez de me meter pela estrada principal, muitas vezes e de propósito enfio-me por carreiros humildes. Dou a impressão que me perdi e talvez não seja uma impressão: perdi-me mesmo. Mas é este o caminho exigido por aquilo que eu tanto procuro : o centro.
Lembra-me de quando no colégio me ensinavam a fazer crepes? Quando os atirava ao ar, diziam-me, tens de pensar em tudo menos na necessidade de eles caírem direitos na frigideira. Se te concentras no voo, podes ter a certeza de que caem enrolados, ou se esborracham em cima do fogão. É ridículo, mas é justamente a distração que conduz ao centro das coisas, ao coração.
Agora, quem tem a palavra não é o meu coração, é o meu estômago. Resmunga e tem razão, porque, entre um crepe e uma viagem ao longo do rio, chegou a hora de jantar. Tenho de te deixar, meu querido Blog. Mas antes de te deixar, deixo-te toda a ternura do mundo.

quinta-feira, novembro 10, 2005

LIBERDADE

Além de idéias e conceitos limitadores, outras bananas comuns são os empregos. Muitas pessoas são infelizes no que fazem, mas se mantêm no mesmo emprego com medo de fracassar. Fala a experiência. O pior é que essas pessoas não se dão conta de que já são fracassadas.
Será que vale a pena nos agarrarmos a algo que nos tira a felicidade e a liberdade de sermos nós mesmos? Pessoas que se apegam pelo medo da mudança morrem lentamente, perdem suas vidas, por não terem coragem de arriscar o novo.
São pessoas com a síndrome do sapo. Dizem que se colocar-mos um sapo numa panela sem tampa com água e levá-la ao fogo baixo, ele vai cozinhando aos poucos e nem percebe que está morrendo. Fica parado e não e não tem a iniciativa de pular da panela ou mudar a sítuação!
A paz só é possível quando aprendemos a abrir mão daquilo que já não nos faz bem algum, daquilo que rouba nossa energia e a nossa harmonia. Às vezes, temos que aceitar que alguém não faz mais parte da nossa vida ou que está na hora de mudar de emprego, mesmo quando não temos experiência numa outra área. E sempre temos que rever as idéias, os conceitos e os pensamentos que nos mantêm presos nas melancias da vida.
Quantas vezes nos apegamos a uma relação que já não nos traz nada de bom porque temos medo de não encontrar uma pessoa mais adequada com os nossos sonhos e com a nossa vida...Esses e todos os outros tipo de apego que possamos praticar ao longo de nossas vidas são falsos apoios.
Na verdade, o que realmente possuímos e à qual podemos nos apegar é a nossa fé, nossa vida e, especialmente, a maneira que usufruímos dela...
Quanto mais presos e apegados ficamos, mais difícil será viver em paz. Quanto mais leves e soltos, maiores serão as nossas chances de sermos felizes.

E é bom saber e sempre lembrar que o que levamos da vida, é a vida que levamos.

terça-feira, novembro 08, 2005

LAGO




Quando encontramos a paz nas pequenas coisas da vida, e ao lado de alguém que nos sentimos a par espiritualmente, os nossos problemas minorizam, e aí, então passamos a encarar a vida como uma oportunidade para o nosso próprio crescimento. Quando a superfície de um lago está bem tranquila, podemos enxergar nitidamente o que existe lá no fundo. Mas basta uma leve rajada de vento para que se formem pequenas ondas, dificultando um pouco a visão.
Se jogarmos uma pedrinha na água, as ondas se tornam mais agitadas, quase escondendo o que existe no fundo. E se agitarmos a água com uma vara, não conseguiremos mais enxergar o fundo do lago.
Assim é a nossa mente; um lago que guarda muitos tesouros debaixo das suas águas. Tesouros que a maioria das pessoas nem sequer suspeita que existam.
Mas eles estão ali, e podem ser percebidos por aqueles que conseguem serenar as águas do lago mental. E quando as águas ficam tranquilas, a gente começa a descobrir os tesouros e usufruir de todas as coisas boas que eles podem nos proporcionar.
Vivemos num mundo carregado de pressões e conflitos. Por isto, a todo momento nosso lago - mental é agitado pelos pensamentos de inveja, de ciúmes, egoismo, descrença, medo, ódio, vingança e outras vibrações altamente negativas. Essas vibrações provocam ondas que não nos permitem enxergar os tesouros no fundo do lago. Mas nós podemos neutralizar as vibrações negativas, equilibrando nossa mente com vibrações de paciência, tolerância, compreensão, perdão e amor. E este equilíbrio se dá através do amor que cada um trás dentro de si. Apaixone-se pela vida, pelas pessoas, e vivam com intensidade ao lado de alguém que amam. E sintam o silêncio desse amor. Ele é o nosso lago.

quinta-feira, novembro 03, 2005

CORAÇÂO

Cada dia mais, estou certa de que Deus se manifesta através do coração de cada um, ou seja, que cabe a cada um conhecer o seu próprio coração para que possa haver, de fato e independentemente de qualquer religião, uma espirítualidade concreta em sua vida.
A evolução espíritual não consiste em procurar respostas nos templos, nas Igrejas ou nas pessoas que nos parecem mais esclarecidos e sensíveis. Todos estes podem ser caminhos para que cheguemos mais rapidamente às verdadeiras respostas, mas elas estão - e sempre estarão - dentro de cada um de nós.
Enquanto insistirmos em buscá-las em qualquer outro lugar que não seja, antes,em nós mesmos, nada realmente válido ou autêntico encontraremos.
O espírito de cada um é onde está depositada a inteligência Divina, do qual somos dotados desde que fomos criados. É através do exercício desta inteligência que agimos com humanidade e justiça. Quando permitimos que nosso espírito, aliado a esta divindade, se manifeste, podemos nos tornar mais capazes de perdoar e de nos doar ao mundo.
Quando não conseguimos perdoar alguém, é porque não estamos conseguindo exercer a nossa espíritualidade inteligente. Creio nas energias que nos empurram para as situações positivas e energias negativas para situações negativas. Não perdoar é acumular energias negativas, é escurecer o caminho, é distanciar-se das respostas e de si mesmo. Quando julgamos as atítudes de outras pessoas , é porque não estamos conseguindo exercer a nossa espíritualidade inteligente. Não nos cabe julgar as atitudes alheias, mesmo porque o coração de cada um é como um tesouro. Somente Deus e cada um ( se fizer um trabalho interior e profundo, interessado e com amor) pode conhcê-lo.
Atitudes são visíveis e passíveis de julgamentos errados. Mas o essencial é invisível aos olhos. O que realmente importa requer sensibilidade, inteligência e amor para ser julgado. E, definitivamente, este julgamento não cabe a nenhum de nós seres imperfeitos. Quando falamos demais das coisas que não nos dizem respeito, sabendo que nenhuma de nossas palavras tem poder benéfico sobre taís situações ou pessoas, é porque não estamos conseguindo exercer a nossa espíritualidade inteligente. Precisamos aprender a respeitar a individualidade do outro e o espaço alheio, inclusive o tempo que cada um precisa para mudar, evoluir e melhorar.
Precisamos usar de menos prepotência e mais, muito mais humildade. A evolução espíritual está baseada, ao meu ver, principalmente nestes pontos fundamentais e urgentes:

Queres ser amado?Procura amar. Queres ser compreendido? Esforça-te para compreender. Desejas ser respeitado? Respeita os outros; queres misericórdia? Perdoa sempre.

Amar e aceitar os outros, apesar de serem imperfeitos; aceitar e amar a vida, muito embora não seja plenamente feliz; aceitar e amar a si mesmo, apesar de todas as fragilidades.

sexta-feira, outubro 28, 2005

JAMOR

Os meus passeios duraram pouco mais de um ano, de um dia para o outro deixei de ir a suas casas. Depois desses passeios voltava para casa cada vez mais confusa, mais incerta. Era desagradável, ir aquele lugar onde a fome e a miséria abundava. Casas de lama, crianças com fome, e nos seus olhares não existia a esperança. Estava no ano de 1978, tinha percorrido o meu caminho interior, mas era um caminho limitado ao conhecimento de mim mesma. Bairro Jamor.
Nesse caminho encontrei-me a certa altura diante de um muro, sabia que para lá desse muro o caminho continuava, mais luminoso e mais largo, mas não sabia como fazer para o transpor.
Um dia, durante um aguaceiro inesperado, abriguei-me dentro duma barraca de lata " Como se faz para ter fé", perguntei para dentro de mim. Não se faz nada acontece. Eu já tinha fé, mas a minha emoção e dor, impedia-me de o admitir, fazia demasiadas perguntas a mim mesma, complicava o que era simples. Na realidade, só havia um medo tremendo. Deixei-me levar, o que tiver de vir, virá.
Se havia misticismo na minha personalidade, era um misticismo muito concreto, agarrada às coisas de todos os dias. Estar aqui , agora, repetia-se sempre. O reino de Deus está dentro de nós, esta frase já me tinha impressionado quando vivia no colégio como aluna infeliz.
Nessa altura, fechando os olhos, deslizando com o olhar para dentro de mim, não conseguia ver nada. Depois do encontro com o padre Thomás, algo tinha mudado, continuava a não ver nada, mas já não era a cegueira total, no fundo da escuridão começava a haver um clarão, de vez em quando, por brevíssimos instantes, conseguia esquecer-me de mim mesma. Era uma luz pequena, débil, uma chamazinha apenas, bastaria um sopro para a apagar.Todavia, o facto de existir e de assistir aquele inferno , dava-me uma leveza estranha, o que sentia não era felicidade, mas alegria, de partilhar o sofrimento deles em conjunto.. Não havia euforia, exaltação, não me sentia mais sábia, mais elevada. O que crescia dentro de mim era apenas uma serena consciência de existir.
Prado no prado, carvalho debaixo de carvalho, pessoa no meio das pessoas.

quarta-feira, outubro 26, 2005

SETEMBRO

Uma manhã de terça-feira, Setembro, dia 13. Um dia claro e radioso, saudades no meu coração, não da mulher que sou, mas da criança que minha alma alberga até aos fíns dos meus dias.
Minhas fugas solitárias...Um dia claro e radioso. É frequente nesta altura do ano o esplendor do Verão concentrar-se solenemente uma última vez, antes que as cores do Outono comecem a refulgir. As noites arrefecem, o que torna as madrugadas orvalhosas e as manhãs amenas e agradáveis. A folhagem das árvores escureceu, destacando-se contra o céu como que cinzelada. Também na cidade de Lisboa fica mais frio, invade-a uma aragem de luxo e de euforia. Luisa encontrava-se diante da praceta ajardinada do Alto de S. João. Os jardineiros tinham já enchido os canteiros com as primeiras flores do Outono. Num estreito alegrete floria ainda, irrompendo do verde-claro, a cana da India. Sentou-se num banco do jardim, e por momentos sonhou, ou meditou. A bordadura do jardim era interrompida aqui e ali por canteiros redondos donde se erguia um vulto branco em múltiplas estrelas. As flores reluziam à luz do sol. Abelhas e mosquitos zuniam à sua volta. Uma borboleta-almirante às riscas cor do tijolo repousava no seu cálice aveludado onde, de quando em quando, se virava lentamente batendo as asas em ritmo descompassado, como dizendo...Amo-te. Amo-te.
Devia ter vindo de muito longe, a voar por cima dos telhados. Uma outra mais bela veio fazer-lhe companhia. As mariposas começaram então a adejar uma à volta da outra, voando depois em direcção ao azul do céu, como a convidar Luisa a ir também, até desapareceram de vista. Luisa estava no sonho acordada, dos lados da rua lopes, chegavam até ali as vozes límpidas de sua mãe, de seus irmãos. Rapazes apregoavam os jornais de domingo. Os sinos da Igreja da Graça, começaram a repicar. Do portão da Igreja saiu uma mulher de lenço branco, tapando-lhe o rosto. Estas imagens interrouperam a contemplação ociosa em que Luisa se embrenhara. Misturou-se com os transeuntes que confluíam e se voltavam a dispersar à medida que Luisa se afastava. Depois, como alguém a quem fosse indiferente o caminho a tomar, tomou pelo cimitério , caminhando vagorosamente pela ladeira acima. A sombra das casas estava mais fresco, as ruas tinham acabado de ser regadas. A água escorria ainda pelas bermas dos passeios. Essa zona, habitualmente agitada por uma azáfama ruidosa, estava nessa manhã mais sossegada; faltavam os vendedores que, Luisa ouvia quando criança. Nas ruas, mercadejavam peixe, e frutas e verduras, um sem número de desconhecidos tinham vivido, e sofrido e sido felizes ali. E Luisa era então dominada pela sensação de que este prodígio poderia tomar forma de um momento para o outro: por meio de uma escrita, de uma mensagem, de um encontro ou de uma aventura, como é comum acontecer em grutas e jardins encantados.
Estes passeios despertavam nela uma grande ternura. Estava afinada como uma corda de um instrumento em repouso que quaze não precisa de uma mão - uma brisa, um raio de sol bastariam para fazê-la vibrar. As coisa intactas envolviam-na como um clarão, visível mesmo aos olhos mais embotados.
Luisa lembrava-se daquele lugar. Era daquele local que se sentia forasteira, mas nunca deixaria de visitar. Não fazê-lo era o mesmo que abandonar o rio que corria dentro de si.

quarta-feira, outubro 19, 2005

CONFLITO

Sempre pressenti que o tempo do diálogo terminara que, fosse o que fosse que eu dissesse, só poderia haver discussão. Por um lado, tinha medo da minha fragilidade, da inútil perda de forças, por outro, pressentia que o que ele queria, era precisamente o conflito aberto, que a seguir ao primeiro haveria outros, cada vez mais, cada vez mais violentos. Sob as suas palavras sentia fervilhar a energia, uma energia arrogante, prestes a explodir e contida a custos; a forma como eu limava as arestas, a minha indiferença fingida perante os seus ataques obrigavam-me a procurar outros caminhos. Então ameaçava-me de se ir embora, de desaparecer da minha vida sem dar mais notícias. Se calhar estava à espera do desespero, das súplicas humildes de uma condenada. Quando lhe disse que partir seria uma ótima ideia, começou a hesitar, parecia uma serpente que, de cabeça bruscamente erguida, goelas abertas e pronta a ferir, deixa, de súbito, de ver a presa à sua frente. E começou a pactuar, a fazer propostas, propostas diversas e vagas, até ao dia em que, com uma nova segurança, diante da chávena do café, me anunciou: Vou para a América.
Acolhi essa decisão como acolhi as outras, com um interesse simpático. Não queria, sem a sua aprovação, obrigar-me a fazer opções apressadas, que não sentia profundamente. Nas semanas seguintes, continuou a falar-me da ideia da América. Se fores para lá um ano, repetia, obcecado, pelo menos, aprendes uma língua e não perdes tempo.Ficava terrivelmente irritado quando lhe fazia notar que perder tempo não é nada de grave. O máximo da irritação, porém, atingia-o quando lhe disse que a vida não é uma corrida, mas a capacidade de se descobrir o centro. Havia duas chávenas em cima da mesa que, de repente, fez voar, varrendo-as com um braço, depois desatou a chorar. És uma estúpida, dizia , escondendo o rosto com as mãos. És uma estúpida. Não percebes que é isso mesmo que eu quero? Amo-te quero-te só para mim. Durante anos fomos como dois soldados que, depois de terem enterrado uma mina num campo, tomam todas as precauções para não lhe passarem por cima. Sabíamos onde ela estava, como ela era, e passávamos ao lado, fingindo que a coisa a temer era outra. Escondes-te e soluças dizendo-me não percebes nada, nunca perceberás nada.Tive ao longo dos anos de fazer um esforço enorme para não te revelar a minha confusão. Nunca te falei da minha dor.Ou talvez sim, mas em vez de dizeres que não me amas, guarda-lo ciosamente dentro de ti, de outra forma não posso explicar alguns dos teus olhares, certas palavras carregadas de rancor. Da tua mãe parte o vazio , não tens outras recordações: eu estou vivo e preciso de ti. Como podes pensar que tudo me deixa indiferente. Enquanto foste criança, éramos felizes juntos. Tu eras uma miúda muito alegre, mas na tua alegria não havia nada de superfícial, de esperado. Era uma alegria sobre a qual pairava sempre a sombra da reflexão, passavas das gargalhadas para o silêncio com uma facilidade surpreendente. O que é, que estás a pensar? perguntava-te eu então, e tu como se falasses com Deus, respondias-me: Penso se o céu acaba ou se continua em frente, para sempre. Sentia-me orgulhoso por seres assim, a tua pureza e sensibilidade parecia-se com uma Deusa , a minha Deusa. Até onde vai a cadeia das culpas? Até Caim? Será possível que tudo tenha que remontar a tempos tão longínquos? Haverá algo por detrás de tudo isto? O destino é apenas o resultado das acções passadas, e que somos nós, com as nossas mãos, que forjamos o nosso próprio destino. E volto ao ponto de partida. Onde estará a solução de tudo isto. Pergunto-me. Qual será o fio que se doba? Será um fio ou uma cadeia? Poderá cortar-se, partir-se, ou envolve-nos para sempre? Entretanto, quem corta sou eu.

quinta-feira, outubro 13, 2005

SILÊNCIO

Já é tarde, tive de fazer uma pausa. Dei de comer ao Fábio, comi também, arrumei a cozinha. O meu mau estar é desesperante, não gosto de sentir-me assim. A minha couraça inchada não me permite suportar por muito tempo as emoções fortes. Para continuar a escrever, tenho de me distrair, pensar no amor, de retomar fôlego.Quando estou doente, estou mais sensível. Lembranças atacam a minha sensibilidade, tento fugir ocupando minha mente, mas ela mostra-se traiçoeira e não me deixa fugir, onde meu espírito e alma retratam a menina que fui, e a saudade que ficou de minha mãe. Quem sabe, talvez na pequena parte do meu cérebro ainda activa estivesse guardada a nemória de uma época tranquila, e fosse aí que eu me refugiava nestes momentos. Esta pequena lembrança encheu-me de alegria. Nestas alturas agarramo-nos a uma coisa de nada; Lembro quando me sentava no seu colo, e não me cansava de lhe acaiciar a cabeça, de lhe pedir para me contar a história do gato das botas. Vem-me à ideia uma imagem: tinha eu quatro anos, via-a a andar pelo jardim do alto de S.João comigo pela mão, agarrando a minha boneca de trapo preferida. Eu falava com a boneca sem parar. De vez em quando, de um ponto qualquer do relvado, eu ouvia as minhas gargalhadas, uma gargalhada forte, alegre. Se nesse tempo tinha sido feliz, penso eu então, ainda poderei voltar a sê-lo. Para me fazer renascer, é dessa criança que eu tenho medo que ela possa partir. Lembro quando ela estava doente, ajoelhei-me aos pés da cama e comecei a chorar. A mãe partiu, pensava eu, foi fazer uma grande viagem até ao céu. Comia em silêncio, por vezes pegando ao colo minha boneca de trapo, fugia de casa ia até ao jardim. Ficava por muito tempo de pé no relvado, esperando minha mãe, enquanto dizia adeus para as estrelas. Porque não morri. porque não fui atrás dela, porque é que não fiz nada para a deter?Porque eu era uma criança, ficava petrificada com as minhas próprias palavras. Neste momento é urgente esquecer, que não posso dar-me ao luxo de continuar, não quero odiar, parar, meter por um atalho.. Embora tenha guardado muitos segredos durante muitos anos, agora já não é possível fazê-lo. O sîlêncio é mestre

terça-feira, outubro 11, 2005

BUSCA

Despertei esta manhã, após uma noite pouco descansada ( a causa serão as dores de dentes e os soníferos, que me repousam?). Desperto esta manhã, como nunca mais me tinha acontecido, desperto na alegria, convencida de que este mundo esplêndido nos é dado realmente por Deus!...Mas ao cabo de alguns momentos, vem de novo a angústia...Ou se não é de todo a angústia, é uma melancolia cinzenta. Não, não será mesmo angústia, porque a minha angústia é pavorosa, dela morro dez vezes por dia, dela morro cem vezes por dia.Ontem, abracei meu irmão, com um carinho infínito, suavemente, como acariciar sua alma. Para longe, muito longe fugiu o arraial do mundo, o Astro da vida. E fico num estado de pequena angústia ou de ansiedade, a habitual, a que se conhece, a normal. Enquanto escrevo meus olhos deixam passar sem querer algumas lágrimas, e vou pensando..Caminhamos rápidos para o Outono das nossas vidas. Neste mês de Outubro, o tempo tem estado bonito, olho para a rua, Sintra com a sua cerca imensa, e de um esplendor que, paradoxalmente, me tranquiliza e intristece ao mesmo tempo, ou alternadamente, o estado de espírito muda, torna a mudar, depois muda de novo. Esta cerca imensa de Sintra são de um verão da eternidade. Aquela eternidade de que todos participaremos. Depois deixamos de acreditar. Esta paisagem dá desse modo a impressão de ser a prova da ilusão que é este mundo, o meu mundo, o meu universo. O céu volta a dar-me alento. depois , estranhamente, revela-se ainda mais o nada que somos, e que ele descobre aparecendo o contraste com o nosso espírito, a nossa alma.
Depois o que aparece novamente reaparece como luz cintilante, promessa de alegria definitiva, incorruptível, para que uma vez mais se caia na mágoa e na desesperança, e isto, tudo se alterna de um momento para o outro. Não posso firmar-me nem na alegria, no equilíbrio, nem na angústia que esta paisagem do mundo alternadamente me dá. Não consigo prever o que nem como serei de um momento para o outro. Assim será até ao fím. Será de facto assim até ao fím? Instabilidade suprema dos sinais!
Brutalmente, o luminoso recanto do céu, o segundo da paz que me tinha sido dado, que por vezes se pode possuir, desaparece, ensombra-se, a luz divina apaga-se na noite do homem. Num instante busco a esperança em que se possa crer ( estupidamente? ) que o céu ama o homem; que os homens se amam uns aos outros.

Em suma , esta realidade é a minha busca.

sexta-feira, setembro 30, 2005

É noite

E noite, uma noite sem lua. Os únicos clarões no horizonte luzeiros são os da minha alma.
Por entre as dores da minha alma construídas sobre estacas, percorro os trilhos do meu espírito.Fico só, em casa, à luz de um candeeiro que ilumina meu rosto triste. Apesar da noite no exterior exibe os seus argumentos, e após a caminhada do meu espirito, por caminhos tormentosos, e veredas, sob pedras, poeira e terra, este encontro e o calmo ambiente, convida-me, a sentar no frio chão de madeira, a esperar pelo que aconteça. Mas não acontece nada.
Parece que, indiferente à minha presença, deixam-me entregue a mim própria e aos meus desígnios, e sou levada a sair. Os candeeiros da rua fere os meus olhos e obriga a semicerrar ligeiramente as pálpebras, protegendo-os da agressão. Caminho através das ruas de Sintra.
Várias pessoas surgem repentinamente e seguem-me por algum tempo, Riem-se muito e quando paro, escondem-se umas atrás das outras. Alguns, mais atrevidos, gritam algo, apontam, mexem, e logo desaparecem à minha frente numa alegre e despreocupada correria. Com esta panorâmica, meu coração amolece, depois de galgar as ruas de Sintra de lés-a-lés, tive a noção de como A vila é linda, é um caso raro de cuidada simbiose entre o antigo e o moderno em Sintra. Uma preciosidade. Claro que voltei para casa e, nesses momentos pensava que teria que marcar uma entrevista, a sós comigo mesma. Precisava primeiro dum sono reparador...Olho vivo, a maldade está em toda a parte!
Suspirei, e traduzi em forma sublime de verso: O oriente surgido do mar/ Ó minha ilha espiritual/ perfume solto no oceano dos meus sentimentos/ Como se fosse em pleno ar.

quarta-feira, setembro 28, 2005

INÊS


Há temas que nem a calendarização permite evitar. E um deles é precisamente o mito de INÊS de Castro. Pensando nela, chegam até mim ecos de várias emoções.
Não sei porquê. Se considerar o mito no seu signifícado mais verdadeiro - o de história sagrada, de história exemplar, de algo que ocorreu num tempo primordial e que narra acontecimentos que se tomam como modelos, difícilmente podemos aplicá-lo ao caso de Inês - Pedro, que é, antes de mais, uma ocorrência histórica devidamente registada e que depois foi alterada e embelezada pela fantasia: há aqui, pois, mais lenda que mito.
Mas ainda que façamos concessões, ainda que queiramos alargar o sentido da palavra mito para nela integrar a linda " INÊS", posta em sossego, eu pergunto-me - e aqui está a razão desta crónica - pergunto-me, dizia, se, na generalidade, é feita a leitura correcta. Porque enfim, mesmo em sentido lato, um mito, para o ser, tem de transmitir um modelo, tem de dizer-nos alguma coisa; portanto, tem de ser lido. Ora, no caso de INÊS DE CASTRO, parece-me que a leitura mais generalizada é do amor entre dois jovens, amor ardente, até ao fím do mundo; amor destruído por uma decisão tirânica e pelo machado sinistro do carrasco. A imagem essencial que nos surge é da jovem, inocente no seu amor, colhendo flores ou sentada junto da célebre fonte de coimbra. Adicionalmente, acrescenta-se-lhe a cena da súplica perante o rei, mostrando-lhe os filhinhos de tenra idade - cena que, é verdade, tem um pathos de tragédia grega.
No entanto não me parece que esteja aí o elemento essencial, o elemento cuja força e signifícado aproximam este episódio histórico de um verdadeiro mito. E para encontrarmos esse elemento teremos de deslocar o centro da gravidade da história, transferindo-o de Inês, sobre a qual sabemos muito pouco (ignoramos, até, se o seu amor era sincero), para Pedro. Porque, quanto a esse, sabemos bem da extensão e da intensidade do seu amor por Inês; sabemos o que ele fez depois da sua morte. E, com essa deslocação do centro de gravidade, aproximamo-nos daquilo que, atrevo-me a pensar, constitui o elemento verdadeiramente relevante e exemplar.
E que é este: apesar do que nos dizem ( magnifícamente) os poetas, o caso Pedro -Inês não é o de um fresco amor adolescente. Bem pelo contrário: é o caso de um amor maduro, que resistiu àquilo a que tantos amores não resistem: o tempo, o hábito e o desgaste.
Quando Inês morreu, os amantes viviam juntos havia, pelo menos, dez anos; e mais: ela já dera a Pedro quatro filhos ( nunca se fala do primeiro, D Afonso, porque morreu à nascença). Ora, uma mulher que engravidara e dera à luz quatro vezes, mormente em pleno século XIV, sem as vantagens da medicina e da cosmética modernas, não podia, de todo ser ainda uma fresca flor salpicada de orvalho. E, no entanto, Pedro continuava a amá-la. Continuou a amá-la toda a vida, apesar das suas aventuras sexuais.
Para mim, é aqui que reside toda a força do caso. Pedro- Inês e também todo o seu signifícado...mítico. O modelo do mito está aqui.
E - sempre na minha modestíssima opinião - a poesia também.

sexta-feira, setembro 16, 2005

Para Ti


Quando estou triste, é como se o destino me quisesse mostrar que o meu sofrimento é verdadeiro - e o universo sempre conspira a favor dos sonhadores. Respiro fundo. O assunto já não pode ser evitado. Falo para mim mesma de amor. O universo ajuda-me sempre a lutar pelos meus sonhos, por mais idiotas que possam parecer. Porque são os meus sonhos, e só eu sei quanto custa sonhá-los. A névoa - que paira amarela na minha cabeça, não me deixa ver o outro lado da razão. Será que é isto mesmo que eu quero? , pensei.
Porque eu começo a sentir as tempestades que os ventos.do amor trazem consigo. Eu começo já a sentir um furo na parede da represa.
- Amar é perigoso, por isso, só deveria amar quem estivesse por perto. Estou distraída, sim , minha mente voa. Gostaria de estar aqui com alguém que me deixasse o coração em paz, com alguém com quem pudesse viver este momento sem medo de o perder no dia seguinte. Então o tempo passaria mais devagar, poderíamos ficar em silêncio - já que teríamos o resto da vida para conversar.Eu não precisaria de me estar a preocupar com assuntos sérios, decisões difíceis, palavras duras.No meu quarto acendi uma vela.Fechei os olhos e repeti as invocações que aprendera no colégio. Depois comecei a pronunciar palavras sem sentido - enquanto me concentrava na imagem de Nossa senhora de Fátima em cima do meu altar. Aos poucos, o dom da língua do Latim foi tomando conta de mim. Era mais fácil do que eu pensava. Podia parecer uma idiota - murmurar coisas, dizer palavras que não significam nada para o meu raciocínio - mas a Senhora de Fátima estava a falar com a minha alma e a dizer coisas que eu precisava ouvir.
Chorei. Chorei como há muito tempo não o fazia. Quando senti que estava purificada o suficiente, voltei a fechar os olhos e rezei: Nossa Senhora, devolve-me a fé. Que eu também possa ser um instrumento do teu trabalho. Dai-me a oportunidade de aprender através do meu amor. Porque o amor nunca afastou ninguem dos seus sonhos..
Que eu seja companheira e aliada do homem que eu amo. Que ele faça tudo o que tem a fazer - mesmo longe estará sempre a meu lado . Em pensamento beijei-o com força. Ninguém saberia que naquele minuto de beijo estavam anos de busca, de desilusões, de sonhos impossíveis. Naquele minuto de beijo estavam todos os momentos de alegria que vivi.

sábado, setembro 10, 2005

Escolha


No que diz respeito ao amor, ser livre é condição essencial para que se possa fazer a escolha ideal. Mas todos sabemos que a liberdade total é uma das coisas mais difíceis de alcançar na vida.
Existem condicionalismos financeiros, sociais, familiares, traumas pessoais e íntimos. e muitos outros factores que por vezes nos encaminham para a pessoa errada...É bom fazer opções abstraindo de tudo o que nos rodeia. Ser livre significa desprender-se de todas as máscaras, falsas crenças e quebrar totalmente as amarras que nos ligam ao passado, seja ele distante ou recente. A capacidade de dar e receber afecto ajuda a esquecer experiências traumáticas do passado. Tento educar a minha mente, onde surgem novas vibrações que propiciam o desenvolvimento da energia mágica do amor. A vida afectiva depende de inúmeros factores. Os elementos que coduzem à felicidade começam a notar-se logo nos primeiros anos de vida. As experiências da infância determinam de alguma forma a maneira como se passa a encarar o amor. O comportamento dos pais, os medos, a relação com o sexo oposto, a violência, o ambiente escolar, as agressões físicas ou verbais, tudo isso pode marcar para sempre as reacções perante o amor. O primeiro passo que dei na minha vida para esquecer as experiências negativas, foi convencer-me que merecia ser amada.Todo o ser humano, em qualquer nível, em qualquer escala da vida, só tem um objectivo: ser feliz. Para se chegar a tal estágio, deve existir um perfeito equilíbrio interior, passando por muitos sofrimentos, em diversas fases da vida. Esse caminho a ser percorrido faz com que muitas vezes não se consiga atingir esse objectivo, e então desiste-se...quando isso acontece, é porque esse indivíduo não tem consciência plena daquilo que deseja, ou melhor, não tem perseverança na busca desse equilíbrio interior. Porém, uma vez alcançado, torna-se senhor de si. Ele passa a descobrir que toda a procura da verdade não está nas coisas nem nas pessoas. Está dentro de si mesmo, ou seja dentro de nós. Tente acertar numa relação duradoura, a vida é cheia de mudanças. Não arranje companhia que goste de folia. Há pessoas quando não estão perto dos seus amores, amam os amores que estão perto delas.

terça-feira, agosto 30, 2005

Almas Gémeas

Sabem qual é o erro que cometemos sempre? Acreditar que a vida é imutável, que, mal escolhemos um carril, temos de o seguir até ao fím. Contudo, o destino tem muito mais imaginação do que nós. Precisamente quando se pensa qe se está num beco sem saída, quando se atinge o cúmulo do desespero, com a velocidade de uma rajada de vento tudo muda, tudo se transforma, e de um momento para o outro damos por nós a viver uma nova vida. Assim como as almas gémeas.
Enquanto caminho meu espírito abre-se como á procura de algo que sempre habitou dentro de mim. E penso.
As coisas têm vida própria. A maior das aspirações do ser humano sempre foi a busca da sua outra metade. O amor é a mais misteriosa de todas as emoções. Todos procuram o amor perfeito, a alma gémea, a companhia ideal. Onde estará afinal essa alma gémea?
A almas gémeas são um único espírito que em determinado momento foi dividido por Deus em dois, para que pudessem evoluir individualmente e, mais tarde, depois de conquistarem o equilibrio, se unirem eternamente.
Como o amor é a união de dois seres, é, mais fácil e lógico unir semelhantes.
Amando, queremos integrar-nos um ao outro, mas também, através do outro, expandir-nos. E essa expansão será tanto possível quanto mais o outro for, desde o início, um prolongamento natural de nós mesmos. Na terceira raça, éramos andróginas.
Como não havia motivação para evoluir, com o risco de extinção da raça humana, os sexos foram separados. Criaram-se duas metades, que saíram à procura uma da outra. adquirindo Karmas com os outros espíritos. nessas idas e vindas para a terra, as almas gémeas, centelhas divinas, fagulhas de Deus, que se dividiram em duas partes, encontram-se, e o amor, vivido em outras épocas em que um era tudo para o outro, volta aflorar.
A emoção desse encontro desperta o subconsciente. Dentro da ligação Kármica, nos reencontros das almas gémeas, pode haver muita negatividade, ciume, competição, intolerãncia e, quanto maior for a missão, maiores serão as difículdades para realizar. São os encontros de almas gémeas para cumprirem missões juntas e, para isso, devem estar totalmente livres dos seus Karmas adquiridos com outros espíritos, bem como conscientes dessa missão. As desarmonias criadas entre as almas gémeas fazem com que sigam caminhos diferentes, separadas. É preciso paciência, compreensão, amor, doação e autocontrolo. Quando apenas um se consciencializa, deve esperar pelo outro, ajudá-lo na sua evolução.
Eu penso. No primeiro encontro é possível detectar que estamos perante a pessoa que nos está destinada.
Porque nos apaixonamos? De onde vem essa emoção que nos leva a procurar alguém que esteja sempre a nosso lado.
Pense também.

quarta-feira, agosto 10, 2005

TER-TE



Sabes que sorrio ao escrever-te este poema.
A todos me dou em forma de poesia...
É, amor.
Porque já silenciaste a minha boca.
Com os teus suspiros e beijos.
É o teu rosto que procuro no brilho da lua.
Porque já és parte de mim.
Grande motivação do meu ser.
Eu cresci, mas perto de ti sou tua eterna criança.

Não deixes jamais eu deixar de ser tu.
Pois tenho medo de deixar de existir.
Mas, sozinha não é possível prosseguir.
Não deixes minha fé se despedaçar em mágoas.
Não me deixes perder de mim jamais.
Dá-me o privilégio de ter-te eternamente comigo.
Como eu gostaria meu amor.

sábado, agosto 06, 2005

HUMILDADE

O cristão medieval dava uma enorme importância à virtude da humildade. O mundo moderno já não a considera uma virtude. Pelo contrário, compadece-se de quem tem um comportamento humilde e considera essa pessoa uma fraca. Fala a experiência.
Durante os anos 80 e 90 não me lembro de ter, alguma vez, ouvido elogiar uma pessoa pela humildade.
Aliás, se vos digo: Imaginem uma pessoa de sucesso, a imagem que imediatamente se vos apresenta é a de um homem cheio de força; se, pelo contrário vos digo: Imaginem uma pessoa humilde, vem-vos à cabeça a imagem de um homem pequeno, pobre, com as costas curvadas, que está calado quando os outros falam, que não se revolta quando lhe fazem uma desconsideração, em suma, um fraco, um vencido. Esta imagem surge na nossa mente desta forma porque se perdeu o significado profundo, espiritual da humildade.
A humildade implica uma atitude para com o mundo, para com os outros, e para com Deus.
Comecemos com a atítude perante o mundo. Nós vivemos como se os recursos da terra fossem ilimitados. A nossa maneira de pensar permaneceu igual à do passado, em que éramos poucos e dispúnha-mos de uma tecnologia rudimentar. Deveríamos, bem pelo contrário, ter sempre presente que a terra é um pequenino grão de areia na infinidade das galáxias. Recordemos que, apesar de toda a ciência que temos, nunca poderemos abandoná-la. E que todas as imbecilidades
que levamos a cabo pesarão, em futuros milénios, sobre os filhos dos nossos filhos. O nosso orgulho é desmesurado. Estamos convencidos de que as nossas acções são ´sábias, racionais. Na verdade, procedemos com arrogância e obstinação. Somente a humildade nos ajudaria a ver.
Passemos agora à atitude para com os outros. Somos todos intolerantes, estamos convencidos de que conhecemos a verdade. Admiramos quem tem convicções políticas firmes, quem luta com tenacidade, quem insulta os seus inimigos, os arrasta para a lama. Admiramos os vencedores, os prepotentes. Condenamos e exaltamos quem ajuíza e condena. Nunca nos passa pela cabeça que, daqui a algumas gerações, as ideias pelas quais conbatemos terão perdido totalmente o sentido.
A atitude humilde para connosco consiste no estar consciente de não ter mais valor do que as outras pessoas. Que o nosso sucesso depende da sorte e da colaboração dos outros a quem devemos reconhecimento. Consiste, por fim, no saber que podemos sempre errar e que temos sempre coisas a aprender. A humildade ajuda-nos a reconhecer com facilidade o nossos erros. é, por isso , um instrumento fundamental para nos corrigir, melhorar, superar as dificuldades e ter êxito no final. Mas também nos ajuda, conhecendo a nossa pequenez, e aceitar as desgraças e as derrotas, sem que estas nos levem ao desespero que nasce das esperanças frustradas, do orgulho ferido.
A fé é o oposto do procedimento intelectual. A fé é amor apaixonado por Deus. Mas este amor é o próprio Deus que o suscita.
A humildade de que nos fala a nossa tradição é, portanto, uma importante virtude. Ela torna-nos conscientes dos nossos deveres para com a terra e o futuro. Leva-nos a perceber os outros, a respeitá-los, a tratá-los com objectividade e tolerância. Torna-nos prudentes e gratos. Ajuda-nos a compreender os nossos erros, a corrigi-los. Ajuda-nos a melhorar as relações entre as pessoas, a melhorar a vida na terra. A humildade é o percursor da esperança.

quarta-feira, agosto 03, 2005

Alma


Além de acreditar que sou uma alma muito antiga, acredito também que só existe uma via: a do amor, manifestado em infinitas formas.
É isso que eu quero que seja o instrumento do percurso da minha alma, de vida em vida, neste percurso em espiral que vai de uno para uno.
Porque na unidade nos reunimos e na diversidade nos manifestamos.
E qual é o objectivo final de todo o percurso vivencial? - A consciência do amor.
O meu corpo, expressão material da minha Alma, nasci para o mundo num dia de verão.
A vida significa tudo o que ela sempre significou, nada foi acrescentado, o fio não foi cortado.
Mas eu não estou longe, apenas irei para o outro lado do caminho. A morte não é nada. Eu sou aquilo que vocês sempre quizeram, pensem em mim. Rezem por mim. Ainda estou viva!...Amanhã estarei noutra vida.
O tempo é o relógio, e a morte uma porta que se abre para vários mundos. Os desconhecidos e misteriosos.
Por vezes estou hipnotizada por mim mesma? Á noite, antes de me deitar, gosto de ficar a olhar-me no espelho grande da casa de banho. Fixo-me sobre-tudo nos olhos, como se quisesse perscrutar o interior, ver para lá daquela figura enigmática a que chamo eu.
Quando me olho no espelho, vou acompanhando, o crescimento da fígura que nele vejo reflectida, aquela eu que tem um nome e uma idade, enganosamente medida pelas divisões convencionais do tempo, como se este fosse a entrada por onde vou caminhando do nascimento para a morte. O meu primeiro contacto com a morte foi aos seis anos.
O tempo é o pulsar da vida e por isso é a nossa respiração que marca a sua contagem, o que existe fora de nós é apenas uma convenção. A noção de que o tempo é uma contagem exterior a nós, a qual nos limitamos a acompanhar enquanto vivemos, fica definitivamente posta em causa. O meu corpo sou eu, mas eu também sou todos os corpos que já tive e irei ter, como na representação de uma peça de de vários actos.
Não sei medir a idade da minha alma, mas acredito que ela contém memórias e ensinamentos recolhidos em vidas, as quais, à escala do tempo medido rectilineamente, ocupam vários segundos de recta.
Acredito que esta alma que me faz felis já tomou forma em vários locais da terra. Memórias sem localização no espaço ou no tempo, mas que sinto vivas, tão vivas, como se estivessem a acontecer precisamente no ponto de recta do tempo onde tenho acesso a este registo.

terça-feira, julho 26, 2005

ROSAS BRANCAS

Apressada, entrei em um Centro Comercial para comprar alguns presentes de última hora para o Natal. Olhei para toda aquela gente ao meu redor e incomodei-me um pouco. Pensei...Ficarei aqui uma eternidade; com tantas coisas para resolver. O Natal já havia se transformado quaze uma doença. Estava a pensar em dormir enquanto durasse o Natal. Aproximei-me o máximo que pude por entre as pessoas que estavam no centro. Ao entrar numa loja de roupas, olhei para o lado...Numa esquina estava uma mulher aproximadamente com 40 anos segurando um lenço cobrindo-lhe o rosto. Não pude conter-me, fiquei olhando para ela fixamente e perguntava-me quem seria aquela mulher que me olhava com tanto apreço. Quando dela me aproximei, ela tocou meus cabelos e os acariciou com muito carinho, Fiquei impaciente? Conhece-me!...
A mulher disse-me baixinho que permanecesse onde estava enquanto ela ia buscar umas coisas que lhe faltavam.
Esperei um tempo , olhando ansiosa - meu coração quase parou de bater a meus pés estava duas rosas brancas.
Emocionada, compreendi o sínal? Minha mãe gostava muito de rosas brancas. Logo dei-me conta de que aquela mulher me era famíliar.
Chorei em silêncio enquanto terminava as minhas compras, com um espírito muito diferente de quando havia começado, não conseguia deixar de pensar naquela mulher.
Mais tarde comprei um ramo de rosas brancas e fui ao cemitério, sei que o corpo de minha mãe já lá não se encontrava, coloquei o ramo numa campa abandonada. Eu chorava e chorava...minha vida tinha mudado desde aquele dia, para sempre.

Gratidão


Uma garotinha de seis anos, loira de olhos amendoados se aproximou da loja de brinquedos da sua rua. E amassou o narizinho contra o vidro da vitrine. Seus olhos amendoados brilhavam quando viu um determinado objecto. Entrou na loja sem ser notada, pegou na caixinha de música que estava à sua frente e, como por magia deu corda e, a caixinha começou a tocar com a bailarina a dançar e, seus olhos sorriam de alegria. O dono da loja ouviu a música e, olhou desconfiado para a garotinha. Que estás aqui a fazer?
Sem hesitar, ela disse!..Só quero ver a caixinha de música a tocar. Desde que morreu minha mãe, nunca mais ninguem cantou para eu dormir.
O homem foi para o interior da loja, colocou a caixinha no sítio e, perguntou? Quando é o teu aniversário? A menina tímida respondeu. Não sei.
Ela saiu feliz saltitando direito a casa. Sua irmã no dia seguinte adentrou na loja, o homem tomou a caixinha, refez o embrulho com extremo carinho, colocou a fita e o devolveu à jovem.
Sua irmã não tinha dinheiro, tinha apenas algumas moedas!... Para poder fazer as suas compras.
No dia do seu aniversário, a menina de olhos amendoados voltou a sorrir! O silêncio e a emoção tomou conta do seu pequeno coração, e duas lágrimas rolaram pela face emocionada enquanto suas mãos tomavam o pequeno embrulho.
Os anos passaram, A menina de olhos amendoados, sempre que pode vai aquela rua, aquela loja. Agradece a Deus e, aquele senhor. Desde então pensa. Verdadeira doação dar-se por inteiro, sem restrições. Gratidão de quem ama não coloca límites para os gestos de ternura.

segunda-feira, julho 25, 2005

FALHAS

Mesmo sabendo que envelheço.
A cada dia, cada ano que passa.
Não esmoreço, nem esqueço o tempo que desliza.
Tudo tem um tempo...Tudo passa.
Renasci...Para o sonho vivido.
Que se fez verdade, num tempo adormecido.
Despertei num amanhã incerto.
Nos braços que não me deste.
Prefiro o relógio da vida.
Que me comanda e marca a verdade

Somos em forma tão diferentes.
Por isso te liberto das correntes.
Que as tuas palavras são a arma.
Dos teus pensamentos, sem bala.
Mesmo quando pensas saber.
De tudo aquilo que magoas, que falas.

Debruço-me sobre o tempo.
Acaricio tuas vontades.
Que me despem da dor e não me dão prazer.
Não quero sentir sombras.
Do nosso amor, que me fez não ser...
Celebrarei sempre, os dias do amor.
Os que foram só nossos.
De que mesmo ainda te amando.
Te amarei sem remorsos.

FEITIÇO

Que meu sorriso mesmo dístante.
Afastem as lágrimas do meu olhar.
A vida me magoou, aprendo a superar.
Procuro meu caminho, um raio de sol.
Eu quero estar lá , meu sonho terminou.
Estou presa na minha solidão.
Juntando pedaços de mim, que caíram no chão.
Não sei, quem sou.
Talvez eu seja uma tola ou santa.
Que acreditei num sonho.
Mas se o tempo - por estranha teimosia.
Se esqueceu de mim, e a dor não passar.
Serei apenas um vulto que foge.
Com uma mão cheia de esperança.


Com um punhado de dor.
E com um bocado do céu.
Esboçarei meu espírito, meu rosto.
Onde outro vulto surgirá.
Sem medo de errar.
Quero abraçar o mundo.
Percorrer minha estrada mal amada.
Hei-de encontrar o caminho perdido.
Recomeçar de novo.
Poder descobrir e acariciar a força que tenho.
Agarrar na mão, mundos distantes.
Poder quebrar o meu feitiço.

quarta-feira, julho 13, 2005

DEUS

Eu aqui sentada o pensamento viaja.
A tarde está linda.
Os pássaros lá fora nos ramos .
Quebram o silêncio, que o tempo separa.
A esperança desliza nas veias.
Alegrias e tristezas habitam o peito.
O sol magestoso se veste de gala.

Além do cantar dos pássaros.
Estou ouvindo algo mais.
Perguntei ao pai:
Como podes saber se preciso de ti.
Tenho a impressão de ouvir a voz do pai dizendo.
Quanto mais vazia a alma, mais barulho ela faz.

A saudade mata o coração.
Ora mergulha no passado.
Ora mergulha no presente.
As estrelas e os pássaros.
Bordam o céu e as suas vestes.
Eu sou o teu Deus.
Domino as estrelas os pássaros e seu canto.
Tu filha minha. Domino teu espírito, teu coração.

Assim . Falou o pai.

segunda-feira, julho 11, 2005

VARANDA

Debruçada na varanda.
O sol seca minha face afogueada.
Vermelha pela ansiedade de te ver.
É tarde.

Fujo, escondo-me de mim mesma.
Tarde linda, céu límpido.
A brisa fresca envolve minha mente.
E arrepia meu corpo e minha alma.
Onde me acarícia docemente.
Lembrando-me. Estou aqui.

Na carícia da Brisa.
Sinto teu toque em meus cabelos.
E de olhos fechados vejo-te.
Conheço tuas mãos tocarem minha face.
Perco-me em pensamentos loucos.
E na beleza da tarde.
Ela ilumina meu sentimento e fortalece o momento.
Deixando brilhar o instante.
Onde marca a sintonia profunda.
Dentro do meu self.

domingo, julho 10, 2005

EXISTIR

Hoje, conheci uma pessoa simpática.Foi bom conversar com ele, por momentos pensei que nossos pensamentos estavam em síntonia. É bom conhecer alguém que conhece nosso espírito logo ás primeiras palavras. É estranho , mas desde há muito tempo que não me sentia tão bem.
Quando deixamos de conversar por medo há um vazio inesperado - o vazio é sempre igual - , mas é justamente nesse vazio que a dor é diferente. Tudo o que não se disse nesse espaço se materializa e se dilata, e continua a dilatar-se. É um vazio sem portas, sem janelas, sem saídas. O que lá fica suspenso fica para sempre, está na nossa cabeça, contigo , à tua volta, envolve-nos e confunde-nos como uma neblina espessa. Olhei o relógio, dezoito horas, está sol e o calor começa abrandar. Fui à janela como procurar algo, no relvado em frente da casa aparecem manchas de relva amarela. Meu olhar parou no horizonte e minhas lembranças voaram como por magia. Tentei desistir dos meus pensamentos, mas não quero fugir à dor. Só a dor faz crescer, dizia, mas a dor deve ser enfrentada cara a cara, quem foge ou se compadece de si próprio está destinado a perder.
Vencer, perder, os termos guerreiros que empregava serviam para descrever uma luta silenciosa, interior. Segundo penso, o coração do homem é como a terra, metade iluminado pelo sol e metade na sombra. Nem mesmo os santos têm luz em todo o lado, como o corpo existe, penso eu, estamos na sombra, somos anfíbios, como as râs, uma parte de nós vive cá em baixo e a outra tende para as alturas. Viver é apenas ter consciência disso, sabê-lo, lutar para que a luz não desapareça, vencida pela sombra. Com estes pensamentos de Domingo, assumo os dias da semana de outra forma, de repente parece haver um caminho de luz à minha frente, já não me parece impossível percorrê-lo. O reino de Deus está dentro de nós, lembra-te? Digo várias vezes esta frase para me impressionar e, tentar viver feliz. O que cresce dentro de mim é apenas uma serena consciência de existir.

sexta-feira, julho 08, 2005

CARTA

Através de um registo encontrado, e escrito em África. Escrevi em nome de minha mãe uma carta, para mim própria. Datada de 1 de Maio, de 1975. Grávida de 9 meses, de meu Filho Paulo. Tinha uma enorme carência afectiva e, precisava de ouvir , ou receber uma carta de minha mãe.


Onde estás tu, meu coração? Aparece que te ponho a salvo.
E agora, coração, onde estás tu? Agora, estás aí, no meio dos caiotes e dos cactos; quando estiveres a ler isto, é muito provável que estejas aqui e que as minhas coisas estejam no sotão. As minhas palavras ter-te-ão posto a salvo? Talves só possas compreender.me quando fores mais crescida, talves possas compreender-me se tiveres feito aquele percurso misterioso que vai da intrasigência à piedade.
Piedade, repara bem, não na pena. Se sentires pena, descerei como os espíritos malignos e dar-te-ei imensas arrelias. Farei o mesmo se, em vez de humilde, fores modesta, se embriegares com palavreados vazios em vez de estares calada. Explodirão lâmpadas, os pratos voarão das prateleiras, as cuecas acabaram em cima do candeeiro, desde madrugada até noite cerrada não te deixarei em paz só um instante.
Não, não é verdade, não farei nada. Se, esteja onde estiver, arranjar maneira de te ver, só ficarei triste, como fico triste sempre que vejo uma vida desperdiçada, uma vida em que o caminho do amor nao conseguiu cumprir-se. Tem cuidado contigo. Sempre que, à medida que fores crescendo, tiveres vontade de converter as coisas erradas em coisas certas, lembra-te de que a primeira revolução a fazer é dentro de nós próprios, a primeira e a mais importante. Lutar por uma ideia sem ter uma ideia de si próprio é uma das coisas mais perigosas que se pode fazer.
Quando te sentires perdida, confusa, pensa nas árvores, lembra-te da forma como crescem. Lembra-te de que uma árvore com muita ramagem e poucas raízes é derrubada à primeira rajada de vento, e de que a linfa custa a correr numa árvore com muitas raízes e pouca ramagem. As raízes e os ramos devem crescer de igual modo, deves estar nas coisas e estar sobre as coisas, só assim poderás dar sombra e abrigo, só assim, na estação apropriada, poderás cobrir-te de flores e de frutos.
E quando à tua frente se abrirem muitas estradas e não souberes a que hás-de escolher, não metas por uma ao acaso, senta-te e espera.
Respira com a mesma profundidade confiante com que respiraste no dia em que vieste ao mundo, e sem deixares que nada te distraia, espera e volta a esperar. Fica quieta, em silêncio, e ouve o teu coração. Quando ele te falar, levanta-te, e vai para onde ele te levar. Eu estarei contigo. Sempre.

quarta-feira, julho 06, 2005

SENTIMENTO

Para não ceder a sentimentos, refugiei-me num mundo muito meu. À noite, na cama escondendo a luz com um pano, escrevia histórias até altas horas. Gostava muito de fantasiar. Durante algum tempo, sonhei que era pirata, vivia no mar da China e era um pirata muito especial, porque não roubava para mim, mas para dar tudo aos pobres. Das fantasias com bandidos passava para as filantrópicas, pensava em licenciar-me em medicina e partir para África, para tratar dos pretinhos. Aos catorze anos, li a biografia de schliemann e percebi que nunca poderia tratar das pessoas, porque a minha única e verdadeira paixão era a arqueologia. De todas as infínitas actividades que imaginei vir a exercer, creio que essa era a única verdadeiramente minha.
Existirá uma fresta por onde possamos libertar-nos do destino que nos é imposto pelo ambiente de origem, de tudo o que os nossos antepassados nos transmitiram pela via do sangue? Talvez. Quem sabe se, a certa altura, alguém não consegue entrever, na sequência claustrofóbica das gerações, um degrau mais alto e com todas as suas forças tentar lá chegar? Quebrar um anel, fazer entrar no quarto um ar diferente, aí teremos o minúsculo segredo do ciclo das vidas. Minúsculo , mas muito fatigante, terrível pela sua incerteza.
Assim, cresci com a sensação de que era algo semelhante a uma macaca que devia ser bem domesticada e não um ser humano, uma pessoa, com as suas alegrias, os seus desânimos, a sua necessidade de ser amada, uma solidão que com o passar dos anos se foi tornando enorme, uma espécie de vácuo onde eu me movia com os gestos lentos e desajeitados de um mergulhador. A solidão também nascia das perguntas, das perguntas que fazia a mim mesma e às quais não sabia responder. Já aos quatro, cinco anos olhava à minha volta e pensava: Porque estou eu aqui? Donde é que vim, de onde vêm todas as coisas que vejo à minha volta, o que há atrás delas, terão estado sempre aqui, mesmo quando eu não estava, estarão sempre? Fazia a mim própria todas as perguntas que fazem as crianças sensíveis quando começam a tomar consciência da complexidade do mundo. Assim foi aumentando a sensação de solidão, para resolver todos os enigmas só podia contar com as minhas forças. Quanto mais o tempo ia passando, mais perguntas fazia acerca de tudo, eram perguntas cada vez maiores, cada vez mais terríveis, ficava aterrorizada só de pensar nelas. Por volta dos seis anos tive o primeiro encontro com a morte.

terça-feira, julho 05, 2005

VENTO

A noite passada, houve muito vento. Era um vento tão violento que acordei várias vezes com o ruído a bater nas persianas. Também velando pelo Fábio, a temperatura não baixava. E pensava. Como as coisas mudam com os anos.
Tenho a impressão de que o uso excessivo da mente produz mais ao menos o mesmo efeito: de toda a realidade que nos rodeia só se consegue captar uma parte restrita. E nessa parte impera muitas vezes a confusão, porque está repleta de palavras, e as palavras na maioria dos casos, em vez de nos conduzirem a algum lugar mais amplo só nos obrigam a uma dança de roda.
A compreensão exige silêncio. Quando era mais jovem, não o sabia, sei-o agora, que ando pela casa muda e solitária como um peixe na sua redoma de cristal. A mente é prisioneira das palavras, o seu ritmo é o ritmo desordenado dos pensamentos; mas o coração respira, é o único orgão que pulsa, e é essa pulsação que nos permite estar em sintonia com pulsações maiores. Há coisas que dóem muito só de pensar nelas. Dizê-las dói ainda muito mais.
Hoje, acordei com um mal estar péssimo! Meu filho cheio de febre pela noite fora. Queria escrever sobre este assunto, mas minha mente não deixava. Quando não escrevo, ando pela casa, mas não encontro paz em nenhum canto. Das poucas coisas que sou capaz de fazer, não há uma única que me permita estar calma, que me permita desviar por um instante os pensamentos das lembranças tristes. Tenho a impressão de que a memória funciona mais ou menos como um congelador. Também as lembranças tristes dormitam durante muito tempo numa das inúmeras cavernas da memória, estão para ali durante anos, durante decénios, durante toda a vida. Depois, um belo dia voltam à superfície, a dor que as tinha acompanhado está de novo presente, tão intensa e pungente como naquele dia, hà muitos anos atrás.
Estou a falar de mim do meu segredo.
Mas para se contar uma história é preciso começar do princípio, e o princípio está na minha juventude, no isolamento um tanto anómalo em que eu tinha crescido e continuava a viver. No meu tempo, a inteligência era um dote bastante negativo para a mulher não devia ser mais que uma égua de criação estática adoradora. A última coisa que se podia desejar era uma mulher que fizesse perguntas, uma mulher curiosa, inquieta.
Por isso, a solidão da minha juventude foi de facto muito grande. Para falar verdade, por volta dos dezoito vinte anos, como era simpática e bastante bem parecida, tinha uma multidão de apaixonados à minha volta. Contudo, mal demonstrava que sabia falar, mal lhes abria o coração e os pensamentos que se agitavam lá dentro, à minha volta formava-se o vazio. Claro que podia calar-me e fingir que era e que não era, mas infelizmente - ou felizmente -, apesar da educação que tive, uma parte de mim ainda estava viva e essa parte recusava mostrar-se falsa.
Mas sou uma simplória, não percebia absolutamente nada do que se passava à minha volta. Havia em mim um profundo sentimento de lealdade e essa lealdade dizia - me que nunca, mas nunca, poderia enganar um homem.Pensava que um dia havia de encontrar um rapaz com quem pudesse falar até altas horas da noite, sem nunca me cansar; falando e falando chegaríamos à conclusão de que víamos as coisas da mesma maneira, que sentiamos o mesmo. Então nasceria o amor, seria um amor baseado na amizade, na estima, não na facilidade da relação amorosa.

quarta-feira, junho 29, 2005

Memória

Eu encontrarei alguma paz nesta vida.
As lembranças estão nas minhas veias.
Por vezes deixo-me ficar vazia.
Gasto meu corpo e meu espírito.
Por uma oportunidade.
Temo minha imensidão.
Das ruínas silenciosas.
Para todo o lugar que me viro.
Existem vampiros nas esquinas.
E a tempestade continua me humilhando.
No muro construido da mentira.
Sonho e invento de tudo que não tenho.
Esta infinita tristeza que me deixa caída.
Quando ainda acredito em doces lembranças.
Na imensidão do meu quarto escuro.
Dos braços frios tento voar para longe.
Escapar de vez da minha linha recta.
Não faz nenhuma diferença.
Eu encontrarei alguma paz..
No meu poema de amor.

terça-feira, junho 21, 2005

Sempre

Eu sei como te amo em sonhos e dias.
Meu amor a vida é como o vento.
Corre e vai-se sem despedida.
O tempo me foge das mãos.
Eu me sentaria à beira mar.
E uma longa carta te escreveria.
Se eu tivesse tempo, realizava repartia.
Para dizer meu amor, és a minha vida.

Eu sei quanto te amo.
E sinto meu ar, meu sangue em ti.
Na perseguição de um sonho, só olharia para ti.
O tempo, esse parece que de nós se desvia.
O tempo é fugaz, este esvai-se.
Deixando apenas meu amor por ti.
Minha poesia é lembrança do que fica.
Meu corpo é teu, e tu viverás em mim.

Para sempre.

segunda-feira, junho 20, 2005

28 de Maio /Secção Casa pia

A maior parte das colegas que lá morreram não foi de fome mas de ódio.
Ter ódio diminui. O ódio mina o interior e ataca o sistema imunitário. O ódio acaba sempre por nos triturar por dentro. Foi preciso passar pelo que passei para perceber uma coisa tão simples.
Lembro- me quando tinha cinco anos de idade , fecharam-me na casa da lenha, os ratos por todo o lado , faziam circulo. Um deles quase roeu meu dedo anelar. Lembro dos meus gritos, ainda hoje os oiço na noite.Lembro-me da cara da freira, tinha os olhos amarelos. É a cor do ódio. Um dia não compareceu na camarata. Soube depois que tinha dado entrada no hospital onde ia ter de permanecer durante um tempo. Já não me lembro do que lhe aconteceu, mas dizia-se que tinha pacto com o Diabo.
Como é possível não ter ódio com tudo o que nos fazem sofrer? Como é possível ser maior, melhor e mais nobre que aquelas carrascos sem rosto. Como é possível ultrapassar os sentimentos de vingança e destruição?
Quando constatei que, eu não odiava, era sempre a primeira a perdoar, e tentar compreender o que estaria por tráz dos actos daquela gente, Havia algumas nas quais era visível o ódio, compreendi que elas seriam sempre as primeiras vítimas. Quem me ajudou a confirmar essa ideia foi Deus, o número 23, era assim que eu o imaginava, dando-lhe esse número. Dizia para comigo que ele se tinha enganado na profissão. Que fazia ele no céu? Devia ser carrasco.
Um dia fiz greve de fala. Mantive-me em silêncio profundo, nem uma palavra. Nem um gesto.
Esse sistema quase as enlouquecia , começavam a bater-me com a regua e a gritar, acompanhada de ameaças e insultos. . Por vezes a dor era difícil . Eu fingia que estava morta,
era eu e o silêncio combinado com as trevas.
Só pedia a Deus luz para poder afugentar aqueles bichos assassinos. Quantas vezes repeti para mim mesma: Estás bem Luisa, mas quiseram matar-te.
Tinha nascido para sevir, para executar qualquer tarefa da mais trivial à mais atròz. Nem um único sentimento. Nem uma única dúvida. Recebia ordens e cumpria-as com a firmesa do metal. Torturavam as opositoras ao regime com cuidado de um especialista. A dor já era minha companheira. Lutava para não cortarem meus longos cabelos louros, era a minha única ligação a mim mesma. Um dia na capela, pedia perdão a Deus em voz alta: peço-te que me perdoes, tenho sido má, terrivelmente má. Cuspia na comida delas, e deitava-lhe areia, desejo-lhes uma morte lenta e dolorosa. Mereço arder no inferno por tudo o que lhes faço. Mas Deus não me castigou. Não me recordo ao certo do dia, sei que era de noite, eu dormia por baixo da luz do Senhor. O tecto caíu por cima de duas colegas minhas, e tudo ardeu. Lembro que elas morreram queimadas. De cima duma janela os bombeiros conseguiram entrar, e mandaram-me pela janela para cima dum lençol.Eu chorei como nunca me lembro de o fazer. Apesar da minha pouca idade, eu sabia que a esperança era uma negação? A esperança era uma mentira com as virtudes de um calmante. Para ultrapassá-la, era necessário a gente preparar-se quotidianamente para o pior. Aquelas que não percebiam isso eram invadidas por um violento desespero que lhes causava a morte. Para me conseguir reerguer...Concentro-me e penso únicamento nas pessoas que amo , e nos amigos. E utilizo todas as minhas forças para Deus.

sábado, junho 18, 2005

Águas correntes

Acordei cedo pela manhã, forçada pelo incessante buzinar de um carro, e esfreguei os olhos, sentindo a regidez do corpo. Não tinha dormido bem, tive pesadelos, a acordar depois de cada pesadelo, e recordar-me de ver os ponteiros do relógio em diferentes posições durante a noite, como a confirmar a passagem do tempo.Levantei-me, e olhei para fora da janela e observei um passarito a pálrar e passeando na relva amarela por falta de água, procurava alimento.Eu sempre fui uma pessoa madrugadora saudo sempre a aurora à minha maneira. Em África, levantava-me cedo para observar o nascer do sol. Muitas vezes tinha de me escapulir de mansinho para o fazer, porque não era permitido, mas nunca fui apanhada. Depois fui tomar banho, precisava sentir água na cabeça, tinha dores, mas precisava de me molhar para alegrar a minha manhã, para observar o começo de outro dia, e conclui que provavelmente sim.
Saí de casa, o ar passava-me frio na pele, quaze áspero, e o céu era uma neblina de cores diferentes: Por causa das longas horas no trabalho, e a vida de certa maneira complicada, fica-me pouco tempo para ir ver o meu tejo. Sentar-me nas suas margens e escrever como era hábito...alguma coisa teve de ser abandonada. Existe algo de especial, quaze místico, em passar a aurora no rio, pensei para mim, e hà muito tempo que não o fazia. Dantes, quando trabalhava em Lisboa, ia muito cedo, e fazia-o quaze todos os dias. Estivesse sol e céu limpo, ou frio ou nublado, isso nunca me importava enquanto movia os remos ao ritmo da música dentro da minha cabeça, era lindo o Tejo, visto da Lapa. Passei a manhã a andar por Mem - Martins. Estava com depressão tinha feito as minhas compras, mas não podia ver sinais de regresso. Suprimi um sentimento de tristeza quanto ao voltar para casa, esperando que o meu humor pode-se melhorar.
Passei diante de uma galeria de arte, quaze não a vendo, concentrada nos meus pensamentos, virei.me e voltei para trás. Fiz uma pausa á porta por um segundo, surpreendida por não ter visitado nenhuma há tanto tempo. Pelo menos dois anos, ou talvez mais. Porque é que as tinha evitado?
Quanto mais pensava naquilo, tanto mais gostava, e admirava porque me recordava o meu próprio trabalho. Talvez eu devesse começar a pintar.
É mesmo quaze meio - dia? Dois minutos mais tarde estava no carro, a conduzir para casa, antevendo o dia, muito triste.

Calculo que tenha de fazer algo especial, para passar bem o dia.

sexta-feira, junho 17, 2005

Pomba

Caído do céu, como uma mensagem ou um engano.Um pombo ou uma pomba caiu em frente ao vidro do meu carro em andamento, e caíra no silêncio da minha espessa escuridão interior. Parei o carro, é uma pomba. Tenho a certeza.
Meus olhos conteram as lágrimas, para mim, era um acontecimento vindo do céu. Eu chorava como faço muitas vezes, quaze nem dou por isso. Era uma crise de dor de momento de muitos momentos. Aconteceu algo que eu não poderia ter previsto.
A pomba voava às cegas, batendo no vidro do carro. Quando caíu, aconcheguei-me a ela e, morreu nos meus braços. Por momentos fiquei feliz como uma criança. Falava com a pomba, dizia-lhe que ela tinha sido um sinal do destino, ou de Deus. Ela veio como mensageira para me salvar e pagou com a própria vida. Enquanto guiava o carro meu pensamento parou em frente a uma menina de oito anos de idade, meus olhos fixaram sua pureza, viram coisas que aconteceram com ela. Recalcada pelos acontecimentos, meus olhos se encheram de lágrimas, minha mente parou...nem reparei que vinha em sentido proibido. Chorei convulsivamente - Ó pomba minha, símbolo da paz e da alegria, se estás aqui hoje é porque Deus teve piedade de mim. A pomba chegara sózinha . Era a pomba do acaso. Ficámos juntas durante uns minutos e, suavemente meti-a dentro dum saco plastico, e coloquei-a no lixo. Vim para casa no meu dia-a-dia. Contudo, pensei. Um dia seria livre como ela e nunca mais choraria.
Hoje , perdi o sentido da minha orientação, vi borboletas a sobrevoarem a morte vestida de branco? Era uma imagem dolorosa. Assim se sucederam outras coisas na minha cabeça.

Obrigado Senhor. Por me amares.

quarta-feira, junho 15, 2005

HOMEM

Desde pequenina, que me lembro de ouvir infinitas histórias sobre o homem.
Então muitas começavam assim...

Homem superior/ Homem vulgar.
Aquele que é um homem superior é o que não perdeu a inocência e a candura da sua infância.

O homem superior pretende que todas as suas acções virtuosas passem despercebidas aos homens, mas a cada dia que passa, revelam-se com maior esplendor; contrariamente, o homem vulgar realiza ostensivamente as acções virtuosas, mas elas desvanecem-se rapidamente. A conduta do sábio é como a água: carece de sabor, mas a todos agrada; carece de cor, mas é bela e atraente; carece de forma, mas adapta-se com simplicidade e ordem às mais variadas figuras.

O que o homem superior procura está em si mesmo; o que os homens inferiores procuram está nos outros.

O homem superior tem o espírito tolerante para todos os homens e não é um partidário; o homem inferior é um partidário que não tem espírito tolerante.

O homem superior compreende o que é direito ; o homem inferior compreende o que quer vender

segunda-feira, junho 13, 2005

JOGO

Ao nascermos e vivermos num certo grupo social, estabelecemos com ele um laço indestrutível. Conforme amamos o nosso pai, a nossa mãe, o nosso irmão, amamos a nossa nação, o nosso partido, o nosso povo. São os nossos objectos de amor primários. E amamo-los mesmo quando não estamos concientes. Só nos apercebemos disso quando estamos longe e sentimos saudade. Ou então, quando são ameaçados ou agredidos.
Há outros amores, os que nos fazem partir para a objectividade, mas muitas vezes por egoismo ou porque nem nos apercebemos disso acabamos por jogar sentimentos, e fazer deles cobaias.
Além disso, a sociedade em que nascemos contagia-nos, enche-nos com os seus conceitos, e os seus valores, os seus tabus, A ética, as concepções com as quais observa e entende o mundo. Por esse mesmo motivo o jogo começa a ser aprendido, e um bom aluno começa a saber jogar também.Fá-lo com a linguagem, com o ensinamento dos pais, com a escola, com as mil experiências de todos os dias que partilhamos uns com os outros. É através da comunidade que aprendemos crenças, valores, medos, lugares - comuns, preconceitos e depois, ódios, amores preferências, repugnâncias. Este tumulto de paixões e sentimentos forja a nossa sensibilidade, a nossa moral, o nosso gosto. A partir deste método o jogo duplo começa, e ninguém quer perder.
Muitas vezes acaba por modelar a nossa maneira de pensar e ferir os nossos sentimentos, até que um deles desista.
O jogo começa forte, enraíza-se na base dos nossos sentimentos positivos e negativos, produz simpatias e antipatias imediatas. Basta um gesto, uma palavra, um símbolo, um canto para desencadear em nós reacções violentas de amor ou de ódio, de aceitação ou de desagrado.
A capacidade de avaliar com um minimo de objectividade é, por isso, uma meta difícil de alcançar. Não se obtém com a espontaneidade, deixando-nos andar ao sabor do vento, e do impulso. A dor essa começa a apertar forte, e contorna nosso espírito , obtém-se apenas com o exercício, do sofrimento e da frustação, destacando-nos do mundo, tomando as devidas distâncias das nossas paixões, dos nossos interesses. Até que consigamos ver-nos e julgar-nos do exterior, como se fôssemos estrangeiros. Até que nos tornemos capazes de olhar o mundo sob o ponto de vista dos outros, com os seus próprios olhos. Não pode haver jogos ou objectividades desleais no amor. Muitas vezes o feitiço pode virar-se contra o feiticeiro.

sábado, junho 11, 2005

ILHA

Os pensamentos que escolho são geralmente as ferramentas que utilizo para pintar a tela da minha vida. Sou muito mais que o meu corpo e a minha personalidade. O espírito interior é sempre maravilhoso e cheio de amor, por mais que queira ser diferente, por mais que a minha aparência exterior mude.
Para mim...Todas as teorias do mundo não têm qualquer valor a não ser que resultem em acção, mudança positiva e, finalmente em cura.
Hoje , meu querido blog estou triste, busco refúgio, dentro de mim . Eu sou a minha ilha pessoal, poderia, também, aparecer como uma ilha subjectiva, que só existe dentro de mim própria, onde posso criar a minha própria imaginação, mas com o mesmo significado e poder. Ou então surgir de uma forma de um sistema filosófico, ideológico ou religioso coerente com a natureza de quem busca refúgio. Buda, num caso agudo de percepção psicológica e espíritual, oferecia a si mesmo e a sua doutrina como ilha ou refúgio para todo o sofrimento causado pela ignorãncia, pelo ódio, pelos apegos.
Nestes dias quando me confronto com a realidade, vivo e luto para sobreviver, aquilo que permite a saída da monotomia do quotidiano,da mediocridade do meio hurbano moderno, das neuroses colectivas, do caos que constantemente ameaça tragar a minha precária individualidade. Através da experiência da minha pequena ilha pessoal aproximo-me da grande ilha impessoal , o self - a ilha sagrada que flutua no mais profundo do meu ser.
Sempre que me lembro do mestre, penso que no mundo há provavelmente mais mestres interessados em ensinar do que alunos capacitados a receber ensinamentos. Há uma lei esotérica fundamental, conhecida como lei da transmissão do conhecimento.Essa lei diz que o conhecimento é material: ele tem um peso, uma densidade, uma substância em tudo análoga à substância material. O aluno precisa do mestre para sair do limbo da própria ignorância, mas o mestre também precisa do aluno, pois sem ele a sua qualidade de mestre perde completamente o significado. Daí a minha grande preocupação, é encontrar alunos capacitados para receber aquilo que eu poderei ensinar sem me julgarem louca. O deserto costuma marcar profundamente aqueles que com ele se defrontam de coração aberto. na ilha, mesmo nesta da memória, recupero o meu eixo criativo. A ilha acolhe-me sempre, e nunca me traiu.

segunda-feira, junho 06, 2005

MUNDO CRUEL

Às vezes, ao invés da esperança.
Fechamos a nossa alma definitivamente.
E bem no fundo da nossa alma.
Colocamos trancas e não abrimos mais.
Finjo não me aperceber da minha clausura.
Da passagem fechada à chave onde ninguém entra.
Daí ter que admitir isso.

Assim acabo, por me acomodar.
E não me abrindo para as pessoas que eu amo.
Porque não quero que ningém invada.
A porta que eu tranquei.
Não gosto que me leiam os pensamentos.
Que saibam quando ando à deriva.
Preciso ter histórias para contar.
Duma existência passada em solidão.
Dum mundo cruel sem limites.
Que me botaram para a vida.
Onde fui capaz de caminhar para a frente.

Um dia, talvez venha a entender.
Que precisei de sofrer várias provações.
E receber alguma recompensa.
É que nada acontece por acaso.

( Ou será que acontece? )

sexta-feira, maio 27, 2005

Deus

A palavra escrita tem um poder enorme e a maior parte das pessoas não faz sequer ideia da sua importância. É como um ritual a esta hora da noite estar sempre sózinha. Eu e Deus.
Onde minha alma não tem limites, e Deus dita suas palavras. Eu escrevo.
Posso criar uma visão do mundo como sendo um local fantástico para se viver, com os doentes a ser curados e os sem- abrigo a ser cuidados. Vejo a doença tornar-se uma coisa do passado e os hospitais transformados em blocos de apartamentos.Observo os presidiários a aprender como amar a si próprios e a ser libertados para uma vida de cidadania responsável.
Presencio as igrejas a retirar o pecado e a culpa das suas dontrinas. Admiro-me com os governos a ocupar-se verdadeiramente das pessoas.
Saio à rua e sinto a água límpida da chuva a cair.Quando a chuva pára, contemplo o magnífico arco-íris que irrompe das nuvens. Aprecio o brilho do sol e inspiro aquele ar fresco e puro. Vejo o brilho e os reflexos da água pura nos rios, nos riachos e nos lagos e atento na vegetação luxuriante, no arvoredo, nas florestas, nas flores, na fruta, nos legumes abundantes e disponíveis em toda a parte.. Deleito-me com as pessoas a curar as doenças, a doença transformada em memória apenas.
Estou neste instante a criar esse mundo, pelo simples facto de canalizar a minha mente para esta visão de um novo mundo. Eu sou poderosa. É importante e tem muito peso. Vivo esta visão. Saio das minhas limitações e faço tudo o que está ao meu alcance para tornar esta minha visão verdadeira. Que Deus nos abençoe. E assim é.

terça-feira, maio 24, 2005

NOITE

Eu caminharei na noite entre silêncio e frio.
Grandes noites escuras me cercam.
Onde sózinha me vi agonizante perdida.
Percorro no vento que me humilha.
De grande solidão e de ecos vagabundos.
Ao lado dos meus passos caminharás.
Eu sigo a estrela que parou em cima.
Onde vejo teu rosto da cor que tem a cinza.
Em cima não vi mais nada que eu amava.
Onde não existe o brilho do sol nem da água.
Pedi às pedras do monte que falassem.
Mas como pedras se calaram.
E uma estrela serena nos cercou.
Para o país do amor nos guiava.
Do frio das montanhas eu pensei.
Minha humildade me cerca me rodeia.
E a pureza das estrelas cintilavam.
E minha solidão me pareceu coroa.
Onde eu vi chegar ao meu encontro.
O teu amor numa estrela iluminada.
Grandes brumas miragens nos mostraram.
Nos confíns desolados caminhamos.
E a estrela do ceu nos embalou.
Onde o silêncio e o medo.
O vulto das árvores, que crescem.
E abraçados caminhamos para as estrelas.
O que se passou depois. Eu não sei...

domingo, maio 22, 2005

A Luz

Olho bem fundo para o centro do meu coração. E penso ...Hoje estou doente, embora meu rosto o transmita, tento disfarçar com carinho, e descubro aquele pequenino ponto de luz brilhantemente colorida. É uma cor maravilhosa. Ela é o centro do meu amor e da minha energia que me dá luta para me curar. Contemplo a pulsação desse pequenino ponto de luz e nesse pulsar, como cresce e preenche o meu coração.Sinto essa luz expandir-se atravéz do meu corpo, desde a ponta dos cabelos à ponta dos pés e à ponta dos dedos das mãos.
O meu corpo reage com esta maravilhosa luz colorida. É o amor e a energia que cura. Entrego o meu corpo a esta vibração da luz. Digo para mim: A cada respiração sinto-me cada vez mais saudável.
Levo esta luz a cada pessoa que passa na minha vida, onde exista dor e sofrimento e que o meu amor, Luz e poder que cura, possa levar conforto a todos os que necessitam.Deixo-me penetrar no cosmos e tento suavizar os corações de todos para que sintam o amor incondicional.
Todos os dias , embora desiludida com o ser humano, guardo o momento para emitir amor e luz e a energia que cura para esse lugar específico no mundo. África do meu coração. Somos nós as pessoas. Somos nós as crianças. Nós somos o mundo e o futuro. Aquilo que damos, volta multiplicado para nós. E assim é.
Não existe força curadora mais poderosa que o amor. Todos os dias da minha vida, doente ou com saude, triste ou alegre...Abro-me ao amor. Vejo-me preenchida de uma forma criativa. Vivo em Deus, em paz e em segurança.